segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O dogma dos combustíveis

Quando se fala de combustíveis todos têm uma opinião, uns convictamente sabem dizer quais as melhores marcas, outros por outro lado acreditam que é tudo igual, porque afinal, e essa é a única verdade que os consumidores sabem, os combustíveis saem todos das mesmas refinarias da GALP de Matosinhos e Sines.

Todo este negócio se baseia na fé, e enquanto isso, todos são feitos de parvos. Há uns anos, a GALP fazia passar uma publicidade, afirmando que, utilizar combustíveis de marca branca (os tais que saem das suas próprias refinarias!) provocam avarias nos carros! Só que a mensagem parece que não passou, e os postos de combustíveis, que praticam preços mais baixos, como os os dos hipermercados, começaram cada vez mais, a conquistar mais clientes. Então a estratégia da GALP mudou radicalmente para o "se não consegues vencê-los junta-te a eles"! A própria GALP, abriu em Setúbal, em 2010, o primeiro posto de combustíveis de baixo custo, vendendo os tais combustíveis que antes afirmava que provocavam avarias nos automóveis! 

Eu, durante muitos anos tive carros a gasolina, não sou especialista em mecânica e de carros só os sei conduzir, mas não sou totalmente parvo e gosto de analisar as coisas, e como tal, sempre que abastecia comparava o rendimento dos diversos postos onde abastecia. E de facto nunca achei que fosse tudo igual, pois muitas vezes, até o próprio litro parece que é mais pequenino em certas bombas! 

Entretanto em 2008 mudei de carro e passei a usar gasóleo. Ouvi várias opiniões, de gente que supostamente sabia do que estava a falar, e sempre opiniões com certezas absolutas, uns que é tudo igual, outros que não, que não é bem assim. Então resolvi fazer a pergunta na assistência da marca do meu carro. Numa das vezes que lá me desloquei, para fazer a revisão ao carro, perguntei lá a um senhor da Renault: "Ouça lá, qual é a vossa opinião sobre os combustíveis, umas pessoas dizem uma coisa, outras o oposto, qual é a vossa opinião?" O senhor prontamente disse-me: "Nem pense em meter usar combustíveis do hipermercado! Já tivemos um caso, em que um cliente metia desses combustíveis que lhe deu cabo dos injetores e a reparação ficou caríssima!" Ficou mais uma opinião registada, e esta por sinal, bastante avalizada, pois vem de alguém que trabalha diariamente com carros e tem o retorno de toda a informação dos clientes.

SCX.hu
Entretanto no ano passado, chega mais uma opinião, mas desta vez, em jeito de estudo verdadeiramente fidedigno. A DECO, associação de defesa do consumidor, vem dizer que, depois de um estudo exaustivo, em que até comprou vários carros novos para o efeito, que foram conduzidos por profissionais, concluiu que, o gasóleo vendido em Portugal, seja o mais caro (premium) ou o mais barato, é todo ele igual! Nem o gasóleo mais caro faz o carro andar mais quilómetros como promete, nem protege mais o motor, nem que diminui as emissões, nada! É tudo um engodo para levar os consumidores a pagarem mais pela mesma coisa! Sendo assim todos os consumidores poderão ir para tribunal reclamar o dinheiro dos combustíveis premium que abasteceram, e a associação de defesa do consumidor aconselha todos os consumidores a abastecerem no posto de combustível mais barato que conseguirem.

Ora, ouvindo uma associação de defesa do consumidor, afirmar convictamente uma coisa destas, uma pessoa vacila, mas ainda assim eu não decidi passar a abastecer só nos postos de combustíveis mais baratos, fui cautelosamente colocando os ovos em diferentes cestos, e se passo por um posto, seja GALP ou BP que está barato abasteço, se passo por um de marca branca faço o mesmo. O que nunca fiz foi, deslocar-me montes de quilómetros, para abastecer três ou quatro cêntimos mais barato em litro, ou então, como muito boa gente faz, ficar na bicha de um qualquer posto de hipermercado, ali feito estúpido, meia hora com o carro ligado a gastar combustível, só porque é dez cêntimos em litro mais barato!

Entretanto há poucas semanas aconteceu-me uma situação, que me veio mostrar, que se calhar, e ao contrário do que a DECO diz, não será tudo bem "igual ao litro". Fui passar um fim de semana fora, com meio depósito de gasóleo da GALP, e na vinda, ao passar por Aveiro, e como o depósito já estava quase a chegar à reserva, e ao avistar um posto de marca branca, com um preço muito baixo, resolvi parar e abastecer. Coloquei só 20€ e ainda devo ter feito uns 70Km até casa. Quando voltei a pegar no carro, qual não é o meu espanto que, este estava com dificuldade ao arrancar, algo que nunca aconteceu, pior, fazia uma enorme fumarada e o motor estava aos solavancos, e de imediato o computador de bordo sinalizada o erro "verificar injetores". Curioso não é? O mesmo problema que, anos anos, o senhor da Renault me tinha avisado que poderia dar. E como eu não acredito em coincidências, foi fácil retirar uma conclusão desta experiência.

Como já disse, não percebo nada de automóveis, mas a primeira coisa que instintivamente fiz foi, ir abastecer num posto da GALP perto de casa, e até abasteci do combustível mais caro, para misturar com a porcaria do combustível que ainda tinha no depósito, e curiosamente, como que por milagre, o carro deixou de dar os sintomas o que fazia. Vamos ver com a continuação, espero é não ter causado nenhuma avaria grave, mas o que me parece é que, na dúvida, não vale a pena, a troco de poupar uns euros ao fim do ano, depois ficar sujeito a ter uma avaria em que serão precisos milhares de euros para a reparar. 

Nesta negócio dos combustíveis toda a gente goza com os consumidores, mais ainda desde que o Estado decidiu liberalizar os preços, pois antigamente era um preço único para todo o país, o que até era bem mais justo. Agora, além de aumentarem os preços quando bem lhes apetece, se tivermos sorte de viver num sítio onde haja concorrência ótimo, se não, podemos ser explorado, e ter de pagar em média, mais de cinco cêntimos em litro. Depois existem entidades reguladoras, tanto para fiscalizar a mais que evidente cartelização e inflação nos preços (basta ver os preços iguais nas auto-estradas e como sem impostos temos dos combustíveis mais caros da Europa) bem como para fazer testes sobre a qualidade dos combustíveis. Entretanto há um ano veio uma associação de defesa do consumidor afirmar que os combustíveis mais caros são pura aldrabice e são todos iguais.. Esperemos para ver o que vai sair desta enorme embrulhada, mas se alguém vai ficar mal na fotografia, quer-me parecer que nem serão as gasolineiras nem a DECO, parece-me mesmo que quem continuará a ficar mal, e a ser feito de parvo, será mesmo o consumidor.

