domingo, 23 de dezembro de 2018

Sabes o que é um Amigo Verdadeiro?

"Concordaremos que, na maioria dos casos, a palavra amizade tem bem pouco a ver com o que entendemos quando pensamos num verdadeiro amigo. 

Os conhecidos

A maior parte das pessoas que consideramos nossos amigos são, na realidade, apenas conhecidos. Isto é, pessoas que não estão tão longe como a totalidade amorfa dos outros. Sabemos o que pensam, os problemas que têm, sentimo-las perto, recorremos a eles para nos ajudarem e ajudamo-los de boa vontade. Temos com eles boas relações. Mas não temos uma confiança profunda, não lhes contamos os nossos anseios mais secretos. Ao vê-los não nos sentimos felizes, não sorrimos espontaneamente (...)

Solidariedade Coletiva

Devemos sem dúvida distinguir amizade da solidariedade, tal como já o tinham feito o antigos. Neste segundo sentido, amigos são todos aqueles que estão do nosso lado, por exemplo numa guerra. De um lado os amigos, do outro os inimigos. Este tipo de solidariedade nada tem de pessoal. Aquele que exibe a mesma divisa que eu é amigo; mas não sei nada dele. A esta mesma categoria pertencem as formas de solidariedade que se constituem nas seitas, nos partidos e nas igrejas. Os cristãos chamam-se entre si de irmãos ou amigos. Os socialistas chamam-se de camaradas e os fascistas companheiros. Estamos sempre, no entanto, em presença de ligações coletivas, não de relações pessoais. 

Relações de Posição

É a classe das relações de tipo pessoal, mas baseadas na posição social. Tínhamos visto que a amizade pelo interesse era a dos sócios em negócios, era a dos políticos. Este tipo de ligações tem bem pouco de afetivo, e dura enquanto dura o interesse a salvaguardar. Encontrámos, além disso, muitas relações profissionais, em colegas de trabalho e em vizinhos de casa. 

Simpatia e Trato Amigável

Chegamos por fim à categoria das pessoas com quem nos sentimos bem, que são simpáticas, que admiramos. Mas, mesmo neste caso, devemos ser cautelosos na expressão da expressão amizade. Muitas vezes trata-se de estados emotivos transitórios, superficiais (...)

E como surge a Amizade

(...) "A amizade é uma filigrana de encontros." Ninguém sabe antecipadamente se haverá ou não um encontro. O encontro é sempre imprevisível, inesperado. Como a felicidade, que já não está onde a procuramos, onde a esperamos como caçadores em guarda. Se procuramos ansiosamente a felicidade se a queremos, encontramos mais frequentemente a desilusão. Ou o aborrecimento. A felicidade aparece de improviso, quando não pensamos realmente nela, como se nos seguisse e esperasse, para se revelar, que estivéssemos distraídos (...)


Cada um de nós é um turbilhão de desejos, com um núcleo ardente no centro. No encontro tocamos, de qualquer forma, esse núcleo central de nós próprios. Damos uma resposta àquilo que interessa. Que é, pois, a eterna questão: de onde vimos, onde estamos, e para onde devemos ir? O amigo é aquele que nos faz sempre entrever a meta, e faz connosco uma parte de caminho. Do encontro com o amigo espero sempre, portanto, uma revelação (...)

Só com o amigo podemos compreender e apreciar a sua e a nossa singularidade. A experiência do amigo, no entanto, pode até ensinar outras formas de ser que, se se confundem, nos dão desejos de mudar. Não para ser como ele, renegando-nas a nós próprios. Mas para sermos realmente nós próprios. O amigo, com a sua diversidade, pode revelar-se um dos nossos possíveis deuses, no qual nos reconhecemos (...)

Quando encontramos um amigo, mesmo depois de muitos anos, é como se o tivéssemos deixado num momento antes. Retomamos a conversa como se fosse um diálogo interrompido. E no entanto nao é um diálogo interrompido, não é a continuação daquela conversa. O assunto é diferente. Nós mudámos, os nossos problemas mudaram. Não obstante, temos a impressão de continuar aquilo que estávamos a fazer. Como se não tivesse havido um intervalo, como se o tempo não tivesse passado. É um fenómeno desconcertante. Não há nada de semelhante na nossa experiência quotidiana (...)

O amigo é, portanto, aquele que "te faz justiça". Justiça num sentido profundo, vital. A própria vida pode ser justa ou injusta. O amigo que aprecia uma tua qualidade que ninguém tinha valorizado, que te estima por algo que os outros desprezam, faz-te justiça nesse sentido profundo. O amigo está do teu lado, combate e, se necessário, vinga-te. Por isso te faz justiça.

A Amizade / Francesco Alberoni (1984)

O Natal é Como Uma Dor de Dentes Que Passa com Uma Ida ao Dentista

Banksy
Respira fundo. 

É Natal e já sentes aquela dorzinha irritante desde o Dia-de-Ação-de-Graças-ao-Consumismo-Americano, mas há-de passar. Também a broca do dentista incomoda. É aquele chiar estridente que entra ouvidos adentro, às vezes até cheira a queimado quando perfura o dente, por vezes até magoa ainda que nos digam que estão só a "pôr água", mas no meio daquilo tudo só pensas que é um pesadelo. Um pesadelo que sabes que há-de passar quando acordares e tudo ficará bem. Pagas a consulta e vais à tua vida, porreiro da vida, como novo, sem dorzinha nenhuma. De igual forma também Janeiro há-de chegar num piscar de olhos, e tudo voltará a entrar nos eixos sem luzinhas a piscar, nem musiquinhas insuportáveis por todo o lado; sem multidões nas compras, e sem nenhum desconhecido a desejar-nos "Bom Natal" como se por obrigação tivéssemos todos de ser cristãos. Mas tudo isto há-de passar. 

Não, eu não gosto do Natal. 
Não gosto do Natal porque não gosto de mentiras. Nem de hipocrisia, cinismo, nem deste consumismo desenfreado que não sei onde vai parar.

Natal é mentira.
É desde cedo mentir às crianças que vem aí o menino Jesus dar prendinhas no sapatinho. Entretanto o menino foi despedido pelo capitalismo e substituído pela invenção da Coca Cola: um Pai Natal obeso, vermelho e de barbas brancas que gosta de sentar criancinhas no colo. E o Natal é isto, uma grande mentira. Da comemoração do Solstício passamos à anexação Católica que mente e inventa o nascimento do menino que, se alguma vez existiu (coisa que eu tenho muitas dúvidas) certamente não nasceu a 25 de Dezembro.

Natal é hipocrisia.
É a obrigação que as pessoas têm para fingirem que se lembram dos outros e fingirem que se importam e fingirem que se dão todas muito bem. Não houvesse Natal e parece que as famílias nunca se reuniam, quando as famílias e as pessoas em geral têm todo um ano para se encontrarem.

Natal é consumismo.
Toda a gente compra uma merda qualquer para toda a gente. O comércio agradece e os impostos também. A maior parte das pessoas nem gosta do que recebe e é ver os centros comerciais cheios no dia 26, em que toda a gente vai trocar o que recebeu. Sustentável não é de certeza, basta depois ver o estado em que ficam os caixotes do lixo nos dias seguintes.

Mas respira fundo. Tudo isto do Natal vai passar. É só um pesadelo como estar na cadeira do dentista. Fecha os olhos e relaxa. Janeiro está já aí ao virar da esquina e tudo voltará à normalidade.


# Natal, Up-To Date


sábado, 22 de dezembro de 2018

Testemunhas de Darwin

Porque hoje é sábado vou levantar o cu da cama e vou por aí anunciando a palavra de Darwin. 
Ou, a palavra de Nietzsche, anunciando a boa nova que Deus está morto!

