sábado, 30 de abril de 2016

Quem precisa de taxistas?

Logo pela manhã, a caminho do trabalho, ouvia na rádio falar-se de uma manifestação de taxistas contra a nova empresa que se instalou (e que na verdade eu pouco sei) mas que lhes tem feito concorrência porque pratica preços mais baratos para o consumidor, sem que no entanto esteja submetida às mesma regras (impostos) de acesso ao negócio. 

Sobre este assunto, que como já deu para perceber não domino minimamente, devo no entanto dizer que sou bastante equidistante. Nem gosto particularmente de taxistas - conhecidos por não serem particularmente sérios (eu sei, não generalizemos) - nem por outro lado de empresas multinacionais como esta coisa sinistra da Goldman Sachs, que ao que se diz é quem manda no mundo, e que arranjam estratagemas para passar por cima de todos os outros, como se vivêssemos numa verdadeira selva capitalista.

Politicamente, o pessoal de esquerda acha que tudo precisa ser regulado, que o Estado precisa de fazer leis para impedir certos abusos, por exemplo os tais que aconteceram na banca, e que teve como consequência esta crise mundial de 2007 e onde viemos a depois a verificar que os bancos, um pouco por todo o mundo, andavam em roda livre, ocultando verdadeiros crimes económicos, desde o gigante mundial Lehman Brothers ou à sua dimensão os bancos portuguesinhos: BPN BPP e BANIF que os contribuintes tiveram de pagar apesar de serem empresas privadas. 
Depois o pessoal de direita acha que não, que o Estado não deve interferir nos negócios privados, e dizem que o mercado se auto-regula pela concorrência. 

Sobre este caso dos Taxis temos de concordar que, para o bem e para o mal, o mundo de hoje não é o mesmo de há cinquenta anos e as coisas hoje em dia mudam muito rapidamente e mudam contra tudo e contra todos. 

A internet apareceu e com ela as coisas nunca mais foram as mesmas. Foi talvez o aparecimento da Internet que revolucionou  toda a sociedade humana desde, sei lá - o aparecimento da roda? É que na verdade, tudo passou a ser diferente nas nossas vidas. Hoje faz-se as compras do supermercado pela net, vamos ao Banco pela net, as pessoas "socializam" pela net, fazem sexo virtual pela net, tudo acontece porque estamos todos ligados em rede. 


Imagem via Pinterest


Ninguém mais vende duzentos mil discos como os Silence 4 o fizeram em 98. Nunca mais! Porque simplesmente as pessoas não vão pagar 15€ por um disco, quando o pode adquirir de borla num site de partilha de ficheiros. Cada vez menos se compram jornais, porque hoje em dia temos as notícias de forma totalmente gratuita na net. Cada vez menos se vai às bibliotecas fazer uma pesquisa, porque basta clicar (ou googlar) para se saber quase tudo o que se quiser saber. Já não se enviam cartas (ou quase) porque existem e-mails, mensagens instantâneas, ou porque as pessoas podem falar por videoconferência na Internet em vez de se escrever.

Abriu-se uma Caixa de Pandora chamada Internet e agora não há para voltar atrás.
Os taxistas reclamam da aplicação da Uber. Mas por que é que as empresas de Taxi não inovaram primeiro, criando uma coisa semelhante a pensar no consumidor? Lá está, não o fizeram porque não tinham concorrência, e quando não se tem concorrência é muito fácil ser líder de mercado. 

Mas nem só a Internet mudou as coisas. Há inúmeras profissões que acabaram, fruto das mudanças na sociedade. Há não tantos anos assim, existiam por exemplo os alfaiates e as modistas, que faziam roupa por medida. Depois com a industrialização e as produções em série apareceram os Pronto-a-vestir e os alfaiates e as modistas ou se reconverteram ou mudaram de profissão.

E nós já não vivemos como há cinquenta anos atrás, que em Portugal quase ninguém tinha automóvel. Para o bem ou para o mal, qualquer pobre hoje tem o seu carro, aliás, a maior parte das famílias até tem mais do que um carro, o marido tem um e a mulher tem outro. Os meus vizinhos por exemplo têm quatro carros, o casal cada um tem um , e ambas as filhas também. 

No meio disto tudo o que eu acho é que a grande estupidez é andarmos todos com carros, em que a maioria até leva lugares para cinco pessoas, mas cada um só anda com consigo mesmo lá dentro. Porque eu acho que a Internet é boa ou má, dependendo do uso que dela fazemos. E o que eu ainda não consigo compreender é o porquê de andarmos a falar de taxistas, quando Estado, ou até as próprias empresas, deveriam promover formas de facilitar a vida das pessoas. Facilitar a vida das pessoas, não é, como em muitas cidades por esse mundo fora, proibir as matrículas com números par à segunda-feira, e as matrículas com números ímpar à terça-feira. Ou como se fez em Lisboa, que se proibiu a circulação de carros anterior ao ano 2000, que como é evidente vai penalizar quem tem carros mais antigos, porque simplesmente não tem dinheiro para comprar carros mais recentes. 

