quarta-feira, 4 de outubro de 2017

A Liberdade Aparente

Domingo 1 de Outubro de 2017. 
Pouco depois de votar, ouvia no carro, as notícias sobre os catalães, que também queriam manifestar a sua opinião, no seu referendo, a favor ou contra a separação de Espanha. E enquanto ouvia, refletia acerca das cargas policiais sobre cidadãos desarmados, que a única arma que poderiam ter consigo, era uma caneta para assinalarem uma cruz num papel, transmitindo assim a sua opinião sobre este assunto. Não importa se estavam a favor ou contra. Nada disso me interessou refletir no momento. A única coisa que para mim importou, é  que o grande crime que aquelas pessoas estavam a cometer, era quererem emitir a sua opinião. Ironicamente, os catalães pretendiam fazer a mesma cruz que eu momentos antes tinha acabado de fazer em três diferentes papeis. Mas em Espanha, tal gravíssimo crime, mereceu da parte do governo espanhol uma violenta carga sobre as pessoas.

De repente, parece que estávamos na era medieval, em que qualquer manifestação contra o Rei merecia nada menos que a pena de morte. É que nem de propósito, no dia anterior, sábado, de visita ao Museu do Vinho do Porto, relembrei, de novo, a história da Revolta dos Taberneiros (1757), contra a criação da Companhia dos Vinhos e do constante aumento de impostos, revolta da qual, o rei, quando soube, não gostou nada. E o resultado foi, depois de identificarem as pessoas, foram enforcadas e decapitadas para que servisse de exemplo para os demais não se atrevessem, de novo, a contestar o poder absoluto do rei. 


E eu fiquei a pensar nisso. No domingo passado, eu, bem como todos os portugueses, fomos todos incentivados a colocar lá as cruzinhas nos boletins de voto. Talvez porque, no fundo, escolhêssemos o que quer que fosse, a escolha como que já está sempre feita por nós. O sistema permanece sempre o mesmo, que beneficia quase sempre os mesmos em detrimento dos outros. Já os catalães queriam fazer uma escolha fora do sistema. E o sistema está feito para se proteger a si mesmo. E quando alguém ousa colocar em causa os poderes instituídos, esse sistema reagirá com grande violência, tentando amedrontar os demais. 

E é por isso que vivemos uma liberdade faz de conta, uma liberdade aparente, que não é real. Parece que temos liberdade de expressão, mas na verdade somos cada vez mais controlados e, incrivelmente, são agora as próprias pessoas a quererem entregar de bandeja a sua privacidade. Outrora, na era medieval, usava-se a forca e a decapitação. Hoje, em pleno século XXI, quando é preciso, a força é usada na mesma, sem qualquer respeito pela liberdade de expressão das pessoas. E a democracia é muito bonita "o governo para o povo" ou a ditadura escolhida pelos ingénuos, mas a própria democracia matou Sócrates, o pai da filosofia e  um dos seus mais acérrimos críticos.
Em democracia, o poder de escolha é sempre uma liberdade aparente. 

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