O Acaso de Pitigrilli

Como já aqui contei, foi por mero acaso que conheci a escrita Pitigrilli. E de imediato me viciei. É fascinante o que se absorve, página após página. Eu não sou de sublinhar os livros pois, para mim, um livro, como tantas outras coisas, é quase como se fosse um altar: sagrado. Mas se fosse como muitas pessoas que são de sublinhar, então não seria fácil encontrar páginas dos livros de Pitigrilli que não estivessem riscadas com chamadas de atenção.

Há de tudo, sejam pensamentos, críticas, argumentos, ideias ou informação de interesse que nos enriquece.  Depois da "Virgem de 18 Quilates" acabei por ler vários livros seguidos dele e, aos poucos comecei a apanhar-lhe a repetição de algumas mesmas ideias, aqui e ali, como por exemplo a admiração da inteligência e da memória dos elefantes. Ainda assim, mais do que as vezes que Pitigrilli se refere aos elefantes, são as inúmeras vezes que se refere ao "acaso".  Aqui deixo alguns excertos:



Tôda a vida é regulada pelo acaso. Um médico salva-nos mercê duma magistral intervenção cirúrgica, outro mata-vos com uma simples picada. O encontro de uma dama no "café" pode ser  causa de uma bifurcação na vida. Essa mulher pode envenenar-vos o sangue com uma doença, levar-vos à loucura, dar-vos um filho, tornar-vos feliz, tornar-vos mau, tornar-vos melhor. Basta olhar em volta de nós: dentistas que por enganam arrancam um dente são, críticos que com um único epíteto arruínam um artista ou uma êmpresa, engenheiros que se enganam num cálculo de resistência. E querem que só o juiz seja justo! Mas tôdas as injustiças do mundo contribuem precisamente para repetir os acasos vários de que resultam as múltiplas aparências do mundo e o imprevisto da vida. É a mistura do perfeito e do imperfeito que forma a beleza das coisas e que indica a colaboração entre Deus e os homens. Todo o acusado tem o seu destino escrito antecipadamente e coisa alguma o pode mudar.: sejam quais forem os argumentos subtis que os advogados invoquem, o que quer que seja de inevitável preside à sorte dos acusados. As razões pelas quais se absolve ou se condena são quási sempre diferentes das previstas pelos requisitórios ou pelas defesas. 

Pegue num caso grave de êrro judiciário, analise-o da origem à conclusão, da prisão aos trabalhos forçados: que série impressionante de acasos desfavoráveis que levam um inocente à grilheta! No mundo meu amigo, tudo é aparência, tudo é apenas representação. A verdade? Oh! Quem é que alguma vez soube o que é a verdade? É uma coisa bem miserável, se são suficientes dois pequenos copos de conhaque para a dissimular ou a transformar. E a Justiça? Basta um sapato que incomode, para mudar uma maneira de sentir e, por conseqüência, de julgar.
- E então?
- E então, é preciso acreditar exclusivamente no acaso. A concordância dos acasos favoráveis chama-se fortuna; a concordância dos acasos desfavoráveis, infortúnio. Quando a êsses acasos se associa a vontade dos homens, chama-se a isso o bem ou o mal, e quando êsses homens fazem profissão de julgar, então fala-se em justo ou injusto. Mas o bacilo que nos fulmina, o automóvel que nos esmaga, o homem que nos calunia, o juiz que nos condena, são apenas variantes dum mesmo fenómeno: o acaso...

(Pág. 87 / "O Homem que procurava o amor" / 1929)

Sete anos depois, no livro "Loura Delicocéfala" de 1936:




- Interessante. 
- Não é interessante - disse Teodoro. - É o acaso

(...)

As coisas parecem singulares quando as vemos do avesso; se um motorista da Cruz Vermelha, depois de vinte anos a transportar feridos do lugar do acidente para o hospital, sofre um acidente mecânico, o episódio é mais do que normal; são coisas que acontecem pelo menos uma vez na vida a todos os automobilistas. Mas para o ferido que justamente daquela vez que estava na ambulância, a coisa tocará as raias do inverosímil; depois de ter sido vítima de um acidente na estrada, é muito esquisito, para ele, ser vítima de um segundo acidente de carro. O mesmo facto que para o motorista não tem importância, para o ferido é uma probabilidade que na matemática se representa com um, dividido por um número seguido de três ou quatro mil zeros. 
Juju acendeu um cigarro. Teodoro tomou-lhe das mãos o isqueiro:
- Para si - continuou - não é esquisito que este objeto esteja cheio de gás. Mas se pensar que o gás foi extraído do petróleo e que o petróleo é a transformação de jazidas imensas de peixes que ficaram nas depressões da terra quando as águas dos oceanos se deslocaram há centenas de séculos atrás, parecer-lhe-á esquisito que para acender o cigarro, queime o que se tem conservado, através dos milénios, de um peixe que ficou a seco em qualquer planalto da Pensilvânia. 

Pág. 81...
... e doze páginas diante:

- Afinal - disse ela - compreendeste que te amo. É inútil que to confesse ou que to oculte. Mas nem te amo pelos teus olhos frios nem pelas tuas têmporas grisalhas, nem porque fazes parar os enterros e tens familiaridade com a raiz de mandrágora. Amo-te porque surgiste num momento propício. Tu compreendes estas coisas. 
- Sim, compreendo essas coisas; nós julgamos que os nossos atos têm grande importância, como os nossos méritos e a nossa vontade, e ao invés somos vítimas ou beneficiários do acaso. Se o "mycoderma aceti" pousa numa ferida, nada acontece, mas se cai num copo de vinho transforma-o em vinagre ; se o bacilo de Nicolaïer cai num copo de vinho nada acontece, mas se pousa numa ferida aí está a morte por tétano. 

(e já a caminhar para o fim do livro na página 317)

Quando Zweifel voltou para casa, não quis ver o quarto que fora de Cinci. Foi procurar a última carta de Juju: "Hoje estou bela... querem vender-me  uma plantação de borracha, em Madagascar..." Mas onde estava? Em Madagascar? Como econtrá-la? Onde encontrá-la?
Queria que Juju lhe desse uma nova Cinci.
Mas uma nova Cinci não se faz por encomenda; não se faz por medida; as coisas mais belas não nascem pela vontade dos homens; nascem por acaso.
Nascem por acaso como o jovem pessegueiro, ao longo da via férrea, florescido entre as pedras engorduradas de lubrificantes, entre os restos das cestinhas de viagem; aquele jovem pessegueiro, nascido de um caroço atirado pela janela por um viajante distraído. 
Por um viajante distraído, como Bob. 

O País dos Macacos de Imitação

Já depois de durante a semana ter ouvido uns comentários sobre o assunto no trabalho - imaginem, que "os sindicatos estavam a tremer com esta manifestação! (e eu só me ria!) - esta manhã a caminho do trabalho, ouvia na rádio sobre a tal pseudo-manifestação que prometia fazer parar Portugal e que iria causar grandes transtornos no trânsito. Contra o que se manifestariam?, perguntei-me. Não cheguei a saber. Mas ao que parece, fiquei a saber que não se falou de outra coisa nas televisões. Percebo. Na ausência de oposição séria ao governo socialista, que ainda assim, ironicamente, é feita maioritariamente pelos partidos de Esquerda que o suportam no parlamento, são os média em geral, com uma linha editorial muito clara, que tentam nas televisões e nos jornais capitalizar uma insatisfação que, se calhar, em boa verdade não existe porque, quando comparamos com com o governo anterior, a verdade é que, até ver, e dêem os argumentos que quiserem, o "diabo não veio com um governo apoiado por comunistas" e, seja lá pelo que for, a verdade é que as coisas estão incomparavelmente melhores.