Facilitar a vida das pessoas é, por exemplo promover e incentivar a partilhar de carro. É verdade que já existem alguns sites de partilha de carro, mas o seu uso (como eu mesmo pude constatar) é ainda residual. 

- Quantos milhares de carros retiraríamos das estradas se partilhássemos os carros uns dos outros, pelo menos à semana, a caminho do trabalho?
- E quanto é que isso reduziria a nossa pegada ecológica no planeta? 
- Quão melhor seria a qualidade do ar nas grandes cidades?

Temos a Internet. Temos agora milhões de condutores e milhões de carros. Andam todos à pancada por causa dos taxis, mas aquilo que eu ainda não percebi é: Quem é que nos dias de hoje ainda precisa de taxistas? 

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Oito meses e quatro dias depois...

É curioso como ainda por estes dias pensava na Carla. Relembrava aquele seu texto em que que dizia que, apesar da impossibilidade, por vezes, quase acreditava estar a ver o seu pai, e em que eu comentei que me acontecia precisamente o mesmo, apesar no meu caso, a pessoa não me ter morrido fisicamente.
E também eu converso muitas vezes com aquela mulher que voou para muito longe dos meus braços. Já me aconteceu ir a conduzir, olhar para o banco ao lado e vê-la ali, a olhar para mim. Muitas vezes até tenho conversas parvas com ela, e imagino o riso dela tão caraterístico, e depois também rimos os dois. Acho que na verdade nunca encontrei mulher que me achasse tanta graça como ela. “Tu és demais” dizia-me constantemente, e apesar de eu achar que sim, que tenho sentido de humor, mas não posso ter tanta graça assim.
Também muitas vezes escrevo sobre ela. Acho que primeiro de tudo, para eu mesmo acreditar, que o que vivi com aquela pessoa, naquele curto período do tempo, aconteceu mesmo, e não é tudo da minha cabeça. E depois porque para mim acaba por ser terapêutico.
A dor da perda nunca é fácil, e não é pelo menos para aqueles que como eu se ligam às pessoas de quem gostam. “Não é que isso seja mau, mas tu apegas-te demais às pessoas e depois é tudo muito mais complicado” disseram-me. Mas para mim não há outra forma de viver que não seja aquela de nos entregarmos aquelas tão poucas pessoas com quem na vida criaremos fortes laços de amizade ou de amor.
E depois eu provavelmente devo fazer tudo ao contrário do que os livros de auto-ajuda e os psicólogos dizem que se deve ou não fazer. Até do que os amigos me dizem. Mas cada um sente e faz o luto à sua maneira e procede da forma que acha melhor para si. É que, em pessoas diferentes, nem sempre o mesmo medicamento resulta de igual forma.
E tudo isto para lhe dizer que, por estes dias pensava na Carla, porque gostaria de lhe dizer que, se tudo correr bem, daqui por algumas horas – oito meses e quatro dias depois – irei mesmo ver esta mulher, e irei até tê-la de novo nos braços, mas só durante o tempo que durar o abraço apertado que certamente iremos dar.
Sabe Carla, apesar da dor de já não podermos ter aquela pessoa da forma que gostaríamos, eu acho que nós só perdemos mesmo as pessoas que amamos, quando elas se esquecerem definitivamente de nós, quando deixarem de se preocupar connosco ou deixarem de nos querer bem.

(Na sequência de Vejo-te mas nunca és tu)

Sesta no Cemitério





Cemitério de Agramonte / Porto

quarta-feira, 27 de abril de 2016

A Semente de Boca pega Sempre

Já conhecia aquela senhora.
Foi numa das caminhadas com história que havia feito pelo Porto. Nesse dia chovia bastante, e eu, achando que não ia chover - como se a chuva me metesse medo! - decidi deixar o guarda chuva na mala do carro. Mas enganei-me. É verdade que tinha um bom casaco quente e impermeável, mas confesso que estar a apanhar aquela chuva fria, enquanto ia ouvindo as explicações sempre precisas da historiadora, apesar de poder ser bastante sexy,  também não era lá muito agradável. E foi essa mesma senhora, que simpaticamente chegou ao pé de mim e disse-me para ficar com o seu guarda-chuva, e que eu não me preocupasse, pois ela agarrava-se bem à amiga com quem estava.

À entrada do restaurante eu estava em amena cavaqueira com duas meninas já conhecidas e uma outra senhora, e então decidimos ir entrando, enquanto a maioria estava sentada cá fora, nuns bancos feitos de paletes. Já depois de estarmos devidamente instalados, e ainda com a sala bastante vazia, aparece aquela senhora, que diz, que se vai sentar em frente do "Engenheiro".