De qualquer das formas, eu encarei esta situação que se passou comigo como um aviso, e combustíveis de marca branca, nunca mais. 

domingo, 29 de dezembro de 2013

Às voltas com as rotundas

Passava à pouco os olhos pelas capas dos jornais, e na capa do I deste fim de semana vinha a notícia: "circular por fora nas rotundas pode dar 300€ de multa"!


Esta notícia não trás nada de novo, já no verão tinham saído notícias sobre as novas alterações ao código da estrada, nomeadamente a circulação em rotundas, ou, por exemplo, a equiparação da bicicleta a qualquer veiculo a motor. Talvez a novidade aqui no caso das rotundas, seja mesmo o valor da multa. Trezentos euros, por exemplo, é quando se pode pagar por atirar lixo pelo vidro do carro (mesmo que seja uma beata) e não é por isso que as pessoas deixam de o fazer. O simples não sinalizar com pisca uma manobra, pode dar a mesma multa, e como é sabido em Portugal os carros são vendidos sem piscas porque ninguém os usa! E se calhar fazem-no porque nem sequer têm conhecimento da lei, porque as leis estão sempre a mudar, mas na verdade também ninguém é avisado das mudanças. De qualquer das formas acho que se houvesse civismo, não seria precisa uma lei a dizer que não se pode atirar lixo de um carro, nem em andamento, nem parado.

Depois fazem-se leis, que além de ambíguas, acabam por ser contraditórias entre si, o que é fantástico! Senão vejamos. O mesmo Código da Estrada, que diz que os condutores têm que circular sempre na faixa mais à direita, salvo, como é óbvio, em caso de ultrapassagem, vem agora dizer "bom, conduz-se sempre pela direita, menos nas rotundas, dependendo do sítio onde o condutor for sair"!
Um exemplo prático da obrigação de conduzir sempre pela direita são as auto-estradas. Podemos estar a circular numa auto-estrada com dez faixas, que somos sempre obrigados a circular na faixa mais à direita, no entanto é algo que quase ninguém cumpre, aliás, há uma enorme quantidade de gente que faz precisamente o oposto! Prego a fundo e conduz sempre colado à esquerda, muitas vezes a dar máximos!

Mas o que títulos como estes vêm fazer é semear a confusão. Quem lê a notícia fica a pensar que as rotundas agora são para serem cortadas a direito, como fazem a maior parte dos assassinos deste país, o que não é de todo o caso, pois ao entrar numa rotunda, se o condutor for sair na primeira saída tem de se colocar, como é lógico, na faixa mais à direita. E mesmo que só vá sair na terceira ou quarta saída, antes de sair, tem de fazer sinalização de mudança de direção e colocar-se na faixa mais à direita! E suponho eu que ninguém vai ser multado por cumprir a lei, mas o título do jornal dá a entender uma coisa completamente diferente, como se a faixa da direita, a partir de agora, esteja lá mesmo só para fazer feitio!

Fazer leis é muito bonito, muitas das vezes fazem-se só para justificar determinado cargo político, e não propriamente para melhorar a vida das pessoas. Os artistas que fizeram esta lei esqueceram-se de várias coisas. Desde logo, que as pessoas que andam nas estradas, nem sempre conhecem as localidades que estão a passar, logo, conduzem com mais cuidado, tentando muitas vezes procurar placas informativas para onde querem ir. Como é sabido a sinalização em Portugal é completamente deficiente, ou então inexistente! Quantas vezes já me aconteceu entrar numa rotunda e não ter placas com as direções? Imensas vezes! Na maioria dos casos, na falta de qualquer indicação, tenho de dar duas voltas à rotunda, até tentar perceber o melhor caminho para onde ir! Noutros casos é ao contrário, as placas são tantas (e com informações irrelevantes!) que uma pessoa fica completamente baralhada!

As leis sobre as rotundas mudam constantemente, basta lembrar que antigamente quem entrava na rotunda tinha prioridade pois apresenta-se pela direita, e mudam, porque em Portugal, as rotundas, mais do que uma forma de fazer fluir o tráfego, são uma verdadeira fonte de acidentes! Constroem-se rotundas à toa, verdadeiras aberrações sem qualquer critério, como por exemplo, fazer rotundas sem que a estrada tenha qualquer cruzamento, só mesmo para seguir em frente! Na maioria dos casos bastaria sinalizar uma pequena estrada secundária com um sinal de cedência de prioridade ou STOP, mas não, toca a cagar ali mais uma rotunda e enterrar ali umas dezenas ou centenas de milhares de euros!

Mas afinal porque se fazem tantas rotundas neste país? Não é por serem propriamente baratas! Consultei alguma informação (um estudo do mesmo jornal I) e em 2010, nove municípios investiram 2 milhões de euros em nove rotundas!! Não ficam nada baratas a construir, e também não ficam baratas na sua manutenção no entanto não há município português que se preze que não queira ter um montão delas! São João da Madeira, um enorme município com uma freguesia, é a capital portuguesa das rotundas, com umas belas 120 rotundas!

Se não é para poupar dinheiro aos contribuintes, nem para promover a segurança rodoviária, parece-me evidente que é só mesmo para encher os bolsos de muito bom político corrupto e muito construtor civil.


No país das rotundas, eu deixo até uma sugestão. Retirem lá a esfera armilar da bandeira (na verdade já ninguém sabe o que aquilo é nem o que está ali a fazer!) e metam lá uma rotunda! Acho que qualquer pessoa concordará que ficará bem mais apropriado e atual. 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

E não querem também uma fotografia do pénis?

Estava aqui a consultar a miséria das ofertas de trabalho que vão aparecendo, e em duas ou três ofertas seguidas, colocam nos requisitos algo que me deixou de imediato intrigado: "enviar CV detalhado com fotografia". 



Não estando eu a procurar trabalho, nem como modelo fotográfico, nem de passerelle, em que ter uma carita loroca, além da altura, parece que ajuda, não entendo muito bem, como é que estes idiotas conseguem fazer uma espécie de rastreio dos candidatos pelas fotografias recebidas. 