Mas na volta, estas pessoas ligadas à extrema-direita portuguesa, que se juntam em perfis falsos criados no Facebook, e que felizmente que ainda têm muito pouca expressão no nosso país, se calhar deveriam estar a manifestar-se contra a devolução de feriados. Desde logo o feriado que tanto dizem prezar, como o da Independência a 1 de Dezembro e que o anterior governo de Direita cortou. Ou será que se manifestavam contra o aumento do salário mínimo? ou contra o défice mais baixo da história? se calhar era contra o maior investimento estrangeiro e com o menor desemprego dos últimos dez anos. Deve ter sido por isso que se lembraram de vestir os coletes dos automóveis e decidiram vir para as ruas, porque o país hoje, está muito melhor que há três anos! 

E logo a seguir a ouvir no rádio sobre a grande manifestação que ia parar Portugal, vi lá ao fundo da estrada, umas quantas pessoas nas beiras das estradas, vestidas de coletes verde-fluorescentes e de imediato pensei que era a tal manifestação. Tu queres ver que ainda me vão incendiar o carro? Mas quando passei nem para mim olharam. Afinal eram só uns cantoneiros que andavam de roçadoras na mão a limpar as beiras das estradas junto ao Estádio Jorge Sampaio.


O que acontece é que Portugal é um país de macacos de imitação. Ninguém tira nada da cabeça. Ninguém quer ser original. Aliás, historicamente, sempre imitamos tudo e todos. Os franceses principalmente, da República ao hino nacional que é uma cópia da marselhesa. São os recordes do Guiness e os desfiles parolos de Pais Natal; são os recordes do maior bolo-rei e da maior chouriça do mundo; são os lenços brancos nos estádios que só apareceram por cá há meia dúzia de anos depois de os verem em Espanha; são as feiras medievais que se propagaram como cogumelos com a chuva por todo o lado da Feira, que essa sim, é a terra onde se realizava uma feira na idade média; são os patrimónios imateriais da humanidade que, depois que descobriram que o cante alentejano foi património imaterial da humanidade, já todos querem que a parolice da sua terra também seja património mundial. Que levem a concurso o escarrar para chão, e os cagalhões dos cães nas beiras da estradas. Também pode ser que isso venha a ser património imaterial. 

Portugal é um país de macacos e trazer para cá os coletes verde fluorescente (deve andar tudo daltónico para chamar aquilo amarelo) foi só mais uma triste imitação que a extrema-direita agora se lembrou. Mas como se previa, ou como eu previa, aquilo foi uma tristeza. Tal como os racistas e xenófobos de extrema-direita são. Uma verdadeira tristeza. 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Do Daltonismo Jornalístico

Isto é Amarelo:



À doença que algumas pessoas têm que não conseguem distinguir as cores chama-se daltonismo. 

E isto definitivamente não é amarelo. É verde. Logo, anda para aí muita gente que ao que parece não sabe distinguir as cores. 




quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

O Livro para se Oferecer a um(a) Benfiquista neste Natal

Sinopse:
O primeiro livro da trilogia de Smiley, a série que o tornou famoso em todo o mundo e consagrou John le Carré como um dos grandes mestres da literatura de espionagem. 
Smiley e a sua gente deparam-se com um extraordinário desafio: uma toupeira um agente duplo dos soviéticos conseguiu infiltrar-se e ascender ao mais elevado nível dos Serviços Secretos britânicos. A sua traição comprometeu já algumas operações vitais e as melhores redes. A toupeira é um dos seus. Mas quem?



domingo, 16 de dezembro de 2018

Vagos Open Air 2010

Às vezes, ao revermos fotografias com uns bons anos, reparamos em momentos engraçados, como aquela menina que junta as mãos em jeito de prece, como que pedindo por favor qualquer coisa. Enquanto isso, em primeiro plano, outra menina, de cabelos arroxeados se prepara para ajeitar os óculos enquanto ouve atentamente a amiga de cabelos alaranjados. Para o ano, se ainda por cá estiver, talvez relembre como conheci uma das minhas melhores amigas, precisamente aqui, no primeiro ano deste festival. E já vai fazer dez anos!

sábado, 15 de dezembro de 2018

Afinal Quem é Que Sabe Verdadeiramente de Futebol?

2018 foi ano de Mundial de Futebol e, em boa verdade, eu cada vez menos ligo ao fenómeno. Acho que os únicos jogos completos que vi, foi mesmo da Seleção Portuguesa. Talvez porque, ainda assim, apesar de cada vez mais afastado da bola, a nossa Seleção ainda é a equipa de todos nós. 

Na empresa, aproveitando já o facto de algumas pequenas apostas que se iam fazendo - quantas vezes o meu colega tinha a certeza que deveríamos apostar em determinado resultado porque íamos certamente ganhar muito dinheiro? - na maioria das vezes apostávamos por brincadeira, para ver quem tinha os melhores palpites, muitas vezes apostávamos até sobre a vida das pessoas! - sim, nós lá no trabalho éramos muito criativos (sim, usei o verbo no passado), e quando faltava trabalho arranjávamos sempre com que nos entreter! - e vai daí, lembramo-nos de começar a apostar nos resultados do Mundial. 


Em pleno Mundial de 2018 já várias pessoas tinham ido embora da empresa. A estagiária, responsável pela Qualidade por exemplo. A nossa querida bebé, toda certinha e que não fala muito de si (algo comum aos nativos de Aquário), mas que, no entanto, entre outras coisas, chegou a estar ao meu lado a  ajudar-me a pintar com resina - e não queiram saber o que andamos a fazer porque não foi bonito! - e também ela gostava de futebol e imaginem, que até fóruns de apostas frequentava! Mas ela foi embora no fim do estágio, a 31 de Julho 2017. Porquê? Então porque a seguir entrava Agosto noutra empresa qualquer!

O outro estagiário, um tipo muito boa onda, alto e elegante - de quem até cheguei a elogiar o corpinho! - sempre de bem com a vida, que muitas vezes ficava depois da hora a jogar ténis-de-mesa comigo, e que aos quarenta anos quer estar a viver dos rendimentos (mas que se calhar é um nadinha ingénuo e que não conhecia a palavra cuninlingus) já tinha ido embora quinze dias antes porque há muito tempo que lá no departamento de Investigação e Desenvolvimento não andava a investigar nada do que era suposto! Ainda assim meu caro, ninguém termina um estágio a quinze dias do fim! Só mesmo tu!

Saída após saída, a verdade é que aquando do Mundial só quatro pessoas entraram na brincadeira. A escrivã  e responsável por elaborar as atas foi a Lloyd. E qual Excell qual quê! Reaproveitaram-se umas folhas de rascunho - digam lá que não éramos sustentáveis! - e ela foi apontando ali todos os prognósticos à mão. 

Os quatro apostadores eram:

- Eu, um tipo que desde que o "doutor" Relvas retirou o futebol da RTP nunca mais vi sequer um só jogo do campeonato português.
- O "V6", segundo se diz foi um eventual prodígio técnico que se perdeu. Foi até treinado pelo treinador catedrático do futebol português, teve a oportunidade de jogar num clube da primeira divisão e que ainda joga semanalmente Futsal. Ser treinador de futebol para ele seria um sonho. 
- O "Isaac" que é o comum fervoroso adepto de futebol.
- E a Lloyd que já nasceu na década de 90, acha muita graça ao Johnny Depp mas não liga puto a futebol. E sempre que era para apostar perguntava: "quem é que joga nessa seleção?...então acho que vai ganhar a seleção X"!!   

E então quem é que acham que foi o homem que realmente sabe de bola? O que sabe jogar muito à bola, o adepto fervoroso ou aquele que nem vê jogos? Sim, é verdade, nem sequer referi a mulher, porque também não estou à espera que me respondam que foi a pessoa que nem sequer conhece os jogadores nem as seleções!

Mas para vossa surpresa (minha e de toda a gente lá na empresa!), os resultados foram os seguintes:

Eu apostei em 41 jogos e acertei em 16. Foi por pouco, mas tive a pior percentagem de todos: 39%
Ainda assim, consegui acertar em vários resultados consecutivos, seis ou sete, mas isso não invalidou que fosse o pior nas apostas. Logo, nunca na vida que me meto a apostar em resultados da bola! Ou então... esperem pelo final!