O "Engenheiro" é um senhor já careca de cabelos grisalhos e de farto bigode branco, que usa uma bengala de pau para caminhar (ao invés dessas bengalas ou bastões extensíveis todos modernaços que as restantes pessoas usam) e sabe sempre muito sobre muitas coisas. Não sei é o porquê de toda a gente o tratar sempre muito respeitosamente por Engenheiro, mas suponho que seja por ele ter sido, como é lógico, engenheiro lá na câmara municipal, nos tempos em que havia muito pouca gente com estudos.

"Eu sento-me aqui, à frente do Engenheiro" disse a senhora.
Mas na verdade o Engenheiro estava sentado ao meu lado direito, e para sermos mais precisos esta senhora, com idade para ser minha mãe, estava-se a sentar à minha frente.

Rapidamente ela se mostrou uma excelente conversadora. Começou por pedir ajuda com o pau, que como não era o dela, não sabia lá muito bem como o encolher. Estava a falar do bastão da caminhada. Acho que foi uma espécie de quebrar o gelo. Mas comigo nem são precisos grandes preliminares nas conversas para soltar a língua, pois se for preciso começo logo a desbobinar forte e feio!

Mas também sei, que é preciso saber ouvir. E ouvi-a mais do que ela me ouviu a mim. Concordei em grande parte com as coisas que foi dizendo. Por exemplo quando dizia que as pessoas só se aproximam das outras por interesse, para obter algo. Ou quando disse que nada é de ninguém, tudo foi roubado, porque quando a primeira pessoa se lembrou de fazer uma cerca e mura um terreno, só estava a roubar, pois a terra não tem dono. E eu disse-lhe que ela estava a citar Rousseau, no livro "Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens":

"O primeiro que tendo cercado um terreno se lembrou de dizer: "Isto é meu", e encontrou pessoas bastante simples para o acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao género humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado aos seus semelhantes: "Livrai-vos de escutar esse impostor; estareis perdido se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de ninguém"

Fui sempre ouvindo a senhora com muita atenção. Gosto muito de ouvir as pessoas mais velhas, têm sempre imensa sabedoria para nos transmitir, basta para isso deixá-las falar e ouvi-las. E retive uma frase que até tomei nota para não esquecer. Segundo ela, a sua mãe dizia sempre:

"A semente de mão pega ou não pega. A de boca pega sempre". 

O que é que isto significa? 
Então é assim. Quando pegamos numa semente e a deitamos à terra, uma de duas coisas vai acontecer: ou vai germinar (pegar) ou não ("pega ou não pega"). Mas quando dizemos uma coisa, e com quanto mais veemência a dissermos pior, pois só uma coisa vai acontecer: vai acontecer o que estamos a dizer que nunca aconteceria connosco! E eu disse-lhe que sim, que acredito verdadeiramente nisso, aliás já me aconteceu a mim. Quando mais uma pessoa diz que nunca isto ou aquilo, mais depressa isso lhe vai acontecer. 

No fundo esta é uma versão da conhecida expressão "Nunca digas nunca" ou da "Não cuspas para o ar que te pode cair em cima". Ainda assim acho que vou começar a usar esta, parece bem mais misteriosa e enigmática. "Olha, cuidado que a semente de boca pega sempre"!

terça-feira, 19 de abril de 2016

Conversas Improváveis

Via Pinterest


Você não tem GPS, não tem Facebook...
- E quer ver quão moderno é o meu telemóvel?  (tiro-o do bolso das calças e mostro-lho) 
Mas olhe que até tenho um lá para casa um com Net e tal, daqueles de passar o dedo, mas sinceramente nem tenho paciência para aquilo.
- Mas então você tem paciência para quê? Para cuidar e pentear esse cabelo todo? 
Ah isso tenho. E penteio-me todos os dias! (sim porque já houve quem pensasse que não) 
E até uso um condicionador todo cheiroso e tudo.
Então quando cá vier eu vou-lhe arranjar uma máscara que é daqui (de trás da orelha). Não lhe vão faltar namoradas!
Oh... eu estou muito desiludido com isso. Já não arranjo casamento! Eu até encontrei uma mulher espetacular e apaixonei-me perdidamente... mas pronto. (suspiro...quase a fazer o ar do Gato das Botas do Shrek!)
Olhe, isto agora mais vale é ir casando!


domingo, 17 de abril de 2016

Havia sempre futebol

Foi também em Abril por estes dias. 

E já nem sei quem de nós os dois chegou a comentar primeiro, mas parecia que sempre que saíamos, havia sempre, numa televisão qualquer, um jogo de futebol a decorrer.

O futebol nunca que foi importante para nós quando estávamos juntos. Era o que havia de faltar se fosse. O tempo não nos chegava para coisas bem mais importantes. Todo o tempo era e foi demasiado precioso, para perder, prestando atenção a jogos de futebol. 