Gostava que alguém, destas áreas do pessoal, da psicologia, ou como agora lhe chamam, dos "recursos humanos" - como se uma pessoa fosse alguma máquina de fazer rolhas para ser um recurso! - me explicassem quais os indicadores que uma cara pode transmitir a uma pessoa que faça o trabalho de recrutamento!

-Será que pela cara se consegue diferenciar a experiência e as capacidades do candidato? Isso vê-se onde?No penteado? Formato do nariz? No tamanho das suiças? Será que a cara do candidato está para o recrutador, como as linhas das mãos para quem supostamente adivinha o futuro pela quiromancia? 

E já agora uma foto dos genitais não? Certo imperador romano passeava-se pelos banhos públicos e observava atentamente os pénis dos homens, e ficou conhecido na história por promover aqueles que tivessem o badalo maior! 

Dias húmidos

Entrou o inverno, chegou a chuva e os ventos fortes, e não se pode pôr um pé fora da porta. Está-se bem é no quentinho, espreitar lá para fora e ver a chuva a cair.

Via Pinterest

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A eletricidade já era!

Hoje, enquanto andava de bicicleta, descobrindo novos percursos, deparei-me com esta imagem. Uma placa, lembrando que a eletricidade já era. Agora a eletricidade que se produz nas nossas águas, gerada pelos nossos ventos, é chinesa!


Por acaso é uma coisa que me faz imensa confusão. Se o Estado somos todos nós, por que raio andam a vender coisas que me pertencem sem me pedir opinião? Pior, vendem e eu não vi dinheiro nenhum! Se calhar devia metê-los em tribunal não?

Altan Urag - Banda sonora Mongol

Apanhei o filme "Mongol - A Ascenção de Gengis Khan" esta semana na televisão. O filme acabara, os créditos começavam a subir, e de imediato aquela música com umas vocalizações numa língua estranha ficou colada na minha cabeça.


Blue Mark

1. The blue sky in my land
    The golden sun forever rising
    The hills and vast valleys
    Four directions and eight corners
    Mighty mountains of Altai and Khangai
    The Empire of Outer Mongolia
    Under the name of Mongolia
    A true story of eternal prosperity
    The great Mongolia immortilised throughout
    With its great emperor Genghis
    Well known as the great sky
    The Mongolian nation with roaring hooves.

 2. Forever worshipping the fire and water
    And respecting the Earth
    Originated from the royals
    Eternally renowned, my Mongolia.
    Throughout its vast steppe exists
    Beautiful sound of Morin Khuur[i] strings
    Chorus supporting the long song[ii]
    Melodious singing for the race horses.
    The nation with luck and blessings
    Founded by Genghis Khan
    With history and culture of a thousand years
    The blue Mongolians descended from the sky.

3. Mother Hoelun’s[iii] kind teachings,
    Vertical script of ancient wisdom,
    Spacious vast steppe
    Cherished by our ancestors.
    From generation to generation
    Khar Khorum[iv] was our dwelling
    The Mongolian nation of this time
    Inherited this motherland.
    Blessed with having
    The sun, rising in the morning
    Born the Mongolian fate, eternal
    Inheriting the custom and tradition.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Educar uma geração de incapazes

Há algo de muito errado quando vejo papás levarem os filhinhos pela mão à escola e quando as crias são já maiores que os próprios progenitores. Ou então, as mamãs, irem buscar verdadeiros marmanjões à paragem do autocarro, retirarem-lhes a mochila, e elas mesmas a carregaram, para que o marmanjo não se canse muito, pobre coitado.

Sinceramente não sei se os pais têm noção do ridículo da situação. Em toda a natureza só encontro mesmo paralelo com os pais adotivos do cuco, que continuam ingenuamente a alimentar uma cria como sendo sua, nem sequer estranhando, que esta cria diferente, tem duas ou três vezes o tamanho deles!

Nunca passei por essa tarefa, mas estou perfeitamente ciente que, educar não será algo fácil. Mas é interessante observar que muita coisa mudou desde os tempos dos meus avós até aos dias de hoje. Nos meados do século passado, quantos mais filhos melhor, eram uma força de trabalho, as condições de vida eram miseráveis, mas curiosamente bastava só ao homem trabalhar para ganhar dinheiro para se construir uma casa e sem se precisar de ficar amarrado a um empréstimo até morrer. 

Hoje em dia, na maioria dos casos, trabalha o homem e a mulher, e os dois juntos mal conseguem ter dinheiro que chegue para pagar as contas e fazê-lo esticar até ao fim do mês. Se no tempo dos meus avós se tinham verdadeiros ranchos de filhos, hoje em dia tem-se um ou dois no máximo, e já se vê muita gente, muitas mulheres até, que não querem ter filhos. Suas hereges!

Nos tempos idos, educava-se muito na base da disciplina, em muitos casos até, na base do medo, do cinto e do pau de marmeleiro. Ninguém ousava tratar os pais por tu, havia uma hierarquia muito bem definida e o respeitinho, ainda que aparente, era muito bonito. Os filhos eram criados e educados pelas mães que cuidavam da lida doméstica, e em muitos casos, também pelos pais bem de perto, pois grande parte das pessoas vivia do que a terra dava. Cedo, as crianças começavam a trabalhar também com os pais e diziam-se coisas como "é de pequenino que se torce o pepino" ou "o trabalho de menino é pouco, mas quem o despreza é louco".

Entretanto, depois de cinquenta anos de ditadura,  as coisas começam a mudar e mudaram rápido demais sem que as pessoas se dessem conta. As mulheres passaram a deixar de lado as contas dos dias férteis, que muitas vezes davam errado, e apareceu a pílula. A Igreja estrebuchou mas teve de engolir em seco, pois agora os bons cristãos começaram a crescer, mas a multiplicar-se só quando queriam. A mulher começou a sair de casa, deixar de ser boa esposa e fazer o que o marido mandava, tal como diz a palavra de deus, e começou a ser independente. Se foi a melhor evolução, não sei... mas sei é que, hoje não são os pais que educam os próprios filhos e tem de haver algo muito errado nisso.

Ter morado sempre na mesma aldeia, permite-me olhar para trás e comparar como são hoje as coisas. Até aos seis anos pude brincar livremente. Não tive ama, creche, atividades de ocupaçao de tempos livres. Os tempos livres eram ocupados a aprender com os pais e a brincar o dia todo na rua com os vizinhos.