Em terceiro lugar ficou o "Isaac"que acertou em 18 jogos (de 45) com uma percentagem de: 40%

Em segundo lugar o "V6" que acertou em 23 jogos (de 51) : 45%

Surpreendentemente, a pessoa que acertou na incrível percentagem de  53%, ou seja, mais de metade dos jogos!, foi a pessoa que não conhece os jogadores, nem as seleções, nem que se interessa minimamente por futebol! 

Mas isto não se fica por aqui. Estávamos ainda em Julho, e o Sporting vivia tempos conturbados e tinha cerca de dez candidatos à presidência do clube (ainda faltavam desistir uns quantos, incluindo Bruno de Carvalho). A Lloyd, que nem conhecia metade dos candidatos, afirma convictamente o seguinte no dia 16 de Julho: "Vai ser o Varandas que vai ser o próximo presidente do Sporting!" E relembro que as eleições só aconteceram a 9 de Setembro! Perante tudo isto eu pergunto:

- Afinal, quem é que sabe verdadeiramente de futebol? 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

As Portas da Felicidade

Algures no Castelo de Guimarães - Maio de 2012

"Quando uma porta da felicidade se fecha, outra se abre, mas costumamos ficar a olhar tanto tempo para a que se fechou que não vemos a que se abriu." 

Helen Keller (1880-1968)


Resistindo

A música que hoje se colou ao meu cérebro foi: "Resist" do David Fonseca.
Apanhei-a de manhã na Antena 3, no carro a caminho do trabalho e alojou-se no cérebro o dia todo. 

Gosto muito da voz da menina que o David convidou para a gravar com ele. Ele conheceu a Alice Wonder no Instagram porque era a amiga de uma amiga: "Ela é uma miúda (que parecia ter 16 mas tem 21 anos) com uma (linda) voz de velha". 
(A fazer-me lembrar a mim o Ian Curtis de Joy Division, que morreu com 23 anos, e que, no meu entender, era outro jovem com voz de velho).



... Tu e eu nunca poderemos ser um, sim 
Nós tentamos fugir, mas tu és tão difícil de resistir  

Nós separamo-nos porque pensamos que era o que estava certo
Mas agora nenhum de nós pode dormir à noite, oh não
Eu senti que era difícil para ti, mas era mais do que já sabia
Tão vicioso, tão verdadeiramente repetitivo
Tu não te vais livrar de mim, bem, eu não consigo livrar-me de ti
Um de nós deve saber, devemos ficar, devemos ir ?, 
Tão vicioso e altamente supersticioso
Tu és tão difícil de resistir, agora por que é que eu te continuo a resistir?

Um de nós deve saber, devemos ficar, devemos ir ?, 
Por que é que eu te continuo a resistir?

"Resist" / David Fonseca (com Alice Wonder) / 2018

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Em Portugal as Touradas São Bem de 1a Necessidade - O Saneamento Básico É Um Luxo!

Escrevo-vos da segunda década do século XXI. 
O mundo evoluiu bastante do ponto de vista tecnológico. Há carros elétricos; carros que estacionam sozinhos; imaginem, até carros autónomos que nem sequer precisam de um humano para os conduzir!; as pessoas têm todas internet na palma da mão; e os robôs estão aí ao virar da esquina para substituir o trabalho dos humanos. São verdadeiramente assombrosos os avanços da tecnologia. Infelizmente só nunca ninguém se lembrou de inventar um sistema diferente do que temos, em que, para aliviar os intestinos ou a bexiga seja preciso gastar muitos litros de água potável por dia, e que, além de não ser nada sustentável, ainda por cima vai poluir os nossos rios e mares. Somos tão evoluídos que qualquer gato já nasce ensinado a ser mais sustentável que qualquer humano. 

Neste início de século XXI vivemos uma verdadeira revolução tecnológica, contudo, localidades deste país há, como a localidade em eu que vivo, em que nem sequer saneamento básico temos. E não, eu não vivo naquele sítio onde o gato perdeu as botas (e espero que esta expressão não ofenda nenhum membro da PETA). Eu vivo a uns meros 20Km da segunda maior cidade do país!, naquela localidade que ficou muito conhecida, por ter tido um autarca muito amigo dos munícipes, que oferecia eletrodomésticos e viagens de avião aos idosos. Só que, infelizmente, nos vinte anos que esteve no poder autárquico nunca dotou a minha freguesia de saneamento básico, apesar de, por outro lado, se ter empenhado, e muito, contra a vontade da população que deveria defender, em trazer para cá a Turbogás que nos está a matar a todos aos poucos, e que, como foi público, a autarquia recebeu 500 mil contos (2,5 M€) em 1995. O que foi feito com esse dinheiro não sei. Só sei que a minha freguesia é a mais atrasada do concelho de Gondomar apesar de já ter fornecido energia a mais de metade do país com a Central da Tapada do Outeiro. 

Ser político é fazer opções, e talvez para este autarca o saneamento básico não fosse algo de relevante. E depois convenhamos, até pode ser olhado como rústico e que lembra os tempos antigos. Se calhar até poderia ser turístico e atrair gente estrangeiros à terra. Por exemplo, para quê ir em Agosto até Santa Maria da Feira, relembrar os tempos medievais se cá na nossa terra, por vezes, especialmente quando chove, se pode ver uma verdadeira esterqueira pelas ruas abaixo e sentir aquele belo odor medieval? Ah pois é!

Mas nesta segunda década do século XXI vivemos tempos muito estranhos. Os animais, por exemplo, têm agora muitos direitos. Ainda recentemente noticiava-se que alguém tinha apanhado dois anos de cadeia, de pena efetiva, por apedrejar um gato. Por outro lado, enquanto isso, no parlamento, o PCP, PS, PSD e CDS votavam contra o fim das touradas pedido pelo PAN, com o apoio do BE e dos VERDES. Mas não satisfeitos os partidos por perpetuarem um espetáculo sangrento de maus tratos a um bicho que não deve ser animal, visto que não tem os mesmos direitos que os outros animais, o PCP, PSD e CDS foram ainda mais longe e decidiram no parlamento baixar o IVA das touradas de 23% para 6%!  

E no dia de hoje recebi uma carta das Águas de Gondomar, informando-me que vão proceder, finalmente, à ligação das casas da freguesia ao sistema público de águas residuais e que tenho então de pagar (coisa pouca!) quase dois mil euros. Mas olhando com atenção para as três parcelas, não deixa de ser muito curioso: todas dizem +IVA 23%! Tenho então que pagar só de IVA mais de 400€ pela ligação ao saneamento básico!

Recapitulando: para a maioria dos nossos deputados da República, torturar animais numa praça pública, para gáudio de gente que se diverte com o sofrimento dos animais animais é um bem de primeira necessidade que só deve pagar 6% de IVA. Deixar de viver na Idade Média e ter direito a saneamento básico é um luxo que tem que ser taxado a 23%!