Tínhamos (e temos) simpatias clubísticas diferentes, coisa que eu até achava graça. Tal como acharia provavelmente a mesma graça se torcêssemos pelo mesmo clube. Mas não torcíamos.
Olha, agora que penso, se calhar já não acharia tanta graça se tivéssemos opiniões políticas antagónicas. Sabes, eu acredito que isso sim, talvez pudesse ser um problema. Porque as questões políticas refletem-se em tudo, e não só quando decidimos ir meter o voto na urna.

O Rui Veloso cantava (e ainda deve cantar - vês? - eu falo mesmo muito no passado! Mas tudo é passado, mesmo este parêntesis que vou fechar agora!) mas como dizia, o Rui Veloso canta que não se ama quem não ouve a mesma canção. E eu pergunto: será que se ama alguém que tem uma visão do mundo completamente diferente da nossa? Nós amamos desde logo quem admiramos, e tu sabes que eu tenho uma enorme admiração por ti. Tenho até pena de não ter podido ter o privilégio de desfrutar mais da tua companhia durante mais tempo, porque certamente ainda iria descobrir muitos mais motivos para te admirar. Mas será que eu conseguiria admirar alguém, que tivesse uma perspetiva da sociedade tão diferente da minha, a ponto de me apaixonar? Não vou dizer nunca, mas sinceramente parece-me um bocado difícil.

Olha, isto até me faz lembrar do Torrejõn, um tipo que fez o curso comigo. Éramos completamente diferentes. Ele era pró-americano, adepto das touradas, do Futebol Clube do Porto, e de extrema-direita. Mas olha, ironicamente, era o tipo com quem melhor dava por lá. Só tínhamos um pequeno problema, não podíamos conversar...sobre quase nada!
Mas certo dia, ele, que me tratava carinhosamente por Satan, contava-me, revoltado claro, que a sua namorada de tantos anos - e que toda a gente pensava que eles iriam casar e ficar juntos para sempre - que a moça lhe havia confessado que votou no Bloco de Esquerda! Vê lá tu! Ele, que era de extrema-direita, e que acreditava que se devia meter tudo que fossem pretos, gays e doentes numa ilha e explodi-los! E a namorada a votar num partido de esquerda que defende as minorias!

As simpatias clubísticas são uma mera curiosidade, pelo menos para mim, a quem o futebol não enche barriga, nem me chateia muito, visto que, como sabes, nem sequer vejo os jogos na televisão, nem no computador. E nunca que deixei de sair, de fazer o que quer que seja, no fundo nunca que deixei de viver, ou de fazer alguma coisa mais interessante, só porque a essa hora estava a jogar o meu clube.

É verdade que gosto de ir acompanhando, ainda que à distância o fenómeno, e interesso-me mais até pelo lado psicológico da coisa, mas nunca como hoje liguei tão pouco às coisas da bola. E quando penso nos salários pornográficos dos jogadores, então nem se fala. Como é possível que uns tipos, só porque dão uns pontapés numa bola, possam ganhar mais dinheiro em dois meses que a grande maioria das pessoas numa vida inteira? Isso é completamente aberrante e não faz sentido nenhum.

Mas não há regra sem exceção. E nós nem tínhamos regra, porque na verdade nunca dissemos que não haveríamos de prestar atenção a um jogo de futebol. E na verdade vimos, os dois, juntinhos, um jogo de futebol. 



O dia era de certa forma mais especial, mas era principalmente porque estivemos juntos, e para mim, todos esses míseros dias em que estivemos juntos foram sempre muito especiais. Todos eles. Do primeiro ao último. Mas nesse dia, acabamos a jantar naquele grande espaço comercial, aquele onde certamente te lembras que me escolheste uns sapatos, com muito poucas pessoas em volta (provavelmente todas em casa para ver o jogo da bola!) e com várias televisões em volta.

E até chegamos a pensar que não iam transmitir o jogo! Segundos antes do jogo começar estar a dar outra coisa qualquer! Até eu ia ficar desiludido e era o teu clube que ia jogar. Mas já quase em cima do apito inicial, um segurança chegou e mudou de canal. Afinal íamos mesmo ver um jogo de futebol juntos. Íamos ver o teu clube a jogar contra os alemães nos quartos de final da Liga dos Campeões. 

Sabes, lembrei-me disto, mal calhou em sorte ao meu clube, o mesmo adversário alemão que calhou ao teu no ano passado na mesma fase da mesma prova. E olha, para que nenhum de nós se possa rir do outro, infelizmente ambos tiveram o mesmo destino!

O futebol nunca foi importante para nós, do ponto de vista de duas pessoas que se conheceram e se apaixonaram, e que, enquanto olhavam nos olhos uma da outra, tudo o resto não tinha qualquer importância. Mas este pormenor sem importância, não que fosse preciso, mas fez-me relembrar de nós, naquele dia específico, e de sempre que saíamos, parecia que havia sempre futebol.

