segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Ingratidão

"Se recolheres um cão que ande meio morto,
 podes engordá-lo e não te morderá.
 Essa é a diferença mais notável que existe
 entre um cão e um homem"
MARK TWAIN

Às vezes pergunto-me: para quê fazer o bem e ajudar os outros, se invariavelmente acabamos por receber mal? Vale mesmo a pena ser bom, se na maioria dos casos as pessoas só nos querem usar? Então, se calhar, mais valeria nunca fazer bem nenhum. Às vezes penso mesmo que os maus são os mais queridos, esses é que têm mesmo sorte. 

Durante anos as pessoas não nos ligam. Não precisam de nós para nada. Não temos utilidade. Mas de repente, quando estão sozinhas, afundadas na merda, já vêm de fininho, chorar misérias e pedir-nos ajuda... 

Ainda por estes dias pensava no caso dos vizinhos dos meus pais. Não lhes falavam. E nunca ninguém lhes fez mal. Mas entretanto a vizinhança soube para onde fui trabalhar, e de repente todos começaram a falar e já pareciam os melhores amigos. Porquê? Lá está, porque eu lhes podia ser muito útil. Muitos anos depois a empresa fechou e eu fiquei desempregado. E não é que aos poucos acabaram por nos deixar de falar de novo?

Mas com este tipo de gente, que nem o Diabo os quer no Inferno, quanto mais distância melhor. No fundo eu estou-me literalmente a cagar para eles. Que eles precisem tanto de mim como eu deles. Mas é um bocadinho diferente quando se trata da própria família.

Por estes dias retive o que o meu colega de trabalho disse sobre as famílias:
- Famílias? Distância! Quer da minha, quer da minha mulher. Quanto mais distância melhor.


Eu não sou assim tão inflexível. Depende. Há famílias e famílias. É como em tudo. Há umas muito boas mesmo; outras há que se podia fazer uma rifa delas, pois é na família que temos os piores inimigos. E as pessoas parecem mesmo muito unidas, mas muitas vezes mal surge uma herança, e de repente já cada um por si a tentar tirar o máximo proveito e a fazer dos outros parvos. 

Infelizmente, acho que se pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita, de igual modo posso concluir que pau que nasce direito dificilmente fica torto. Uma coisa é aprender com os erros, outra é mudarmos caraterísticas inatas.

E por norma as pessoas julgam os outros por aquilo que elas próprias são. Daí que, por exemplo, é normal que os ingénuos raramente desconfiem dos outros, uma vez que, como nunca fariam determinada maldade, não acreditam que haja alguém que as faça. 
De igual forma, quem não sabe o que é fazer o fazer o bem, sem nunca esperar nada em troca, fica sempre de pé atrás, e está sempre à espera que lhe façam aquilo que eles próprios fariam nessa situação. 

Mas eu não me tenho por ingénuo, bem pelo contrário. Até acho que ás vezes sou bastante clarividente. Sim, às vezes confio demais. Mas eu não sou Cristo. Se me dão uma bofetada eu só não respondo se não puder.

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