Muito estranhos são estes tempos de início de século XXI. E depois admiram-se da subida ao poder da extrema-direita e de movimentos populistas, ou gente que se cansa de políticos corruptos, que sempre viveram fechados numa redoma e não sabem o que custa a vida ao cidadão comum, e que depois vão para a rua protestar porque já não têm nada a perder. 



domingo, 9 de dezembro de 2018

Compreender Finalmente o Amor

"Paulo Pott não respondeu.
- Que diz? perguntou ela. 
Êle pegou-lhe numa das mãos para a convidar ao silêncio e disse-lhe:
- Para ter alguma coisa de aproximativo sôbre a mulher e sôbre o amor, estudei a psicologia dos indivíduos e a psicologia colectiva: li as histórias dos romancistas mais fantasistas e os tratados mais sábios mais positivos; estudei demoradamente as obras dos antigos e dos ultra-modernos; fiz falar os homens que foram amados e os que foram atraiçoados; examinei o problema do ciúme, da fidelidade, da perfídia; tentei experiências nos outros e em mim próprio; recolhi confissões; analisei casos inumeráveis; interroguei uma mulher inteligente  que um hábito mental torara capaz de estudar em si própria os fenómenos e de me explicar as causas, os sintomas e as conseqüências; o meu cérebro tornou-se um ficheiro; creio que nada mais me resta ler de novo ou sentir àcêrca do amor, porque vi todos os tipos e previ todos os casos. Pois bem, minha senhora: ao fim de tantos anos de experiências, de análises e de me meditações, cheguei a uma conclusão... Devo dizê-la?
-Diga.

(...) 

Passos na areia. A voz de Lem-Lem Teoldé. 
- Dir-me-á depois - murmurou Liana.
O engenheiro entrou, trazendo no braço o casaco de lã flexível guarnecido pelas peles.
- Demorei-me, - disse êle, - porque não encontrava as chaves. Não sei onde as pões. Seria mais fácil encontrá-las se as pusesses sempre no mesmo lugar!
Liana não respondeu. Olhou com para o marido com êsse olhar frio, inimitável, das mulheres que começam a não amar. Paulo Pott sabia ainda beijar a mão às mulheres e a de Liana demorou-se-lhe nos lábios.
Tinha o olhar frio das mulheres que começam a já não amar, mas o tom da sua voz era triste, enquanto as mulheres que se preparam para atraiçoar têm um timbre alegre (...)



No dia seguinte, o engenheiro dirigiu-se para o Sul, para onde se prologava o caminho de ferro.
- Venho pedir-lhe emprestado um livro, - disse Liana, entrado na casa do juiz. - Tem algum que fale de amor?
- Só tenho livros que falam de amor, - respondeu Paulo Pott, levando-a para um aposento onde as estantes da biblioteca chegavam ao teto. 

(...)

- Depois de haver estudado o amor nos livros dos que o analisam e na epiderme dos que o praticam; depois de haver interrogado as mulheres instintivas e as mulheres que raciocinam, depois de ter analisado numerosos casos, lido muitas historietas, ouvido a resposta dos competentes, visto os gráficos dos aparelhos que registam as curvas do pensamento, os imprevistos da vontade, as oscilações do sentimento, depois de haver escutado os que explicam pela química os mistérios do amor e os que explicam pela electricidade, depois de ter dado ouvidos aos homens fingidos que restringem o amor a uma fórmula de eqüação e aos exaltados que o dilatam nas rimas dum poema, começo a crer que, para compreender alguma coisa do amor, é necessário seguir o método adoptado por ti ...
- Por mim?
- É o método mais racional, mais sério, mais científico, mais positivo...
Sem abrir os olhos, ela perguntou:
- Mas que método?
Êle curvou-se-lhe sôbre o rosto e respondeu:
- _________ ___________.

FIM


"O Homem que procura o Amor" / Pitigrilli (Dino Segrè)  1929



Por Que é Que os Políticos Estão Cada Vez Mais Medíocres?

"A condução de uma luta destas, deste teor, exige uma coisa que o senhor Macron não tem: que é saber de política. 
- E ter um partido de preferência.... 
- e uma guarda organizada...
- e consciente...
O Vladimir Ilitch dizia sempre que isso fazia muita falta. 
Eles não leram isso.
Eles não lêem nada. 
Só lêem em transcrições. Que é pior que do não ler de todo. Lêem sempre transcrições, às vezes até de jornalistas que ainda é pior.
- O que ainda é pior. E traduzidas em russo. 

(...)

E sobretudo, os políticos tradicionais, deste sistema, são os que não leram coisa nenhuma. Sabem de uma coisa normalmente, são financeiros. Mas não sabem mais nada pá. Não sabem História, não as coisas que apesar de tudo são possíveis para nós conhecermos os homens e a natureza humana. Não lerem os clássicos, não leram nunca a bíblia de fio a pavio (que também ajuda muito). Quer dizer, estas coisas tradicionais, não sabem nada. E portanto, vivem de uns spin doctors não é?, de uns conselheiros que lhes metem umas coisas, umas frases resumidas na cabeça antes de fazerem um discurso, e portanto estas situações para eles são muito complicadas. E gostam de ser espertos também. 
- E há um charme, uma busca... e ainda por cima isso nota-se que não joga a bota com a perdigota. Ou seja, preciso de um spin off qualquer, duma boutade não é, mas essa boutade não tem nada a ver e muitas vezes deslocada com o essencial e com a realidade. 




quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

EU e a Empresa - Como Se Fosse Uma Relação

Na entrevista acho que foi amor à primeira vista. Ela podia ter escolhido qualquer um. Diz-se que houve centenas ou milhares de candidatos já nem sei. Mas escolheu-me a mim. Afinal são sempre elas que escolhem, não é? Desta última vez eu lancei a corte a várias, rejeitei uma ou outra antes, mas esta foi realmente a que me deu o melhor dote para casar com ela. Enamorei-me e já estamos casados vai fazer cinco anos. Mas aconteceu o que acontece mais ou menos com todas as relações. 

A paixão foi fulminante. Desmesurada. E já se sabe como é na paixão. Fode-se a toda a hora em tudo que era sítio. Era no Escritório; no laboratório de Investigação & Desenvolvimento; na Produção; na Cave; nas casas de banho dos homens e das mulheres; experimentamos no banco do empilhador enquanto eu conduzia em marcha-atrás; era em todo o lado. Claro, menos em cima da mesa de ping pong que é sagrada! E assim continuou por muitos meses. Éramos felizes. Fazíamos planos a dois para o futuro. Íamos para todo o lado juntos, davamo-nos muito bem e a palavra discussão não fazia parte do nosso léxico. Éramos o casal modelo de toda a gente. 


Sempre vivemos um para o outro e as coisas iam rolado bem, mas aos poucos o cenário começou a mudar. No último ano comecei a aperceber-me que ela me esconde coisas. Percebi que se me aproximo do telemóvel dela ela fica perturbada. Algo se passa. Cá para mim anda passarinho novo a voar no meu jardim. Comecei a ficar de sobreaviso. Na cama começou-se a escudar em relação ao sexo. Passei a ser sempre eu a abordá-la. E se ao início parece que ainda ia fazendo o frete, aos poucos começaram a aparecer as estratégicas dores de cabeça. Grande coincidência! Sempre que eu lhe começava a passar as mãos pelos sítios recônditos lá vinham a desculpa "hoje não estou com cabeça para isso". Mas é preciso cabeça para foder? É preciso é ter vontade!  E depois ainda dizem que as mulheres são multifacetadas e que fazem várias coisas ao mesmo tempo!  Mas afinal nem ter uma dor de cabeça e foder conseguem fazer ao mesmo tempo! Fartei-me quando comecei a ouvir os "só pensas nisso". Deixei de me importar e de a procurar para esses assuntos. Quando lhe passarem as dores de cabeça que me procure, se quiser. Talvez nessa altura seja eu que queira brincar de achacado às enxaquecas. 

A relação degradou-se. Vamos estando juntos por estar. Talvez seja mais por estarmos habituados um ao outro que por outra coisa. Nem sei se ainda somos amigos sequer, talvez sejamos uns meros amigos-sósia. Os amigos desabafam e apoiam-se mutuamente. A frustração acumulada é muita. A motivação nenhuma. Ambos sabemos que não temos futuro juntos. Só o lado prático de manter as mesmas rotinas e de viver na mesma casa. Talvez a maior motivação para ficarmos juntos seja a vergonha que iríamos sentir ao admitir a derrota da separação. 