P.S: Sabes perfeitamente que eu me prendo com os detalhes. E logicamente que a imagem não foi escolhida ao acaso.

P.S, 2: Não, o Torrejõn não casou com a namorada que votou no Bloco de Esquerda!

"Os Portugueses"

Os portugueses não formam uma sociedade porque não são sócios uns dos outros. Tomemos os exemplos mais corriqueiros. Na cidade velha, vai-se pela rua e pode-se apanhar com sacos de migas de pão ralado, atirados aos pombos, na cabeça. E a rua está cheia de cagadelas de cão, coisa que não se vê em mais cidade nenhuma, porque cada um entende que o espaço público se pode sujar à vontade. Lisboa é habitada por uma horda que usa fato e gravata e anda de automóvel, mas que não chegou sequer ao patamar mínimo de civilização urbana. Começa-se sempre de cima para baixo. A Lisboa 94, com a sua falta de ideia, fez várias coisas em cima sem haver nada em baixo, confundiu arte com cultura. A cultura começa nas ruas onde se pode andar, no ambiente cuidado, nos jardins tratados, que não existem.

Há um total desprezo do próximo, uma falta de noção dos direitos e deveres urbanos civilizacionais. Soube agora de um caso que se passa num prédio normal do centro da cidade. Há alguém que guarda a moto do filho de família no patamar entre o terceiro e o quarto andares e, quando lhe vão dizer que não o pode fazer, essa gente que é licenciada fecha a porta, dizendo: «A moto é minha, eu faço o que eu quero!» Tal e qual como o sapateiro que bate no filho e diz: «O filho é meu, eu faço o que quero!». É a sociedade do «salve-se quem puder». A maior parte das discussões que se geram em bichas, em lugares públicos onde se reclama um direito, resulta da falta de noção muito exacta que qualquer alemão, francês ou italiano tem dos seus direitos e deveres. Aqui é tudo uma «questão particular». Passa a não ser uma sociedade organizada mas um clã. É simpático, de repente, encontrarmos uma grande humanidade e intimidade onde menos esperávamos. Sabe bem mas o preço é caro, implica um dia-a-dia desgastante, onde tudo funciona improvisada e desastradamente. Nem se pode andar pelas ruas porque os carros ocupam os passeios. São insignificâncias que vão criando e alimentando quotidianamente um mal-estar, um cansaço, uma perda de energia. Quando ando pela Baixa duas ou três horas, começo a sentir um esgotamento de tipo espiritual, ao contrário do que acontece em qualquer cidade europeia em que fico mais alerta, enérgico e cheio de ideias. Aqui, começo a arrastar os pés e a andar em passo de procissão, que é como fazem os portugueses, um pouco vergados, dai a metáfora de trazer um peso nas costas. Há, de facto, um peso qualquer que está lá dentro, nas costas do espírito. Este país é como uma eterna pequena constipação.

E esta fatídica vocação para as pantufas… Conta-se que, depois do terramoto, alguns aristocratas que ficaram sem palácio instalaram-se em barracões onde é hoje o Rato, com grande promiscuidade e as couvinhas lá atrás. Quando os palácios ficaram prontos, não queriam sair, pois era ali que lhes sabia bem. Isto define a mentalidade portuguesa.

A arte em Portugal não tem a ter com a vida. O museu e o espectáculo são coisas que se passam em lugares fechados, com horário e um culto feito em grande parte de snobismo e de obrigação social. Daí o grande desconforto dos artistas em Portugal, uma espécie de marcianos, porque aquilo que fazem não tem nada a ver com os interesses da sociedade. Em Itália. o cidadão mais humilde tem uma intuição, um conhecimento e uma veneração pela arte que aqui terá talvez o equivalente na veneração pela Nossa Senhora de Fátima. Até coincide porque é a veneração por um desconhecido, pelo que está para além da razão. Se não houvesse motivos exteriores, não creio que fizesse falta a quem quer que fosse ir a exposições de pintura, ao teatro ou à ópera.

Há um egoísmo perfeitamente catastrófico que caracteriza os portugueses. No seu dia-a-dia, desde que tenha resolvido o seu problemazinho e possa comer o seu bifinho com batatas fritas ou o seu bacalhauzinho, já tira dai um prazerzinho que o deixa satisfeito. O Eça usou todos esses diminutivos com razão, porque tudo é pequeno, da dimensão ao espírito. Satisfazem-se com pouco.

