domingo, 4 de março de 2018

As Médias Altíssimas Não Provam Rigorosamente Nada

"Quando as pessoas iniciam um curso de medicina, deveria ou não deveria haver mais algum critério, que não apenas uma média altíssima? As pessoas podem ter a opinião que quiserem. Um facto é indiscutível. As médias altíssimas não provam rigorosamente nada da capacidade daquela pessoa para aquilo que eu considero o fulcro de qualquer relação de ajuda, neste caso a medicina, a sua capacidade para estabelecer uma relação de ajuda. Nada. Lembra-se de eu lhe dizer, num registo paralelo, que uma vez as três médias de 18 do meu curso iam calmamente no corredor do Hospital de São João e, de repente, uma pessoa teve uma crise epilética à nossa frente. E as três médias mais altas ficaram petrificadas. E um colega nosso, que se bem me lembro se deve ter formado com uma média de 11, 12 ou 13, imediatamente tomou as medidas necessárias para ajudar aquela pessoa. Uma coisa é ter notas altas nos exames, outra coisa é estar à cabeceira da cama do doente, ter o doente à nossa frente, etc. E portanto, é bom dizer que há quem defenda, que deveria haver uma avaliação mais diversificada, mais complexa, dos candidatos para medicina.

(Júlio Machado Vaz)

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2 comentários:

  1. Ai se fosse só os de medicina...
    O problema é geral e cada vez pior. O problema está no método de ensino. Ninguém está ali para aprender, mas para ter nota no teste/exame/trabalho etc. Marra-se uns dias antes de cada prova e pronto, lá vem o canudo para casa. Depois temos este tipo de alminhas competentes que decoraram os livros até às virgulas e nunca usaram a cabeça para mais do que isso. E a culpa nem é deles, que estão apenas a seguir a norma. Todo o sistema é que está errado de raiz.

    Beijinho.
    O Meu Dolce Far Niente
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    1. Concordo contigo, não acho que o problema seja exclusivo da medicina. Claro que, como não há vagas para todos, tem que se excluir uma grande maioria e isso tem de ser feito de alguma forma. Olha, é como com os candidatos a vagas para empregos. Ou excluem por habilitações "a mais"; ou excluem por idades; ou excluem os que moram mais longe (apesar dos que vivem mais longe serem sempre os primeiros a chegar à empresa - eu que o diga!); ou então inventam-se testes psicotécnicos, que eles hipocritamente dizem que "não há respostas certas", mas excluem todos aqueles que fogem ao padrão de respostas ditas normais.
      Nos candidatos a vagas na universidade também temos de ter forma de os selecionar e acho que nunca seria muito fácil encontrar o método perfeito. Até porque, escolha-se o método que se escolher, as pessoas acabam sempre por se adaptar ao novo sistema e subvertem a coisa. Se fosse por exemplo por entrevista, seria muito fácil arranjar cunhas, etc etc. No que há medicina diz respeito é pena é que aquela gente que tanto estuda, muitas vezes nem seja ensinada a olhar as pessoas nos olhos, mas isso também é um problema cultural português, em que sempre tratamos os médicos com elevada deferência, é o "sotôr" e eles mais parecem que vivem num mundo à parte, superior a todos os outros, quando deveriam ser uns meros funcionários públicos como tantos outros.

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