Aos seis anos fui para a escola primária. A minha mãe levou-me à escola sim, no primeiro dia. Depois, passei a ir todos os dias para a escola, a pé, atravessando inclusive um monte, usando um quase caminho de cabras. No primeiro ano ia com a companhia do vizinho, no ano seguinte os pais mudaram-se e passei a ir sozinho.

Hoje em dia, e a crítica vai para as pessoas da minha geração, os pais quiserem ser os melhores amigos dos filhos. A hierarquia inverteu-se. Agora são os pequenos fedelhos que mandam nos pais. Os pais, como tenho um exemplo bem ao lado de casa dos meus pais, deixam de comer para que a fedelha possa estar num colégio privado, e possa vestir tudo de marca, só para que não seja diferente dos outros, dos fedelhos aparentemente ricos. É curioso que as pessoas são pobres, pior, toda a gente sabe que têm dívidas de milhares de euros no prego da mercearia, mas longe da aldeia, no colégio da fedelha, aparentam que são ricas! E as crianças têm de ter tudo o que os pais não tiveram, porque senão vão ser umas crianças traumatizadas para o resto da vida!

Hoje em dia, na mesma pacata aldeia, onde nada se passa, tal como há trinta anos atrás, olho para os pais que têm agora agora a minha idade, que tiveram infâncias tal como a minha, e vejo a forma como tratam os filhos. Questiono-me se, este tipo de comportamento de irem levar e trazer os filhos à escola, fará deles no futuro, jovens mais confiantes, ou se pelo contrário, estão a criar uma geração de incapazes.

Será que aos quinze anos também ainda lhes apertarão os atacadores? Será que os filhos com essas idades ainda pedem aos pais para lhes irem limpar o cu? Será que as pessoas não percebem o ridículo de terem de ir com as crias pela mão quando estes vão a uma entrevista de emprego, como já tive conhecimento?

Há poucas semanas, num dos muitos documentários que vou vendo, observei uma experiência muito interessante. Pegaram em dois pássaros da mesma espécie e puseram-nos perante o mesmo problema para tentarem descobrir a melhor forma para conseguir a comida. Um, de um clima adverso, que enfrentava os rigores do inverno, e outro, que que vivia numa região bem distante e com um clima muito mais favorável. Na mesma experiência, o pássaro que enfrentava os rigores do clima, como tinha de enfrentar as dificuldades para procurar alimentação, na experiência, rapidamente solucionou o problema e descobriu onde estava a comida. O outro, que nunca teve dificuldades em obter comida sem esforço, ficou a olhar para o mesmo desafio, como um burro a olhar para um palácio e nada de descobrir onde estava a comida.

Será que manter os filhos protegidos do mundo exterior, numa verdadeira estufa, é contribuir para que, quando tiverem de enfrentar climas adversos estejam melhor preparados? Não me parece. Parece-me o contrário, que estão todos a criar uma geração que incapazes que nunca conseguirá limpar o cu sozinho.

Taxa de rambóia

Quando a realidade se aproxima perigosamente da ficção.


domingo, 15 de dezembro de 2013

Há solução mas não há jagunço

Na sexta-feira, apanhei já a meio, "A solução" dos Gato Fedorento para salvar o país das garras dos opressores. Os rapazes trazem de novo a figura brasileira do jagunço, que todos ficamos nas novelas brasileiras dos anos setenta e oitenta. Mas o jagunço não é propriamente aquilo que os quatro humoristas nos mostraram neste primeiro episódio depois de quatro anos só a fazer publicidade. Na rábula foram recrutar uma personagem americana dos filmes de ação, e propuseram-lhe, a troco das melhores iguarias do país, acertar o passo aos membros do governo.

Zeca Diabo: Cangaceiro e Matador

O escolhido para mercenário foi Steven Seagal, o quase sempre herói improvável, que nos filmes de porrada, que com uma simples toalha e uma bola de bilhar aviava dezenas de gaijos. Mas lá está, a meu ver poderiam muito facilmente ir buscar Lima Duarte que interpretou o mítico Zeca Diabo que em O bem Amado, que acaba mesmo por assassinar o prefeito Odorico, o político corrupto de Sucupira. Seria sempre uma opção mais coerente com a terminologia usada e uma personagem mais conhecida do público português. E esta ideia, esta "solução" que o gato mal cheiroso trouxe para o país sair da crise, acertando o passo à canalha que  nos governa, também não é nenhuma novidade. O próprio ancião Soares, de vez em quando faz uma pausa na sua longa sesta e vem dizer precisamente o mesmo, que por muito menos, enfiaram uns balázios no D. Carlos.

E o que o homem pretende, não é para o governo mude a sua política. Ele vem é precisamente espicaçar a pasmaceira em que vivemos, e ver se há alguém com tomates (ou ovos) suficientes para fazer o trabalhinho de jagunço que tem de ser feito.

Mas por outro lado é preciso muito cuidado com os mártires. Em Sucupira, Odorico, o governante corrupto, ensaiou a sua própria morte - e até ia morrendo mesmo! - mas acabou por sair da campa ainda mais revigorado do que estava antes. O povo português é burro, inculto e não tem memória, e se por algum acaso acontecesse mesmo alguma coisa aos nossos pequenos ditadores, no dia seguinte, estavam todos a chorar a sua morte.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Governar para os animais

Apesar de nos últimos anos andar fugir dos telejornais e da política como as criancinhas fogem do colinho dos padres, tenho constatado, com curiosidade, que as cavalgaduras que relincham nos partidos, andam cada vez mais preocupados com os animais que esperam governar.
Pensando bem, isto é capaz de fazer algum sentido, pois, se os políticos tratam as pessoas abaixo de cão, convém mostrar, ainda que aparente, alguma humanidade com alguma coisa. 

Nos últimos anos até se criou o partido dos animais e da natureza que concorreu às últimas legislativas, mas que infelizmente não elegeu nenhum animal para o parlamento. Se já há muito que existia o partido da defesa do ambiente e da ecologia, conhecido por Verdes, agora temos outro partido que coloca o seu enfoque nos animais. E se os Verdes são comunistas, este novo partido é azul. Talvez busque novos tachos para animais, mas só os de raça, com pedigree,  nada cá de rafeiros no parlamento.


Recentemente chegaram-me ecos de uma notícia que a super-ministra-chocadeira se preparava para mudar uma lei qualquer de limitação de animais em casa, enquanto que por outro lado deixava cair a multa para quem os abandonasse e maltratasse.  