Isto assim não pode continuar. Ando a pensar pôr termo a esta situação. Mas sinto-me dividido. E eu não sou homem de várias mulheres, se uma já dá tanto trabalho, sinceramente não sei como há homens que conseguem andar com duas ao mesmo tempo. Mas o fim está próximo. Sente-se. Acho que não há salvação possível. Nem com terapia para casais. Mas como eu também já sei, nem sempre tem que ser um drama. E quem sabe até podemos ficar bons amigos... 

... e há uma grande diferença nisto tudo. Um emprego e a mulher que amamos, não é bem a mesma coisa.  

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Conversas Improváveis (32) - Estarei Grávido?

Começo a desconfiar que estou grávido.
- Então porquê?
Porque já estou com dois meses em atraso.


Imagem emprestada da net

domingo, 2 de dezembro de 2018

A Carneirada do "Sempre se Fez Assim"

"Os homens aglomeram-se na estupidez como a limalha de ferro no íman. É a estupidez, é o carneirismo, que faz andar a multidão de preferência por um lado do caminho e não por outro (...)

Nunca notaste a violenta reação, o simultâneo movimento de defesa de uma comunidade de estúpidos, quando aparece um inteligente? Quando um inteligente entra na sala, os estúpidos riem-se da sua gravata; quando aparece no meio do povo injuriam-no ou crucificam-no; Jesus lutou contra a estupidez dos formalistas; Buda contra a estupidez dos brâmanes. Quando um inteligente diz: "Para ir buscar especiarias à Índia, em vez de dar a volta por África, experimentemos navegar para oeste", acaba por fazer a viagem de regresso com grilhões nos pulsos, ainda mesmo que na ida tenha descoberto um continente. 

Outra pausa. Continuou:
- E este desastre acontece-lhe porque lutou contra a compacta organização daqueles que escolheram por mote a frase: "Sempre se fez assim". Mas se se fizesse como sempre fez, ainda hoje queimar-se-iam nas praças as feiticeiras, atormentar-se-iam com ferro em brasa os epilépticos, enforcar-se-iam como em 1600 os que comem carne na Quaresma, apedrejar-se-ia a adúltura, usar-se-ia a tortura para obrigar à confissão. É por virtude de algum inteligente que do apedrejamento da adúltera se desceu aos seis francos com que o código francês pune o adultério; é por obra de algum inteligente que a tortura não sobrevive a não ser em formas atenuadas numa ou noutra esquadra balcânica, onde os pontapés no baixo-ventre se chamam interrogatório. 


Vai-te Despedindo Dela Porque Eu Vou Levá-la Comigo

Imagem emprestada da net
As folhas quadriculadas com linhas azuis que tenho aqui comigo foram escritas por mim já no milénio passado. São meros rascunhos e anotações que bem que podiam ter ido para o lixo. Mas mantive-as sempre guardadas. Talvez para servirem de prova. Não foi sonho. Tudo aquilo foi bem real. E eu escrevi-o na altura em que o estava a viver, para que mais tarde, como hoje por exemplo, não duvidasse das minhas próprias memórias. 

Quis a vida que certo dia nos cruzassemos na rua e tu perguntaste-me se podíamos ser amigos. Disse-te que sim e tornamo-nos correspondentes. E depois amigos. Só amigos, se calhar, durante tempo demais. Mas foi o tempo que teve de ser até não ter dado mais para sermos só amigos. Até eu ter deixado de resistir e de mentir para mim mesmo, achando que éramos como irmãos. Até ao dia em que, sozinhos na traseira de um autocarro, disseste-me: "abre os braços". Eu abri e tu aninhaste-te no meu peito e disseste: "agora fecha". E eu fechei. E os abraços, como eu já imaginava que seriam, e fui depois aprendendo ao longo da vida, são muito intensos e perigosos quando gostamos muito de alguém.

Correspondentes. Amigos. Namorados.
Parece que passou tanto tempo entre a altura em que éramos meros desconhecidos, que nos cruzávamos nos transportes, e o tempo em que te tive pela primeira vez nos braços. Mas em boa verdade terão sido quê, dois anos? Mas quando somos novos dois anos é um tempo que nunca mais acaba.

Mas qualquer coisa aconteceu com o nosso encontro que despertou algo para o qual eu não estava preparado. Ninguém está não é? Porque ninguém nos  ensina a lidar com este tipo de coisas. Poucos dias depois de termos passado a ser mais do que amigos, abateu-se sobre nós, mais sobre sobre mim se calhar, qualquer coisa de diabólico, porque uma qualquer força que os meus olhos não conseguiam ver, queria-me afastar de ti.

Eu sou uma pessoal comum, não sou nenhum "special one" como o outro que se acha especial. Eu não tenho informação privilegiada do além. Eu não rezo aos santos; não sou religioso; não falo nem consigo ouvir o meu anjo da guarda, que se me fala eu não o ouço; nem ouço nem vejo ninguém que não seria suposto ver. A minha linha telefónica com o além está sempre desligada. Chama mas ninguém atende, ou ligam-me mas eu nunca consigo ouvir. 

O primeiro verdadeiro choque que tive foi quando percebi, sem sombra de dúvidas, que alguém falava por ti. Escondido no teu corpo, sabe-se lá durante quanto tempo, alguém nos observava. Alguém me observava a mim de perto sem eu me aperceber. Mas aos poucos foi saindo do armário. E é verdade que eu não sou nenhum special one, mas mesmo parecendo distraído, que o sou na verdade, sou também atento. E na sequência de várias ocorrências que não faziam grande sentido,  um dia percebi-o claramente. O choque foi ter percebido que, por vezes, não era contigo que estava a falar. Alguém te manipulava, alguém que me queria manipular, fazendo crer que eras sempre tu que falavas comigo. E nesse momento sim, assustei-me um bocadinho. 

Eu não sei há já quanto trarias aquilo contigo, nem há quanto tempo aquilo te manipulava. Não sei porquê, mas só se começou a manifestar quando começamos a namorar. Estava tudo bem enquanto éramos só amigos, ficou tudo mal quando começamos a namorar. E quando somos jovens e não temos grandes experiências nestes assuntos do foro sobrenatural, vamos aprendendo a estar muito atentos a tudo. Foi assim que fiz. Sempre atento e aprendendo aos poucos como as coisas funcionam na prática, e claro, procurar ajuda. Chamar reforços.

Chegamos a conversar os dois sobre o que poderia ter originado aquilo que se estava a passar contigo. E chegamos à conclusão que, uns anos antes, uma certa brincadeira ao jogo do copo que não correu muito bem, poderia ter estado na origem, mas na verdade, sei lá o que pode ter originado aquilo. Há coisas que muitas vezes simplesmente se identificam connosco e se colam a nós, ou que não gostam de todo de nós. Sei lá...

Mas foi curioso que, a partir do momento que aquela coisa se apercebeu que eu sabia da sua existência, então não precisou mais de camuflar e de se esconder atrás dela. Passou mesmo a falar diretamente comigo. E chegaram os primeiros avisos:

"Ela é minha, ou a deixas ou levo-a comigo. Nunca ninguém gostou dela, vens agora tu e estragas tudo? És um estúpido, estou-te a dar a oportunidade de saíres. Faço com ela o que quiser. Não acreditas"?  

Uma das coisas que percebi na altura, é que há coisas sobrenaturais muito mal educadas! E temos que ter noção que eu só vi a miúda do Exorcista possuída, a torcer a cabeça e a insultar toda a gente anos depois!

E durante vários meses passei a conversar com duas entidades diferentes: ela e outra coisa qualquer, em que a única coisa que queria era que eu a deixasse. Mas eu sou um bocadinho de ideias fixas e nunca a deixei. No desespero da coisa até acho que por vezes consegui achar alguma graça. Afinal, eu andava a ter grandes conversas não sei bem com quem lá do além! "Ele" começou inclusive a telefonar-me! E percebi que só se mostrava para mim. Uma vez ele estava a falar comigo ao telefone,  a mãe chamou-a, e de imediato ele desapareceu e respondeu ela. E ainda bem que naquele tempo não havia internet, senão sei lá, ainda vinha para aqui para os meus blogues tentar aterrorizar-me com mensagens ameaçadoras para toda a gente ler! Era o que me havia de faltar! 