Outra característica dos portugueses é ter medo do risco, podem cair no ridículo, que fica muito mal. Ora para fazer grandes coisas, é preciso arriscar cair do trapézio. Mas os portugueses preferem trabalhar com rede ou então a um metro do chão. Os Descobrimentos foram uma necessidade porque essa gente que vinha do Norte do Pais, a cair de fome e a morrer pelo caminho, não tinha outra hipótese. E não esqueçamos os mercenários. Os relatos deixam-nos imaginar o tormento daquelas viagens, com doenças e sem comida, em condições de puro desespero. Depois, lá veio a mitificação histórica. Obviamente haveria alguns, poucos, a começar pelo infante D. Henrique, que teriam o seu projecto de alargar a Terra, de chegar a qualquer lado e de tirar lucro, que é o que faz correr o homem. O Camões diz textualmente, n’Os Lusíadas, que «nunca houve nação, nem bárbara, que prezasse tão pouco as artes como a portuguesa». E o padre António Vieira dizia, naquelas etimologias divertidas, que o mundo é mundo porque, por antífrase, é imundo tal como a Lusitânia se chama assim já que não deixa luzir ninguém por causa da inveja. E podíamos continuar com o Eça, com o António Nobre, com os que reflectiram porque tiveram oportunidade de comparar… (…).

Vivi na Alemanha muitos anos e pude constatar que o mito do amor ao trabalho dos Alemães é falso. Não gostam de trabalhar, mas sabem que é preciso. Por isso, fazem-no o mais eficientemente possível. Durante o trabalho, os alemães não conversam sobre futebol nem as alemãs falam de meninos, como aqui. E fora dele é tabu falar sobre isso. Ao contrário de Portugal, onde se passa o almoço a falar do trabalho, uma paranóia perfeita.

Enquanto a Europa é urbana e civilizada há muito tempo, em Portugal o crescimento faz-se por saltos muito grandes. Temos a ideia de que o progresso é deitar fora o que há e substituir pelo novo, o que mostra que não o conseguimos integrar. Em cada época, há elementos que definem o novo-riquismo. No século XVI, o embaixador do Papa escrevia para Roma a dizer que não entendia porque é que o barbeiro, um homem muito pobre, tinha um pretinho para lhe carregar a bacia quando ia fazer a barba a casa do cliente. Na Segunda Guerra, houve o boom dos novos-ricos do volfrâmio e dizia-se que eles comiam a sardinha assada com pão-de-ló. Hoje continua e, apesar do novo-riquismo destes anos em que já somos europeus, basta por o pé para lá da fronteira para perceber que somos cada vez menos em termos culturais. Temos o mito das melhores praias, dos melhores vinhos, mas quanto tempo vão durar? Há terrenos próximos de Lisboa, na zona do Ribatejo, que estavam classificados para agricultura exclusivamente. Há três ou quatro anos saiu um decreto que permite utilizá-los para campos de golfe desde que sejam reconvertíveis. Daqui a 15 anos, comeremos bolas de golfe em vez de couves…

Os Ingleses, mesmo lá no extremo do Sahara, continuam a manter a nacionalidade e a beber o chá das cinco porque têm uma personalidade forte. Mas um português na Alemanha, ao fim de cinco anos é alemão, e no Japão torna-se um autêntico japonês. Tem uma capacidade espantosa de adaptação, uma qualidade que lhe facilita a vida, mas que é sinal de uma personalidade fraca. O nosso racismo é económico. Tratamos com servilismo os que têm mais dinheiro que nós, embora haja quem diga que isso é a cordialidade do português a acolher os estrangeiros.

Tal como há quem diga que a língua portuguesa é o espanhol sem ossos. Compare-se o «quero-te» com o «te quiero»: enquanto num a entoação morre no fim, no outro a afirmação é evidente logo no som. É como se nem na língua tivéssemos coluna vertebral.

Portugal ficou a meio caminho entre o Norte de Africa e a Europa. E não se consegue definir. É pobre combinar as coisas sem definir uma ideia e uma identidade próprias. Não há, em Portugal, politica no sentido autêntico da palavra, uma ideia de sociedade para dar forma ao Estado. Não há partido que a tenha, excepto, talvez, o comunista, mas não é uma ideia própria. Os políticos portugueses, tal como os artistas, são preguiçosos, pouco competentes e bastante diletantes”.

"Os Portugueses" / Alberto Pimenta (escritor, poeta e ensaísta)

 (publicado no Diário de Notícias de 29 de Janeiro de 1995)


sábado, 16 de abril de 2016

EDP: Paga o que me deves

Chamar, com todas as letras de L A D R Õ E S a quem gere a EDP, a antiga elétrica nacional, que o ex-governo fascista de Passos e Portas nacionalizaram ao Estado Chinês, e que eles muito agradecem, pois a cada dia que passa lhes mete no bolso 400 Mil Euros, não é um insulto gratuito: é um facto. 

Ladrão não é só aquele que nos assalta o carro, a casa, ou nos ripa a carteira quando estamos distraídos nos transportes públicos. Ladrões são também aqueles que, todos os meses, nos cobram dinheiro a mais, muito a mais diga-se, pelo serviço que nos prestam. É como um qualquer funcionário mal intencionado de uma loja, que nos dá, de má fé, o troco errado. Só que aqui no caso não é uma pessoa mal intencionada mas sim grande uma empresa. 