Por estes dias foi o PS. Ao que parece, depois de terem acabado com a lei que metia três anos na cadeia qualquer mulher que abortasse, quererem agora meter na cadeia durante os mesmos três anos, quem maltrate os animais. Tenho para mim que isto será já uma medida de combate ao desemprego. Ora, com o enorme abandono e maus-tratos que os portugueses dão aos seus animais, se forem enjaular três anos quem o fizer, por certo, que de imediato, se acaba com o desemprego no país. Seguramente que está muito bem visto. Têm é depois o problema da sobrelotação nas cadeias, mas isso agora não interessa nada!

Toda esta recente compaixão dos políticos portugueses pelos animais, de repente, faz-me lembrar de um grande político e estadista, e exemplo de grande humanidade. Hitler, que como é sabido, além de ser vegetariano - porque isto de comer carne é uma coisa muito sanguinária! - ficou também conhecido pela sua paixão pelos animais.

Imagem via SCX.hu

Sobreviver aos sites de vendas em Portugal

Há muitos anos que faço compras na Internet. Terei chegado aos sites de leilões poucos anos depois de ter descoberto a própria Internet, ali pelo fim do milénio passado. Em Portugal aparecia o Miau, o primeiro site de leilões, em que qualquer pessoa podia colocar à venda qualquer coisa que tivesse em casa e se quisesse desfazer. O site possibilitava que o artigo pudesse ser visto por interessados, e em troca cobrava uma comissão de venda.

A confiança das pessoas em tal plataforma começava desde logo no registo. Qualquer pessoa que se registava só podia ativar a sua conta depois de receber um código que vinha pelo correio, comprovando que morava efetivamente na morada fornecida. E depois a confiança para comprar baseava-se na reputação dos vendedores que ia sendo criada porque cada comprador, no final da transação, descrevia o quão satisfeito tinha ficado com a negociação. 

Internacionalmente tudo começou com o Ebay, e depois, muitos outros sites proliferaram como cogumelos em cada país, tal como o Miau havia feito em Portugal, na tentativa de ter o sucesso e retorno financeiro que o pioneiro conseguiu ao longo destes anos.

Mas se hoje estamos habituados à facilidade e à, ainda que aparente, segurança de fazer transferências bancárias com o Paypal ou com o português MBNet, no início do milénio esqueçam lá isso! Para quem não tinha cartão de crédito, ou tinha mas não queria dar os seus dados, as alternativas eram poucas. Ir ao banco fazer uma transferência internacional era impensável, pois as comissões cobradas eram altíssimas. Restava então uma solução, se calhar com esta distância olhada com muita desconfiança, que era, enviar o dinheiro escondido por carta. E eu usei inúmeras vezes esse método, e correu sempre bem, apesar de claro, implicar a demora do envio. Mas o que interessava era que o vendedor recebesse o seu dinheiro, e na volta, eu recebesse a encomenda.


A minha reputação de arriscar em compras na Internet era tanta, que inclusive, chegaram a apelidar-me carinhosamente de "cigano cibernético"! E isto porque nesses tempos, além de comprar artigos para mim, cheguei a comprar imensa coisa em sites estrangeiros que depois acabava por revender no equivalente português com uma boa margem de lucro como convinha.

A maior compra que fiz, creio ter sido um computador portátil, que comprei para mim. Na altura, um computador portátil era caríssimo, rondava os 1500/2000€ e acabei mesmo por vencer um leilão no Ebay, em que comprei um portátil IBM recondicionado, igual a novo, por cerca de 200€. Claro que ainda paguei os devidos direitos alfandegários, mas com todas essas despesas a coisa deve ter ficado ainda por menos de 300€, cerca de um décimo da compra de um equipamento novo em Portugal.

As coisas corriam bem para toda a gente, e o Miau imbuído da ganância de querer matar a galinha dos ovos de ouro, resolve começar a cobrar, tal como já o Ebay fazia, taxas de colocação dos anúncios, e de imediato colocou um travão nas pessoas. É que a partir de determinado momento, as pessoas poderiam estar a pagar para nada, pois ninguém poderia garantir que determinado artigo, muitas vezes até específico, poderia ser vendido no prazo de colocação do anúncio. Podem-me dizer que o Ebay continua a fazê-lo. Sim é verdade, mas não para todos os valores, e depois não esquecer que este site é global e permite imensas visitas de interessados de todo o mundo, ao passo que qualquer plataforma portuguesa permite unicamente meia dúzia de visualizações.

Se durante vários anos o Miau teve o monopólio dos leilões em Portugal, o maior concorrente chegou em 2007. O Leilões.net, era basicamente uma cópia do Ebay para português, mas sem as comissões abusivas do Miau mas também sem o mesmo rigor diga-se. E rapidamente surgem também muitos outros sites de classificados, sem a vertente  de leilão, como o OLX, Standvirtual ou Custo Justo só para citar os mais conhecidos, mas orientados exclusivamente para o negócio em mãos. E é fruto de ter dado vários tiros nos pés, e de não se ter adaptado ao mercado concorrencial que o Miau acaba mesmo por fechar portas em setembro deste ano.

Nos dias de hoje, eu continuo a comprar e vender em sites portugueses, tanto de supostos leilões, como nos de classificados. Supostos leilões, porque colocar um artigo com valor fixo à venda não é nenhum leilão. Um leilão é colocar algo à venda por um valor bastante baixo, e ver depois o valor subir fruto das diversas licitações de quem está interessado.

Arrisco-me mesmo até a dizer que, infelizmente, os sites de leilões em Portugal morreram. O Leilões.net acabou por se fundir com o Coisas e ficar numa coisa sem nenhuma utilidade para quem vende, pois há muito que as visualizações dos anúncios desapareceram.

Agora o que está a dar nos últimos anos, são os sites de classificados, que devem faturar muito bem, tal é a publicidade gasta, tanto na Internet, como a paga a peso de ouro na televisão. É o que está a dar mas infelizmente fomos de cavalo para burro.

Desde logo porque orienta as vendas exclusivamente para o domínio local, uma vez que não garante qualquer segurança no registo dos utilizadores nem disponibiliza um histórico da reputação dos vendedores. Logo, sem reputação, podemos estar a comprar a uma qualquer pessoa mal intencionada que encontra ali um bom sítio para, livremente, fazer os seus esquemas.

