sábado, 25 de novembro de 2017

Gostamos mais de Animais do que de Pessoas?

Pandora
Comecei a pensar neste assunto quando a minha mãe me falou que a Pandora, a cadela, anda com alguns problemas de saúde. Apesar da idade avançada, ainda muito rija anda ela. Mas a minha mãe não quer que ela sofra, e apercebi-me que estaria a falar em eutanasiar a bicha caso perceba que ela vá terminar os seus dias em sofrimento. E depois pus-me a pensar qual seria a pessoa que, por ver um ente querido a sofrer horrores, seria o primeiro a dizer uma coisa destas? Pelo contrário. O que vejo é as pessoas prolongarem o mais possível uma vida humana, mesmo que, muitas vezes só esteja artificialmente viva ligada a máquinas. E porque será então que queremos prolongar ao máximo a vida de uma pessoa, ao passo que com um animal, por mais que gostemos dele, preferimos que não sofra?

Outra situação. Recentemente uma amiga, que sabe muito de animais e que nem sequer ouso questionar os seus conhecimentos, disse-me que dar a pílula a gatas é muito errado pois vai-lhes criar muitos problemas de saúde. Eu nem coloco isso em discussão, mas depois pus-me a pensar: então mas e nas mulheres? Às mulheres já as podemos entupir, mês após mes de pílulas contracetivas, que não lhes faz mal nenhum? Às mulheres, até se aconselha, mal iniciem a atividade sexual a fazer uma consultazinha de planeamente familiar e a prescrever-lhe a píula! Não haverá aqui qualquer coisa errada?

Por último apanhei uma conversa no refeitório da empresa, sobre como os restos de comida não são alimentação saudável para os animais. E na verdade sempre fui ouvindo dizerem isso. Até tenho amigas em que os bichos têm de comer ração de determinada marca senão podem-se sentir mal. Mas, curiosamente, todos os humanos que estavam naquele refeitório, comiam sobras do dia anterior aquecidos no micro-ondas.

E os animais abandonados? Qualquer pessoa que vê um animal na rua, abandonado à sua sorte, de imediato fica com o coração partido e o trás para casa, para cuidar dele. Mas alguém que encontra uma pessoa desnutrida na rua, alguma vez no seu juízo perfeito a vai trazer para a sua prórpia casa? Então por que será que somos tão indiferentes para com o sofrimento humano alheio? O que é que isto significa afinal? Não queremos que um animal sofra em fim de vida, mas ai de quem abra a boca para dizer isso de um filho ou familiar. Ai de quem dê pílula aos animais que é um desnaturado, mas ninguém se importa que as próprias mulheres a tomem toda a vida. E não se podem dar restos de comida aos animais que é errado, mas nós mesmos, animais-pessoas comêmo-los todos os dias. Afinal o que é que isto significa? Que gostamos muito mais dos animais que das pessoas? 

4 comentários:

  1. Olá,
    Tenho pensado muito nisso, de há uns tempos para cá.
    O meu cão morreu com uma injecção no final de agosto para não sofrer mais. Acontece que tenho uma tia de bastante idade, que está a sofrer muito e eu própria já pensei, se não seria melhor ela morrer a estar a sofrer como está.
    Não disse isso a ninguém, porque me iriam criticar e iria chocar toda a família. Acho que ninguém me iria compreender. De que vale prolongar-lhe a vida, se ela está em sofrimento? Para não perderem a reforma dela? Vale isso, o seu sofrimento?