Todos os meses é a mesma coisa. A EDP, empresa podre de rica, e por isso é que foi nacionalizada pelo governo fascista que era contra as nacionalizações! PSD e o CDS nacionalizaram a EDP, vendendo-a ao Estado Chinês! E foi vendida por dar muito dinheiro, pois certamente que se desse prejuízo ninguém estava interessado em vendê-la porque ninguém estaria interessado em comprá-la. E esta empresa, que gera cada vez mais dinheiro, deixou de mandar os seus funcionários, todos os meses a casa das pessoas, contar o gasto de eletricidade e passou a fazer "estimativas"! Por um lado pode dispensar trabalhadores, por outro pode-se financiar, todos os meses, com o dinheiro indevidamente cobrado a mais.



Mas uma estimativa é um cálculo, uma média, é um consumo esperado. Se a EDP fizesse realmente estimativas, seria normal que quando existissem acertos, ora tivéssemos que pagar um pouco mais, ou então tivéssemos que receber. Mas não! Eu nunca tive de pagar porque sempre me fizeram uma "estimativa" bem por cima! Parece que as máquinas de calcular da EDP são como as balanças dos comerciantes, ou como os Litros das bombas de combustível: estão sempre a roubar contra o consumidor!

Mas não existe qualquer estimativa. O que existe, e não tem outro nome, é um roubo. O que acontece é aumentarem-nos intencionalmente o valor a pagar. E todos os meses, eu e todas as outras pessoas, estamos todos, em conjunto, a financiar a EDP ou as outras empresas de energia (que diga-se, pelo que vou ouvindo, são ainda são piores que a própria EDP). 

Eu tenho uma casa em que não habito permanentemente e em que os gastos de eletricidade são basicamente residuais. São para para usar o corta-relva, ou acender uma ou outra lâmpada, na maior parte as vezes da garagem. Ultimamente nem sequer lá tenho recebido amigos, em que se ligam os eletrodomésticos.

Daí que, até ao ano passado, fosse normal, mês após mês, nunca ter pago taxa audiovisual, pois enquadrava-me nas pessoas que não consomem 400KW/ano. Mas no ano passado, em agosto, tive uma bela surpresa: A EDP cobra-me 13, sim, não me enganei, foram treze Taxas Audiovisuais! Disseram-me que - terá sido também uma estimativa? - que como consumi mais que os 400Kw no ano anterior, teria agora de pagar as próximas 13 Taxas Audiovisual! E isto até me dá vontade de rir, eu ter de financiar a RTP, canal que não vejo, porque nem sequer tenho um televisor em casa! Olha, era bem preferível que ainda estivéssemos nos tempos da visita dos fiscais da TV! 

E lá estão mais uma vez as estimativas a roubar-me. Se andam sempre a "estimar" que eu vou consumir mais energia do que a que na verdade consumo, isto significa que quando chegar a concluir o tal ano (e tem de ser em agosto porquê? O ano não termina em dezembro?) isto significa mais uma vez que vou ter um consumo esperado muito acima do consumo real. E como tal quase de certeza que fui roubado nestas 13 Taxas Audiovisual cobradas indevidamente, porque no ano que passou tive um consumo bem abaixo, quando comparado com anos anteriores. 

E então foi muito interessante este mês receber a cartinha da EDP e ficat espantado quando fiquei a saber que tenho a receber, espantem-se, o equivalente a uns cinco meses de eletricidade!! Agora pensem quantos meses andei a pagar a mais - a ser ROUBADO pela EDP! 

Tenho então algum dinheiro para receber, e pensei que o receberia facilmente. Mas claro que estava redondamente enganado!

Pensava eu, mal! muito mal mesmo, que, se quando temos de pagar, podemos fazê-lo nas estações dos correios, via multibanco, nas Payshop, por débito direto, ou até qualquer outra pessoa por nós numa loja da EDP, pensei que para receber fosse igual. Seria normal que assim fosse certo? Pelo menos foi o que eu, ingenuamente, pensei. 

Mas estava completamente errado! Quando é para pagar, existem mil-e-uma-formas para facilitar a vida a quem recebe, mas quando é chegado o momento dos ladrões nos devolverem todo aquele dinheiro que nos andaram a ROUBAR indevidamente durante meses, temos de ser nós, pessoalmente, tendo de faltar ao trabalho se necessário, e deslocarmo-nos unicamente a uma loja da EDP, esperar horas a fio nas bichas, para finalmente receber o que nos é devido. 

Se somos nós que pagamos, por esquecimento como já me aconteceu, a fatura um minuto que seja depois do dia devido, já nos cobram por isso, mas quando são os ladrões que nos ficam MESES com o nosso dinheiro, e ainda nos colocam entraves e mais entraves para recebermos tudo aquilo que nos é devido, já ninguém precisa de nos pagar pelo tempo que retiveram o nosso dinheiro. O mais interessante é tudo isto acontecer, sem que nenhuma entidade reguladora proteja minimamente o consumidor.