Depois as vendas na Internet generalizaram-se e isso nem sempre é bom, visto a ignorância no nosso país impera. Neste tipo de sites chego a ter dezenas de contactos de pessoas, supostamente interessadas em comprar o que tenho para vender, mas depois concluir o negócio que é bom, nada. Encontra-se de tudo. Gente que quer que eu envie o artigo e só pagar depois - era bom não era? -  gente a quem dou o NIB para pagamento e depois nunca mais dizem nada - tenho um artigo que sem exagero já o vendi umas dez vezes e continua a ser meu! - gente a fazer todo um rol de perguntas idiotas, outros que querem que me desloque dezenas de quilómetros para entregar o artigo em mãos. Tive até um sujeito que me disse que pagava com "notas"! Esta foi original, deve andar a ver muitos filmes americanos, mas no fundo não sei como é que pensa que as pessoas me costumam pagar, pois, para já, não aceito pagamentos em géneros!

Mas se para vender é um martírio até encontrar um comprador minimamente decente, para comprar, que é o do interesse das próprias pessoas para fazerem dinheiro, enganam-se se pensam que é mais fácil!
Desde logo porque, ou as pessoas são verdadeiramente ignorantes, algo que não acredito de todo, ou então querem fazer dos outros parvos. E vem isto a propósito dos preços praticados. Quando se fala em sites de vendas de usados, as pessoas pensarão desde logo em comprar algo em bom estado e a um preço vantajoso certo? Errado! Não faltam artigos usados, vendidos a preços bem mais caros que novos!

Mas se muita gente não tem a mínima noção do preço que está a pedir, depois quando encontramos um artigo a um preço que consideramos justo ainda temos de levar com a incompetência de quem vende. Ainda há meses tentei comprar um equipamento de jardim, e só mesmo à terceira tentativa é que consegui! O primeiro disse-me que ia ver por quanto ficavam os portes de envio - e ainda deve estar nos CTT até hoje! - e a segunda pessoa, dias depois de termos acertado o negócio, envia-me um e-mail dizendo que tinha acabado de vender o artigo a uma pessoa de família!

Em Portugal é esta realidade que existe, temos estes sites com este tipo de oferta, que estão mais preocupados em fazer milhões do que propriamente interessados em prestar um bom serviço. É certo que ainda é possível concreteziar bons negócios e conhecer muita gente séria, mas é também preciso ter uma enorme dose de paciência e cautela, até porque, basta fazer uma pequena pesquisa para encontrar muitos relatos de fraudes.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Voar baixinho

Hoje de tarde peguei no carro e pensava como naquele momento poderia estar a perder a minha virgindade aérea. Poderia estar a atravessar o Atlântico e a aterrar em terras de sua majestade, mas não, estava ali, ao volante, tendo provavelmente muito mais probabilidades de morrer de acidente, ou de outra coisa qualquer na cidade, do que propriamente a probabilidade da maquineta diabólica voadora se partisse ao meio e fosse parar a uma ilha deserta!

Ainda me lembro, como o meu avô, com um sorriso nos lábios,  me contava que, afinal, andar de avião não custava nada. E se calhar não custa mesmo...


Mas cá para mim estou com'ó outro que disse: "há duas espécies de homens: os que têm medo de viajar de avião, e os que fingem que não têm medo".

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Mortos pagam parquímetro

Eu, que não sou cristão, muito menos católico-apostólico-hipócrita-romano, nem sempre estou a par das novidades que vão acontecendo aqui nas paróquias das aldeias. Mas, por estes dias, tomei conhecimento que a paróquia vizinha, que até tem o mesmo padre daqui, regressou às verdadeiras bases do verdadeiro espírito católico e tomou uma medida verdadeiramente empreendedora.
Empresários: ponham os olhos nisto!


Então não é que decidiram criar parquímetros para os mortos? A ideia deve ser a seguinte, se um carro tem de pagar para estar estacionado, por que não um morto, que está na casa mortuária, que fizeram - convenientemente - dentro da igreja, não há-de também ele pagar por estar ali a ocupar espaço?

Estou em crer que desde a bula da indulgências, que basicamente mais não era que oferecer o perdão dos pecados em troca de bom dinheiro - para Deus claro, que a vida está cara e Deus também deve ter imensas despesas! - que a igreja não tinha ideia tão brilhante!

E a brincadeira não fica nada barata como convém! Cada morto paga 70€/dia!
Um carro se ficar 24h na zona mais cara do Porto, que é 1€ à hora, paga das oito às vinte 12€/dia. Um morto que ocupa bem menos espaço que um automóvel, paga quase seis vezes mais!

A igreja católica sempre na vanguarda do capitalismo.

Imagem via SCX.hu

Celibato e crise dos sete anos

Há datas que se calhar não me importava nada de esquecer, mas sabe-se lá porquê, acabo sempre por me lembrar.
Este fim-de-semana, dei por mim a pensar, que faziam precisamente sete anos, desde que, do ponto de vista das relações, passei de trabalhador com contrato sem termo, daqueles contratos de trabalho que já não se usam, pois como se sabe, já não existem empregos para toda a vida, para trabalhador por conta própria.
Sete anos é muito tempo, refleti. Logo sete, o número místico associado a tudo e mais alguma coisa, e também associado à crise dos sete anos nas relações amorosas.
Ò diabo, pensei eu. - Será que existirá também tal coisa no celibato? Será que em breve sentirei uma vontade incontrolável de, por um lado, abandonar a tranquilidade do celibato, de sair com quem me apetecer, de não ter de dar explicações detalhadas de onde fui, com quem estive, e de quantos peidos dei, para de repente, querer encontrar de novo a tal pessoa para todo o sempre? 



É curioso como neste fim-de-semana estive com uma amiga, com quem já não estava há uns meses. Há que pôr a conversa em dia, e, conversa vai, conversa vem, ela, que também está em retiro celibatário há já uns anos (apesar de sofrer investidas constantemente) diz-me que não está nada para aí virada, e pior, diz-me que no seu círculo pessoal, não conhece um único casal fiel! E que não deixa de ser irónico que, sendo amiga de duas pessoas de um casal, e conseguindo ouvi-las individualmente, sabe que ambos mijam fora do penico.
Será que isto acontece por pressão social? A pressão invisível para se ter um comportamento socialmente aceite, de ter uma pessoa ao lado, nem que seja só para apresentar aos pais e aos amigos? Será que a imagem de sucesso para as pessoas, é ter uma relação de aparente felicidade, ainda que seja mesmo só aparente para os outros verem, quando na realidade ambos os elementos do casal andam a foder que nem martas, com outras pessoas?

Não sei. Eu por mim não sinto qualquer pressão social por ser o único solteiro da minha rua! O que tiver de acontecer acontecerá.