Certo dia, depois dela ter ido comigo ao hospital porque eu fui fazer análises, passeávamos de autocarro porque eu ainda não tinha tirado a carta. E lembro-me bem deste pormenor que não está nas folhas quadriculadas azuis. Tu ias do lado da janela e passávamos pela Praça da Liberdade no Porto. Eu olhava para ti e estavas serena, parecias muito feliz. Eras tu. Mas de repente, as tuas feições e os teus olhos já não eram os teus olhos. Pelos teus olhos alguém olhava para a cidade, como se a estivesse a ver pela primeira vez. Já não eras tu. Estendi-te a mão para a apertares e ele fez com que me rejeitasses. Disseste-me: "deixa-me que eu já não te amo".  

Ele começou a ficar cada vez mais agressivo. Dizia-me que te ia matar:
"Despede-te dela porque já estou farto de ti, e agora vou levá-la comigo". 

Num outro fim-de-semana, debaixo das grandes árvores do Palácio de Cristal, trouxeste-me todos os medicamentos que tinhas em casa para eu guardar. Acho que ainda os tenho comigo guardados porque ainda guardo tudo o que era teu. Ele ameaçava-me fazer-tos tomar, e tu tinhas medo que sucumbisses e que ele te vencesse. Claro que ninguém sabia do que se estava a passar, e tu não andavas nada bem. E os exames finais para acesso da universidade aproximavam-se. Era um turbilhão de acontecimentos, uns atrás dos outros. E ainda por cima eu também tinha os meus próprios problemas que por essa altura não eram propriamente poucos. Estávamos, por exemplo, a poucos meses do meu primeiro internamento no hospital, que depois de lá sair, para lá teria de regressar porque saí de lá pior do que entrei. 

Se eu nunca fui uma pessoa especial, dessas que sentem, que ouvem ou que vêem, e que sabem dessas coisas, mas ainda assim, algum mérito eu tive que ter tido. Acho que qualquer outro namorado no meu lugar tinha simplesmente achado que tu eras louca. Mas repara que eu nunca me afastei de ti. Não fugi com medo. Nunca duvidei dos teus sentimentos sobre mim mesmo quando dizias o contrário. Eu nunca fui especial, mas ainda assim hás-de convir que alguma coisa de bom eu deveria ter. 

Eu lutei, resisti, pedi ajuda e fui onde foi preciso ir. Ao céu ou ao inferno. Ia onde tivesse que ir. 
E aos poucos, apesar d'ele ir estrebuchando, foi-se dissipando. Deixou de me falar, passou a manifestar-se indiretamente, e a sua força foi ficando cada vez mais fraca, até que, creio que nunca mais deu sinais de vida. 

Muitos anos depois haveríamos mesmo de nos separar, ou haveriam de nos separar. Não sei, também não interessa agora saber isso. Mas uma coisa é certa, não foi porque eu tivesse querido embora. Foi porque tu quiseste ir. Foi a tua escolha, o teu livre-arbítrio. Para o bem ou para o mal, tivemos todos de lidar com a tua escolha: tu, eu, e as pessoas que depois entraram na tua vida e as pessoas que depois entraram na minha vida. Nenhumas dessas pessoas teriam entrado nas nossas vidas se tu não quisesses ter ido embora e ainda hoje estivéssemos juntos.

E já passaram muitos anos. Tenho a certeza que já nem te lembras disto que fiz por ti. Nem tens que te lembrar. Eu não o fiz para que te lembrasses. Fi-lo para te tentar ajudar, tal como tu me terás ajudado em tantas outras situações que eu também já não lembrarei.
Mas olha como são as coisas. Anos mais tarde, fui sempre encontrando dessas tais outras pessoas verdadeiramente especiais, que me falaram de como sentem as coisas de uma forma que eu nunca senti. Talvez para me fazer acreditar, porque eu duvido muitas vezes. Não sei. Todas elas me disseram que têm guias que as orientam. Até porque é preciso saber lidar com aquilo e não deverá ser nada fácil. Percebi que é um dom que por vezes vezes se pode tornar numa maldição. Se calhar muitas dessas pessoas só gostariam de ser normais, como eu e como todas as outras. Disseram-me que vêem pessoas que já morreram. Que lhes mostram sinais. Sabem coisas que mais ninguém poderiam saber. Dizem-lhes para não saírem de casa de carro porque podem ter um acidente. Salvam-nas de morrer atropeladas. Vê lá  que coisa mais triste, até tiveram a honestidade de me dizer que as alertaram contra mim...  ou então, por outro lado, anunciaram-lhes que eu chegaria às suas vidas em breve.

E vê lá tu que umas dessas pessoas especiais disse-me mesmo que eu tenho uma missão cá nesta vida. Mas isso tu nunca vais saber. Tal como eu nunca saberia se tu não te tivesses decido ir embora. 

sábado, 1 de dezembro de 2018

Tanto Sooooono!


A Águia Voa Sozinha


Quando eu nasci a semente foi semeada
Não vou obedecer, a vida é minha
Mundo cor-de-rosa que me escraviza
Mentiras desmascaradas que me enfurecem

Não acredito no céu nem no inferno
Nunca me juntei ao rebanho
Escravo e Mestre não é para mim
Escolhi o meu próprio caminho, libertar-me

Sigo o meu próprio caminho
Nado contra a corrente
Para sempre lutar contra os poderes 

Eu, eu sigo o meu próprio caminho
Eu nado contra a corrente
Para sempre lutarei contra os poderes
A águia voa sozinha

Rejeitar o sistema que dita a norma
Este mundo está cheio de mentiras e enganos
Senti-me traído, por isso cortei tão fundo
Sofri a derrota só para me levantar de novo 

Sozinho!



The Eagle Flies Alone - Arch Enemy (2017)

Miúda de 18 anos Esmaga Chinesa Nº1 do Mundo


O ténis-de-mesa é um desporto verdadeiramente democrático. É para grandes e pequenos, para novos e mais velhos.

Mima Ito, uma japonesa de dezoito anos, um peso pluma de 45Kg fez história no torneio da Suécia ao ter despachado todas as melhores jogadores do mundo nas eliminatórias  (chinesas) , e na final, ter mesmo esmagado a nº1, a chinesa Zhu Yuling por uns impressionantes 4-0 como se pode ver no vídeo do jogo:




No vídeo abaixo podemos vê-la a treinar arduamente, e ainda troca umas bolas com Dimitri Ovtcharov, atleta alemão que este ano já foi número um mundial, e que depois, mesmo ao longe enquanto treinava botava o olho na menina japonesa a treinar. É que realmente impressiona. Cá  para mim aquilo é um rotot que os japoneses fizeram e vestiram-no com pele humana para disfarçar! É que o treinador falha mais a atirar-lhe bolas que ela a devolver rapidamente as bolas de um lado para o outro!

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Justiça: A Falta de Senso Comum

"Quando uma comissão da Câmara ou o Ministério da Justiça me propõe reformas parciais ou totais, respondo invariavelmente que não. Isto criou-me fama de reacionária mas o que eu sou de facto é uma rebelde: sou a primeira anarquista do Grão-Ducado. O código é que é, porém os pedidos de graça a que eu concedo perdão e o agravar de penas que inflijo, essas modificações das sentenças civis é que vão formar a jurisprudência; e nas setenças posteriores, os tribunais levam em conta as minhas modificações (...)