Matar os bons filmes

Mia Wallace (Uma Thurman) em Pulp Fiction de Tarantino


... É como por exemplo quando me dizem... verem filmes piratas.  
No outro dia estava a falar com um amigo que me dizia (...) "Pá os filmes cada vez mais são feitos para adolescentes". 
e eu estava-lhe a dizer "Sim mas tu vês filmes em casa no computador não vês?
- Vejo.
E são filmes que interessam?
- São.
Então tu estás a contribuir para que isso aconteça. 

Uma pessoa vê um filme que gostaria de ver no cinema mas em casa, está a matar esse filme, porque está a dizer ao realizador... Dando um exemplo muito prático: nós os dois somos os dois fãs, imagina, de Tarantino (para dar um exemplo que toda a gente conhece). 
As pessoas quando decidem ver em casa um filme do Tarantino em vez de ir ao cinema como iam no tempo no Pulp Fiction porque não tinham outra hipótese, estão a tirar espectadores a esse realizador. Estão a dizer aos estúdios que dão dinheiro a esse realizador, que não vale a pena dar dinheiro porque ele não faz muitos espectadores lá fora. 

Porquê? Porque nós em vez de sairmos de casa e irmos ao cinema vê-lo, estamos em casa a ver o filme e depois, mais tarde, quando o Tarantino deixar de filmar porque deixou de ter espectadores, (no caso do Tarantino nunca vai acontecer) mas pronto seja como for, quando isso acontecer, como é óbvio, o que vai restar é os filmes de adolescentes. Porque os adolescentes nos Estados Unidos enchem os cinemas, e porque tu não convidas alguém para sair e ver um filme no computador. 


"Por Estes Dias" / Daniel Belo com Nuno Lopes / Antena 3

O programa pode ser ouvido na íntegra aqui.


segunda-feira, 11 de abril de 2016

Ser Forte

Ser Forte.

Mas ter sempre presente que somos todos vulneráveis.

E ser vulnerável nada tem a ver com fraqueza.





Strong / If you Wait / London Grammar / 2013



domingo, 3 de abril de 2016

"Só tem vinte anos"!

Acabo de abrir o site do Público e comprovo o que penso. Há cada vez mais uma enorme condescendência com a idade. Homens e mulheres na casa dos vinte são uns coitadinhos, não sabem o que fazem!

Um homem ou mulher de vinte nos, já tem responsabilidade criminal desde os dezasseis, o que significa que pode ser preso pelos seus atos. Já pode casar e desde os dezoito já pode votar e já tem todos os direitos e obrigações que qualquer outro cidadão de qualquer outra idade. E já pode ser pai ou mãe há muitos anos...

Mas o "rapaz só tem vinte anos"!

Um homem ou uma mulher de vinte anos é coitadinho. Se calhar o melhor ainda é ir limpar-lhe o cu, porque se calhar ainda não conseguem fazê-lo sozinho. Ou então será conveniente continuar a apertar-lhe os cordões dos sapatos. Ou então ir com eles a uma entrevista de emprego, porque coitados, "só têm" vinte anos. Sabem lá bem como se comportar. Tadinhas das criancinhas que ainda ficam traumatizadas. 

E depois analisemos a notícia: Esta criança de vinte anos, está acusada de 13 crimes de ameaça agravada e três de violência doméstica. Esta criança, que "só tem vinte anos" disse aos pais:


"Eu atropelo-vos com o carro. Eu rego a casa com gasolina. Eu incendeio tudo"!




E é isto que acontece quando não se dá educação, e a educação é para ser dada pelos pais. Quando se dá tudo aos fedelhos. estes crescem e pensam que a vida lhes vai dar tudo aquilo que eles acham que merecem. E os pais são escravos destas crianças, que um dia aos vinte anos, se viram contra os próprios progenitores. 

Saber educar não é querer dar tudo aos filhos, mas sim dar-lhes ferramentas para que eles percebam que na vida é preciso lutar pelo que queremos. Nada nos é dado de mão beijada. 

Eu conheci um caso bem de perto, em que também uma criança de vinte anos ameaçava bater nos pais. Certa vez até, com o filho ao lado a mexer-lhe nas coisas junto da mota, disse que um dia ainda o matava com o martelo. Também a esta criancinha foi dado tudo. Aos dez ou doze anos já conduzia o trator do pai, que achava que tinha ali o menino Jesus, que o filho era melhor que os outros. E tudo lhes deram, e ele saiu um insurreto, que rapidamente deixou de estudar, e também foi daqueles daqueles que um dia cresceu e depois ameaçam bater nos pais se não lhe derem um Mercedes de cinquenta mil euros.