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    1. Olá Amor bom dia,

      Eu não tenho dúvidas que para muitas pessoas que têm os seus animais de estimação (algo que em abstrato eu sou contra ou pelo menos proibia a sua venda) mas não tenho dúvidas que as pessoas que têm animais há muitos anos, têm com eles uma ligação muito maior do que com muitas outras pessoas das suas ligações. E querem o melhor para os seus animais e, não podendo estes manifestar a sua opinião, quando, por exemplo, o "dono" (como se fosse possível um animal afirmar-se "dono" de outro) decide tirar a vida a um animal, toda a gente acha isso perfeitamente normal. Mas será normal? Do ponto de vista da ética, é correto um ser humano tirar a vida a um animal que não foi tido nem achado sobre o assunto? Mas repara que, quando se trata da vontade expressa de um humano que diz "eu quero morrer", outros humanos decidem que "não, tu não podes morrer porque é errado"!! Há aqui qualquer coisa que não faz muito sentido!

      E entretanto já temos uma coisa chamada Testamento Vital, em que já podemos deixar escrito como queremos ser tratados se formos para a um hospital para esperar pela morte... Não sei até que ponto deveríamos já deixar a nossa opinião expressa enquanto estamos no poder das nossas faculdades mentais. Só que, acho que as pessoas, e falo por mim, nem querem sequer pensar que vão morrer, e não irão sequer pensar no assunto. Acho que esse tipo de documento será muito mais procurado por pessoas da religião, por exemplo, as que não aceitam transfusões de sangue.

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  2. Na minha opinião, ninguém tem de gostar mais de uma coisa do que da outra. Pode-se amar ambas, de maneira diferente.
    Eu sou a favor da eutanásia, tanto em animais, como em pessoas.
    Penso que não te cheguei a dizer, mas tive uma das minhas gatas muito mal e estou há um mês em Aveiro sem ver o Pedro e vou ficar cá mais um mês sem o ver por causa da gata.
    Quer dizer que amo mais a minha gata que o meu namorado?! Não.
    Então amo mais o meu namorado do que a gata?! Também não. São amores diferentes, neste momento ele está bem, ela não, então é ao lado dela que eu estou.
    Ponderei eutanasiá-la? Sim. Depois do choque inicial falei com a veterinária e pedi-lhe que assim que ela achasse que não havia mais nada a fazer e se a gata fosse ficar o resto da vida em sofrimento, para me dizer sem rodeios.
    Faria o mesmo por um familiar se fosse possível. Por muito que custe, amar é deixar ir, porque querer o outro mesmo em sofrimento, para mim é ser egoísta.
    De qualquer forma espero não ter de passar por isso, e felizmente com a minha gata não foi necessário, mas já o fiz por dois animais meus e se voltasse atrás faria ainda mais cedo.

    Quanto ao que te disse da pílula, eu mesma deixei de a tomar. Quanto a não dar a animais, agora também me culpo por ser extremista. Pois tenho em casa uma cadela de rua grávida que podia se ter evitado se lhe tivesse dado a pílula um mês ou dois até conseguir esterilizá-la. Tem esterilização marcada para o próximo sábado (se os bebés não nascerem até lá) e o que vai ser feito não é uma cesariana, mas sim um aborto. É correcto? Depende do ponto de vista. Pode ser uma crueldade de todo o tamanho, mas se eles nascerem vão tirar a vez a animais que já existem de serem adoptados. Para além de que até podem ser mal adoptados e sofrerem horrores. Por mais que se escolha, nunca podemos garantir que um adoptante seja excelente.
    Tal como nas mulheres, tenho uma familiar pobre (de dinheiro e de cabeça) que já lhe tiraram 3 filhos e sabes o que ela disse? Podem tirar-me os filhos que quiserem, que eu posso sempre fazer outro! E foi o que aconteceu...
    Nesse tipo de pessoas devia ser permitido que fosse removido o útero. Mas lá está, a esterilização num animal é um procedimento comum, enquanto num humano é uma barbaridade!
    E sim, acho que deviam controlar melhor a questão das pílulas, quer em animais quer em mulheres, não devia ser uma coisa tão banal, mas sim algo a ser evitado, pois há métodos contraceptivos que não obrigam que a saúde da mulher seja prejudicada (porque, lá está, não é o homem que toma a pílula!)