O estar acima da lei permite-me chegar onde a lei não chega. O sendo comum, o bom-senso, esta coisa que parece estar à disposição de todos, como a água dos chafarizes, ninguém pode usá-lo. Para usá-lo é preciso ser rei. O poucos reis o usam. Sirvo-me dele todos os dias. Surpreende-lhe que muitas vezes agrave a pena?
- Não. O que eu ão sabia é que a graça pudesse ser concedida às avessas...
Giselda volveu:
- Quer alguns exemplos? - E sem esperar resposta continuou:
- Se alguém involuntariamente mata o cão de luxo de um daqueles ricos senhores que fazem mais caso do "pedigreee" que do afeto, e o manda passear com os criados, é condenado a reembolsar o rico senhor com alguns milhares de xelins de indemnização; mas se mata por perversidade, com um tiro de espingarda, o cão de um cego que constituiu seu afeto, o seu património, o seu guia, o juiz condena-o a três xelins de castigo, porque o valor comercial do cão é mínimo e porque, pressupondo-se que a morte do cão tenha sido instantânea não há a agravante das sevícias. Acha que isto é justo? 

Se numa chávena de café não entrar nem sequer um grama de café, não acontece nada de mal, mas se ao pagar aquele café o senhor deixa sobre a mesa sessenta cêntimos em lugar de setenta, o empregado tem o direito de o arrastar até à esquadra mais próxima. Acha que é justo?
Quebrar o vidro de uma montra leva à cadeia, mas para quem destruir a um pobre órfão a única fotografia que possui de sua mãe, não há processo penal, porque o dano não é computável. Acha justo? Quem viola uma sepultura recente para roubar o alfinete de gravata do morto é condenado a seis meses. Mas se a sepultura está no Vale dos Reis e data de 4000 anos atrás, quem a profana é considerado um insigne egiptólogo. Convenço-o?


Loura Delicocéfala / Pitigrilli (1936)

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Touradas KO!

Confesso que não sou grande apreciador da rubrica "Não Me Obriguem a Vir Para a Rua Gritar" da Ana Markl na Antena 3. Primeiro porque se está a dar destaque às barbaridades que os trogloditas dizem na internet; depois, porque muitas vezes não acho que os comentários tenham especial relevo ou graça. Mas hoje confesso que o comentário escolhido foi, de facto, mesmo muito bom. A comprová-lo a gargalhada espontânea e sonora de Inês Lopes Gonçalves!

"A MAG publicou uma entrevista a um toureiro que usa a argumentação do costume. Ele diz que se não fosse a tourada os touros já não existiam. Comentário de Rui Manuel Castro:

"Então porque não começar a tourear linces ibéricos e pandas"? 

Ouvir aqui: Panda, olé...


Agradecimento à Camport

Como é sempre mais fácil dizer mal que bem, acho que também convém sublinhar bem quando alguém age de forma extremamente correta para connosco, mais ainda quando se tratam de empresas que, por norma, hoje em dia, só querem vender e se estão a borrifar para os clientes. E está quase a passar um ano mas, mesmo assim, não quero deixar de o assinalar aqui no blogue. 

Há uns bons anos comprei umas botas Camport. Como gostei do primeiro par acabei mesmo por depois ter comprado um outro um pouco diferente. Custaram-me na altura 60€. 

As primeiras ainda duraram bastante, mas tiveram um problema, que foi, as solas terem-se partido completamente a meio. Tudo bem, deitei-as ao lixo e continuei com o segundo par. Ora eu só uso botas no Outono-Inverno, maioritariamente quando chove ou com os dias frios. Não é propriamente um calçado que eu use muito, porque com bom tempo uso calçado mais leve. Mas passado algum tempo, aconteceu de novo o mesmo com as segundas botas. De novo o raio da sola partiu-se a meio. 

As botas depois da última caminhada
Esta situação deixou-me um pouco chateado, visto que, uma marca tão conceituada como a Camport deveria ter padrões de qualidade elevados. No entanto desta feita não deitei as botas fora, porque ainda por cima, tirando a sola, as botas estavam novas!

Então o que fiz? Contactei a Camport, expus a situação, expliquei que as botas já não tinham garantia, mas que ainda estavam novas, e quis saber se eles substituíam a sola e qual seria o orçamento. De imediato me responderem, e pediram mesmo "encarecidamente" que lhes enviasse as botas para analisarem a questão das solas. 

Entretanto fiquei à espera de notícias, e qual não é o meu espanto quando me devolveram as botas com as solas substituídas, completamente novas, e não me cobraram nem um cêntimo pelo trabalho. 

Tão habituado que ando a ser tão maltratado pelas empresas, que quando alguém assume um erro e faz um pequeno mimo ao cliente, que até fico surpreendido quando, se calhar, ser bem tratado no serviço após venda deveria ser a regra e não a exceção. 

Aqui fica o meu agradecimento público à empresa portuguesa de calçado Camport pela forma impecável como tratou desde caso. 

"Tu não gostas de Kate Bush e de Doom"?



É sempre engraçado quando nos convidam a ir ver um concerto de alguém que nem sequer tínhamos ouvido falar. Sim, eu gosto de Doom Metal e Kate Bush não é das piores coisas. Os dois juntos é que não sabia como ia resultar. Mas há muito que não ia a um concerto. 
Gostei, principalmente do ritual; do ir a um concerto. E da companhia, obviamente.
Do concerto propriamente... Bom... Casa da Música; bilhete caro. Esperava mais. Esperava algo decente, com qualidade. Já lá tinha estado mas há uns dez anos. Desta vez um som de merda. Um calor insuportável que mais parecia uma sauna. Lá fora chovia mais que na noite da tempestade e fazia imenso frio. Lá dentro estava-se a ver quem era eleita a Miss Tshirt Molhada. Eu acho que estava bem lançado pois se torcesse a roupa ela devia pingar bastante. E só isto tudo já me deixou um bocadinho irritado. Já não tenho paciência para certas coisas. E ao vivo afinal a menina não soa tanto Kate Bush... 

domingo, 25 de novembro de 2018

No Meu País as Touradas Não Têm Touros Nem Bandarilhas

- "Vossa Alteza falou em caçada ao veado? Julgava ter ouvido dizer que em todo o Grão-Ducado era proibida a caça. 
- E assim é - respondeu Giselda - esta selvajaria está proibida há dez anos, desde que subi ao trono; a caça abusiva é punida com seis meses de reclusão, um ano para os reincidentes, mil xelins de multa e a confiscação da arma. Há cinco anos, em França convidada pela Duquesa d'Uzès, tive o desgosto de assistir a uma caçada ao veado. Ao verdadeiro veado. O pobre animal, de olhos errantes, perseguido por imbecis a cavalo, despedaçado pelos cães, no meio de delicadas senhoras que teriam desmaiado se as manicuras lhes tivessem enfiado as tesouras por baixo da unha, fez-me chorar de indignação; sem saudar ninguém, deixei a Duquesa, um ministro, um pretendente ao trono de França, e fugi para Paris. No dia seguinte mandei buscar as malas. Para se justificar, a Duquesa d'Úzès disse que antes da caçada as matilhas, os cavalos e os cavaleiros eram abençoados, numa solene cerimónia, pelo seu capelão privado. Eu disse: "Quanto a isso gostava bem de conhecer a opinião de Jesus". Toda a imprensa da direita, desde a "Croix" até à "Action Française" me atacou. Quando regressei a Glotenburgo o partido clerical tinha-se unido com aos comunistas para me derrubar. Então, mandei que em todos os cinemas do Grão-Ducado os beijos na boca, que antes duravam três metros e meio de fita fossem limitados a um metro e setenta e cinco, e em dois dias acalmei a opinião pública e os jornais. A caça ao veado, no meu país, é uma caçada sem veado e sem espingardas: um pretexto para correr ao ar livre, jogar às escondidas nos bosques, cair na relva. 


Loura Delicocéfala / Pitigrilli (1936)