quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Chama-me nomes que eu gosto

Eu fui assinante da revista Proteste durante, não sei, mas talvez durante uns dez anos ou mais. Há quem diga bem, há quem diga mal, é como tudo, cada um tem a sua opinião, e logicamente eu também tenho direito à minha. Ouço muitas pessoas dizerem, "ah e tal a gente liga para lá mas perguntam-nos logo se somos sócios". 

Mas vamos lá ver uma coisa. A DECO não é uma instituição pública! Parece mas não é! E se calhar, digo eu, se existisse um organismo verdadeiramente eficaz, público, de fácil acesso e gratuito, instituições como a DECO não teriam tanta razão de existir, pelo simples facto de ninguém ser tolo suficiente a ponto de pagar por algo, que pode ter melhor e de forma gratuita. 

Eu deixei de ser associado por um único motivo: fiquei desempregado. Ao ficar desempregado, e apesar de ter recebido uns milhares de euros de indemnização (em bom tempo, ainda antes do FMI e dos fascistas assaltarem o poder) fruto de dez anos na mesma empresa - e não, não fui para o Brasil gastá-los em mulheres (mas é preciso ir tão longe?) como diziam alguns colegas mais novos - mas tinha a consciência que poderia estar muito tempo até conseguir de novo arranjar emprego. E infelizmente (ou talvez não) estive mesmo. 

E como tal, e por certo concordarão comigo que não é preciso assinar a Proteste para o saber, é só mero senso comum, comecei logo a cortar gastos supérfluos. E assinar uma revista de consumo, quando se fica desempregado e se vai em teoria consumir menos, era para mim um gasto supérfluo. E foi só esse o motivo pelo qual cessei a minha ligação de tantos anos com a instituição de defesa do consumidor. 

Goste-se ou não, uma coisa é certa, ser associado da DECO tem vantagens inequívocas, porque quando precisamos, eles atuam, e nunca cheguei a descobrir o que fazem, mas mal eles entra em ação as empresas ou os prestadores de serviços parece que se borram logo de medo, e dão-nos tudo que temos direito e ainda mais se for preciso. 

Esqueçam o Livrinho de Reclamações. Não serve para nada. Aquilo mais parece um muro das lamentações, ou então uma forma de acalmar os cavalos aos clientes. A pessoa enfurece-se, fica cheia de raiva e depois descarrega ali no livro, pensando que  adianta alguma coisa. Eu ainda continuo à espera que a ANACOM me responda há não sei quantos anos. Não responde e agora? Para que servem as queixas afinal?

Com a DECO não, a coisa fia fininho. Certa vez deixei uma máquina fotográfica para reparar na loja Ensitel. Os gaijos disseram-me "quando estiver pronto nós telefonamos". O que me comecei a aperceber é que nunca ia ficar pronta, pois nunca telefonavam, e isto depois de eu ter feito uma visitinha à loja. Queixa na DECO e dias depois estão-me a ligar, não para dizer que a máquina fotográfica estava reparada, mas para levantar uma nova, no pacote, com os acessórios novos também! Rápido e eficaz. O que eu me pergunto é o porquê das empresas só agirem corretamente quando esta instituição toma conta da ocorrência.

Existe uma ASAE, essa sim uma polícia pública, que deveria servir para fiscalizar o que andamos a comer. Mas não faz nada, é preciso vir a DECO fazer análises para descobrirmos que andamos, por exemplo, a comer carne contaminada com salmonella ou carnes proibidas. E então depois disso sim, lá vai a ASAE ver o que se passa. Tenho ideia que os agentes da ASAE gostam muito é de entrar feiras adentro, de preferência de metralhadoras em punho - certamente para mostrar o quanto são machos - para... apreender filmes piratas! Isso sim é perigoso ver filmes pirateados, já comer algo estragado que nos pode levar à morte, isso não tem qualquer importância!

E vem esta introdução a propósito de eu ter visto uma revista Proteste na copa lá do trabalho, em cima de uma mesa onde as colegas por norma costumam deixar folhetos das mercearias dos gaijos mais rico do país. "Olha uma Proteste" pensei! E lá fui andando a ler aquilo, no tempo que demora a comer uma sande ou uma peça de fruta, naqueles breves minutos, em que "a hora de comer é a mais pequena". 

Retirado da Revista Dinheiro & Direitos Nº132


E encontrei por lá um artigo extremamente interessante:

"Um homem foi condenado pela Relação de Guimarães por ter chamado "chula" à irmã numa mensagem enviada por telemóvel". A grave ofensa ficou-lhe por 1120€ de multa + 750€ de indemnização à irmã! Chamar chulo a alguém pode custar quase dois mil euros!!

Fiquei também ainda a saber, que a coisa seria ainda bem mais grave se acontecesse em meios de "comunicação social" como por exemplo as redes sociais.  E a revista dá ainda um exemplo: 

"Por exemplo, comentar com alguém que que o marido de "sicrana" lhe é infiel, pode fazê-lo sentar no banco dos réus e ser condenado, mesmo que a mulher esteja realmente a ser enganada pelo mais mais-que-tudo.

A justiça portuguesa é realmente anedótica. Alguém pode ser condenado só por abrir a boca e dizer uma verdade. O crime de violência doméstica é público, e qualquer um de nós pode ser cúmplice se souber que alguém trata mal outrem e não denunciar. Mas se depois denunciar uma traição ainda pode ser condenado! Parece que ainda estamos no tempo - há não tanto tempo assim - em que "entre marido e mulher não metas a colher" e em que não se podia abrir a boca para falar de certos assuntos. 

E isto de chamar nomes pouco recomendáveis a alguém pode realmente sair um bocado dispendioso para o pessoal que gosta de sair à noite e comer a primeira coisa que lhe aparece à frente! Quer dizer, nem será preciso ser com alguém desconhecido! Se calhar mesmo entre marido e mulher! Vai que um dos dois com o entusiasmo resolve puxar de um léxico mais ordinarão, e o outro não gosta? - cuidado com isso! 

"- Isso, dá-me com força e chama-me puta".

Ó querida, eu chamo tudo que quiseres, mas primeiro assina aqui, a dizer que te posso insultar à vontade! Não vá o diabo tecê-las!

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