    Quanto à comida dada aos animais, o ideal seria comerem o que comeriam na natureza, ou seja, comida crua. O problema é que não é fácil balancearmos a alimentação de maneira correcta, pois na natureza eles saberiam o que precisavam, em casa quem cuida deles é que tem de pesquisar sobre o assunto, e "raw diet" não é para qualquer um.
    Tal como nós humanos, na natureza, somos capazes de correr para apanhar um porco e matá-lo com as próprias mãos para o comer?! Não. Mas depois de já estar cozinhado no nosso prato já é muito bom. Mas nós não temos garras para caçar, nem dentes afiados para partir ossos, não seremos nós naturalmente herbívoros? Mas o normal é comer carne.

    Tocas-te em muitos tópicos que tinham pano para mangas, mas o melhor é cada um fazer o melhor que sabe e que pode, já é um começo :)

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    1. Olá Sofia, obrigado pela visita e pelo extenso e elucidativo comentário.

      Sim, tu falaste-me acerca dos problemas que estavas a ter com os teus animais (que infelizmente para ti parecem nunca acabar) e como isso implicava estares longe de Lisboa.

      Sobre a questão da Eutanásia para já é diferente quer seja em animais ou com pessoas. Porque com os animais, os ditos "donos" podem decidir livremente sobre a sua vida ou morte; com as pessoas, como não há donos das vidas de ninguém, o que podemos fazer, é votar em partidos que sejam favoráveis à despenalização da eutanásia para que, em determinados casos, muito específicos (não é alguém com vinte anos estar deprimido porque não pode ter uma Playstaytion 4 decidir morrer!) se possa permitir que a pessoa decida, em consciência sobre a sua própria vida, porque, neste momento a eutanásia ainda é ilegal em Portugal.

      E é verdade o que dizes, este texto em jeito de reflexão que publiquei aborda muitos temas diferentes que se interligam entre si. E nesta questão da natalidade, e ainda ontem estive a ver um documentário com ambientalistas, em na conversa aberta que existiu no fim, falava-se da questão de em breve a população mundial passar para os 9 biliões e claro que isso não é sustentável para o planeta, não da forma como estamos a destruir recursos. E não aceitável que quem queira adotar tenha de passar por tantos requisitos e burocracias (apesar de também muita gente não estar preparada para os desafios da adoçao) mas também não é aceitável que as pessoas ponham filhos no mundo sem pensarem se têm condições para os terem, e depois eles andará com ao Deus dará.

      E também sou dessa opinião. Tanto animais de estimação como pessoas, deveríamos todo ter uma alimentação o menos processada possível. Mas às vezes o que ouço das pessoas falarem é que, devemos comprar determinada marca X, que só por ser mais cara, parece que já é melhor. E os cães e gato na natureza não vão fazer compras ao supermercado! Sobre sermos naturalmente herbívoros sinceramente duvido por causa da nossa dentição. Tens alguns macacos que quando a oportunidade surge também espetam o dente em carne. Agora, claro que nós não deveríamos comer nem carne nem peixe todos os dias da maneira que comemos, muito menos deveríamos ter enormes fábricas de carne como temos, em que já fazem mais mal que bem. Aliás, ainda por estes dias vi uma crónica no Guardian que dizia mesmo: "depois de leres isto, nunca mais vais comer frango". Mas no que se refere à alimentação, infelizmente hoje em dia não há por onde fugir. Está tudo contaminado. A soja que as pessoas comem é, tal como também li no mesmo jornal, um belo de molho de herbicidas.

      Mas para concluir, e voltando ao início, apesar de tudo, eu acho que seria "normal" que as pessoas gostassem mais de pessoas do que dos animais. Mas nós temos muitos defeitos que os animais não têm. Os animais são genuínos, nós, ou a maioria das pessoas, faz quase tudo com uma segunda intenção escondida...

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