E já agora, se querem continuar a usar o sete para definir a crise nas relações - não seria melhor, assim de repente, mudar de sete anos para sete meses?

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A verdadeira prioridade

Quando no sábado à noite cheguei ao quarto da pensão e fiquei a saber pelas notícias, que o FC Porto havia perdido em Coimbra contra a Académica, de imediato questionei-me sobre como seria recebida a equipa quando chegasse a casa. No dia seguinte, os adeptos do clube azul e branco davam razão à minha suspeita. A RTP abria o noticiário das oito da manhã, com a notícia que, duas centenas de adeptos tinham esperado pelo autocarro da sua equipa, e além de insultos e pontapés ao autocarro, foram ainda atiradas tochas e petardos num cenário de grande violência. Violência bem maior note-se a ironia, do que qualquer manifestação que tem sido feita nas escadas do parlamento.

Não era preciso ser-se um Zandinga do futebol, para adivinhar o que ia acontecer, porque contrariamente ao que se pensa, os portugueses não são uns cornos-mansos, que calam baixinho quando são espoliados na sua dignidade. Nada mais falso. Quando as circunstâncias são verdadeiramente importantes, as pessoas estão lá, a manifestar-se, protestando violentamente e a incendiar as ruas se for preciso como não queria este governo fascista.


Mas o povo é inteligente e as pessoas sabem muito bem separar o que é realmente importante do que é absolutamente acessório. O que é que são roubos nos salários, roubos nos direitos inalienáveis das pessoas como o ensino, a saúde ou a justiça, ou constantes violações dessa coisa lá da Constituição, que ninguém sabe lá muito bem o que é, comparado com o que verdadeiramente interessa? O que verdadeiramente interessa à grande generalidade dos portugueses é o futebol, e aí sim, quando as coisas não estão bem cuidado - tenham medo! - pois é ver os adeptos que sofrem da bola manifestarem-se violentamente como se viu sábado passado em frente ao estádio do Dragão.

Os portugueses, e em particular os portuenses, não se vão manifestar contra coisas insignificantes, por exemplo, só porque as pessoas do grande Porto, durante um ano, foram as únicas no país a pagar as SCUT. Ficaram um pouco descontentes sim, mas porque queriam pagar e não conseguiam, uma vez que a loja da  Via Verde em Fernão Magalhães, não dava vazão às enormes bichas de gente que queria comprar o identificador e não conseguia!


Agora o futebol sim, é algo verdadeiramente importante e prioritário na vida das pessoas. Tão importante, que qualquer descontentamento pode levar a que se vá destruir as casas do clube rival, fazer-se esperas ao autocarro da equipa se esta não ganhar, ou apedrejar o do clube rival, ou até agredir alguém, só porque está vestido com as cores doutro clube qualquer.

Que se decretasse o fim do futebol e todos veriam uma verdadeira guerra civil nas ruas. Agora não esperem é que as pessoas se manifestem por coisas insignificantes pá!

Imagens  via SXC.hu

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Amar a sério

Ontem à noite, depois de jantar, apanhei na RTP uma reportagem que pretendia dar uma ideia de como se vive a sexualidade em Portugal nas diferentes idades, e que abordou até junto de uma investigadora que se dedica a estudar estas coisas "chatas" do sexo, quais os fatores recentes que contribuíram para uma mudança de comportamentos. Explicou a senhora que identificou três  fatores: O "25 de abril", as telenovelas brasileiras e a Internet. Mas quase nada do que foi mostrado ao longo da reportagem me surpreendeu, nem mesmo o facto de em 1960 só 1,1% dos casamentos dar em divórcio, ao passo que em 2012 subiu para os 73,4%!

O que me chamou realmente a atenção, foi quando a jornalista, vestindo a pele de Carrie Bradshaw do Sexo e a Cidade deixa a pergunta: "Mas haverá quem faça da traição uma forma de manter o casamento?" 
E então entrevista uma senhora que, com a cara oculta por uma planta e voz modificada, e já com idade para ter juízo e saber bem o que quer - também se não é depois dos cinquenta nunca mais seria! - começa logo por esclarecer muito bem as coisas para que não hajam dúvidas nos telespetadores: "Eu amo o meu marido. Mas amo-o a sério!" Claro que ama, aliás, quem sou eu para julgar quem quer que seja, ainda para mais uma pessoa que desconheço, mas quis-me parecer que a senhora ao afirmar o que disse, quer antes de mais convencer-se disso a si mesma, para que continue tudo bem na sua cabeça. Aliás, não deixou de ser até caricato que, depois ter ter afirmado solenemente que o ama, seguidamente explica todas as razões do seu descontentamento para o trair! Mas ama-o a "sério". Claro.


E de seguida abordou-se um desses sites que se dedicam a permitir o contacto entre pessoas casadas que querem dar umas trancadas mas sem ninguém saber, como aliás convém para manter as aparências da boa moral e dos bons costumes. E a tal senhora que ama o marido "a sério", acaba por confessar que se apaixonou por uma pessoa que conheceu no tal site. E isto não deixa de ser curioso, pois recentemente conheci dois casos em que me disseram "Ah, eles conheceram-se num site de sexo, deram umas trancadas e depois começaram a namorar". E isto deixa-me realmente a pensar.

Depois a senhora, volta a meter os pés pelas mãos referindo que "todas" aquelas pessoas que estão naquele site "não precisam pagar para ter sexo", quando a jornalista anteriormente tinha dito que os homens pagam 30€/mês para poderem estar no site! Pequeno detalhe sem importância!

No fundo este site é um excelente modelo de negócio e um enorme exemplo de empreendedorismo! Então é assim, no fundo o site contrata mulheres de borla, como esta senhora que ama o marido a sério e depois prostituem-nas junto dos homens que querem dar umas trancadas, ganhando dinheiro agindo como se fossem verdadeiros chulos e elas uma verdadeiras putas! Mas é tudo virtual, muito bem engendrado! Sublinho que foi muito bem engendrado só é pena, e parece que ninguém reparou ainda no pormenor, de violar claramente o princípio da igualdade consagrado na Constituição Portuguesa. E, neste caso, o violar por acaso até se aplica na perfeição! 

Foi dito que o site nasceu na Holanda, não sei se a representante em Portugal alguma vez leu a Constituição Portuguesa, mas ela é muito clara quando fala no princípio da Igualdade: 

"Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual." 

Acho que é por demais evidente que neste caso, as pessoas registadas do site que têm um pénis são descriminadas em favor das que têm uma vagina.

domingo, 24 de novembro de 2013

Ser desempregado em Portugal

Escrever sobre a realidade do desemprego é um tema que, infelizmente, uma grande parte da população portuguesa recentemente se tornou especialista. Estamos a falar de milhões de especialistas forçados porque esse flagelo lhes bateu à porta, e não daqueles especialistas em multi-temas, que os noticiários das televisões pagam a peso de ouro para opinarem sobre-tudo-e-mais-alguma-coisa, e explicarem as notícias às pessoas como se estas fossem criancinhas de cinco anos, ou como se fossem uns atrasados mentais. 

Mas sobre este tema, creio que já me posso considerar um verdadeiro especialista. Quase dez anos depois, a empresa onde trabalhava e que prestava serviço à maior multi-nacional da sua área tecnológica fechou. Não fechou porque faltasse trabalho, porque na verdade esse nunca faltou, mas fruto da volatilidade de um mercado concorrencial em constante mudança e em consequência da crise mundial iniciada em 2008 essa multi-nacional resolveu cancelar o contrato de prestação de serviços, e apesar da empresa trabalhar para outras marcas, a administração foi, aparentemente, forçada a encerrar portas.


Foi a segunda vez que me vi na situação de desemprego forçado. A primeira vez tinha sido uma década antes, mas após alguns currículos enviados e a presença em várias entrevistas, pude quase dar-me ao luxo de escolher qual a empresa que mais me convinha. Mas dez anos depois depois o cenário é um bocadinho diferente. 

Rapidamente descobri que afinal, ser-se desempregado era agora um crime! Descontei durante mais de dez anos para a (In)segurança (Anti-)Social, que deveria ser uma espécie de seguro para o caso de ficar desempregado contra a minha vontade, entidade que deveria proteger os seus segurados, mas afinal agora só tinha direito a ser roubado nos meus direitos, mas pior, o criminoso era eu! 

Um desempregado nesta anedota de país é agora tratado como um arguido, com termo de identidade e residência. Ah pois! Descontei, fui valentemente roubado no valor do subsídio e na duração do mesmo, mas fui brindado com apresentações quinzenais na Junta de Freguesia, mais ou menos como um criminoso que tem de se deslocar à polícia. E se faltasse duas vezes à apresentaçãozinha, de imediato ficava sem subsídio para o qual descontei e era meu por direito, pois eram assim as leis quando tinha começado a descontar, e não me parece lá muito correto que o governo, só porque andou a gastar o que não tinha, arranje formas de fugir às suas obrigações, roubando os trabalhadores.

Depois existe o IEFP, vulgarmente conhecido como o centro de emprego. Para quem não é especialista em desemprego, eu explico. O centro de emprego é, basicamente a entidade que serve para cortar o subsídio de desemprego nada mais! Pelo menos aqui na minha área de residência é assim. Não, não é nada um organismo público que ajuda o empregado a voltar à vida ativa, quer conseguindo ofertas de trabalho na sua área ou formações, esqueçam isso! O centro de emprego é uma espécie de alarme que dispara quando a Junta de Freguesia comunica a violação da liberdade condicional do desempregado.

Estive com subsídio de desemprego durante ano e meio, e depois mais meio de "subsídio subsequente". Quantas vezes fui chamado por eles? Nenhuma! Zero! Durante todo este tempo tive de lá ir uma única vez porque faltei a uma apresentação. Lá, a gaija, passou-me um novo papel para entregar na Junta, pôs a sua melhor cara ameaçadora e disse-me "Para a próxima fica sem subsídiozinho"! E foi esta a minha relação com o centro de emprego de Gondomar durante os dois anos que estive a receber dinheiro do Estado. 

Agora, de vez em quando, lembram-se de mim e enviam-me uma carta. "Já está a trabalhar? Não está? Então se quiser continuar inscrito no centro de emprego devolva esta cartinha no espaço de dias senão a sua inscrição é cancela" e sai automaticamente das estatísticas, e assim o INE já pode dizer que o desemprego está a descer, acrescento eu!

Estar desempregado em Portugal é isto, é ser-se criminoso aos olhos dos governos que as pessoas elegem para, supostamente as representar e defender, e é ainda ser olhado de lado pelos outros, os que ainda têm sorte de estar a trabalhar, como se fossem entidades divinas imaculadas e que podem julgar a vida dos outros.

Certo dia encontrei um ex-colega de trabalho e em conversa ele dizia-me que, apesar de estar desempregado há pouco tempo, de vez em quando quando ia ao café, ouvia uns comentários do género "anda para aí muita gente à boa vida sem querer trabalhar" e ele achava que essas bocas seriam para ele. 
Perguntei-lhe - mas sentes-te estigmatizado? Por acaso não fizeste os teus descontos durante todos os anos que trabalhaste e não ficaste desempregado contra a tua vontade?" 
"Sim" respondeu-me ele".
- Então manda-os foderem-se!

sábado, 23 de novembro de 2013

Multi-resistente

Muita gente citando Nietzsche diz que "o que não nos mata torna-nos mais fortes", afirmação com a qual eu não concordo. 

Vamos imaginar que saímos de casa e somos atropelados. Não morremos mas ficamos paraplégicos agarrados a uma cadeira-de-rodas para o resto da vida. Será que a partir desse momento ficamos mais fortes? Mas nem é preciso ir tão longe, vamos imaginar que a coisa resultou unicamente numas fraturas, hematomas e escoriações e que em breve já andaríamos por aí alegres e contentes novamente - Será que depois desta experiências traumática sairíamos mais fortes? Não, quanto muito mais vigilantes, até porque "depois da casa arrombada trancas à porta" e passaríamos a olhar vinte vezes para a estrada antes de atravessar.



Mas vamos a outro exemplo. Vamos supor que alguém que tem uma relação de exclusividade, dessas que são sempre fieis até que se descubra prova em contrário. O gaijo chega a casa e surpreende a mulher na cama a fornicar com dois pretos - será que a partir desse momento essa pessoa vai fortalecer a sua crença no amor eterno até que a morte os separe? Cheira-me que não.

O que nos faz mal, nos agride e deixa fragilizados,  não nos torna mais fortes, deixa-nos sim mais preparados e resistentes a futuras investidas. E quando ao longo da vida resistimos e sobrevivemos a uma série de batalhas difíceis, torná-mo-nos numa espécie de super-bactéria-multi-resistente que nenhum antibiótico conseguirá aniquilar.