quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Do instinto da aquisição

O instinto de aquisição comporta mais perversões, na minha opinião, do que o instinto sexual. Pelo menos as pessoas parecem-me mais estranhas em questões de dinheiro do que mesmo em questões de amor. Que parcimónias espantosas  não se encontram constantemente, sobretudo nos ricos! Que extravagâncias fantásticas, também. Muitas vezes as duas qualidades, ao mesmo tempo e na mesma pessoa. E, depois, os entesouradores e enterradores, as pessoas que vivem inteira e quase incessantemente preocupadas com o dinheiro! Ninguém se preocupa com o sexo assim dessa maneira incessante - sem dúvida porque a satisfação fisiológica é possível em assuntos sexuais, ao passo que não existe quando se trata de dinheiro. Quando o corpo está saciado o espírito cessa de pensar em alimentos ou em mulheres. Mas o apetite do dinheiro, a necessidade de o possuir, é de ordem mais ou menos exclusivamente mental. Não há nenhuma satisfação física possível. É o que explicará os excessos e as perversões do instinto de aquisição. O nosso corpo obriga, por assim dizer, o instinto sexual a conduzir-se normalmente. É preciso que as perversões sejam muito violentas para que possam dominar as tendências fisiológicas normais. Mas no que diz respeito ao instinto de aquisição, não há no corpo regulado, nem massa de carne sólida em demasia para ser empurrada para fora dos trilhos do hábito fisiológico. A menor tendência para a perversão torna-se imediatamente manifesta. Mas talvez a palavra "perversão" não tenha sentido neste contexto. Porque a perversão implica a existência de uma norma que lhe sirva de ponto de partida. Qual é a norma do instinto de aquisição? Pode-se entrever vagamente algum meio honesto; mas estará aí, de facto, a verdadeira norma estatística? Quanto a mim imagino que sou antes um subaquisitivo; menos interessado que o comum das gentes do dinheiro e nas posses em geral. Illidge diria que isto se deve inteiramente ao facto de eu ter sido educado numa atmosfera de largas facilidades pecuniárias. Isso pode ser verdade em parte. Mas não inteiramente, na minha opinião. Consideremos o grande número de pessoas que nasceram ricas e que vivem unicamente preocupadas com ganhar dinheiro. Não, a minha "subaquisitividade" é hereditária e também adquirida. Seja como for, não tenho muito interesse pela posse, e não sinto senão pouca simpatia pelos que se interessam por ela; não os compreendo também. Nenhuma personagem cuja dominante seja o instinto de adquirir figura em algum dos meus romances... É um defeito; porque os aquisitivos são manifestamente muito comuns na vida real. Mas é duvidoso que eu possa tornar uma tal personagem interessante - pois que eu mesmo não me interesso pela paixão aquisitiva. Balzac podia; as circunstâncias e a hereditariedade tinham-no feito apaixonadamente interessado pro dinheiro. Mas quando achamos um assunto aborrecido, a nossa tendência é tornarmo-nos também aborrecidos ao tratarmos dele...

Contraponto / Aldous Huxley




- Dinheiro! O dinheiro é uma espécie de instinto, uma das caraterísticas da natureza humana é fazer dinheiro. Não tem nada a ver com o que uma pessoa faça, nem é um jogo. É uma espécie de acidente permanente da nossa própria natureza. Quando se começa, faz-se dinheiro e não se pára mais, até um determinado ponto, é claro. 
- Mas é preciso começar - respondeu Clifford. 
- Oh absolutamente, é preciso entrar na roda, quando se está de fora não se consegue nada. Tem de se lutar para entrar, e uma vez que o tenha conseguido, é inevitável. 
- Mas poderia ter ganho dinheiro sem as peças?
- Oh provavelmente não! Posso ser bom ou mau, mas sou escritor teatral, e não podia ser outra coisa. Disso não tenho a menor dúvida. 

O Amante de Lady Chatterley / D.H. Lawrence 

domingo, 27 de setembro de 2015

Escolhe o Amor

Ontem era um dia muito especial para ti, igualmente especial para todos aqueles que te querem bem, e, como tal, seria igualmente especial para mim, que tanto te quero como ninguém. 

Por este ou por aquele motivo já não sei há quanto tempo não ia a um concerto, mas sei que já passou muito tempo desde a última vez.

Tomei banho, pus-me cheiroso - sim, mesmo um homem das cavernas gosta de se arranjar quando sai, e acreditem que o aparente mau aspeto é mesmo intencional! - jantei e abandonei a minha caverna montado no meu cavalo preto, num galope extremamente tranquilo, cumprindo, mais coisa menos coisa, os limites de velocidade, como aliás é habitual em mim. 

Temia o pior. Noite de sábado à noite, mas consegui, por sorte, e também por conhecer muito bem a zona envolvente, arranjar um ótimo estacionamento onde deixar o cavalo, ali mesmo a poucos metros de onde decorreria o evento como convinha.

Caminhava calmamente, caminhava não, quase flutuava! - já não saía com aqueles sapatos que escolheste para mim há uns tempos e são mesmo confortáveis! -  e caminhava aposto, com os olhos sorridentes, pois sempre que estou contigo os meus olhos iluminam-se, ainda que , infelizmente, acompanhavas-me só espiritualmente. 

Entrei, inteirei-me do espaço, dos comes e bebes e do sítio, o palco no mesmo sítio de sempre, e resolvi sentar tranquilamente num banco de jardim para fazer tempo. A alguns metros, duas jovens mulheres aproximavam-se, observando-me discretamente. E qual não é o meu espanto quando decidem mesmo sentar-se ao meu lado. Sentaram e puxaram das suas bigigangas eletrónicas muito luminosas e ali ficaram algum tempo em silêncio, até que começaram a trocar impressões de umas tretas quaisquer que estavam a ver nas redes sociais. E só aí fiquei a saber que eram duas brasileiras. "Pois, dificilmente duas portuguesas se sentariam ali ao meu lado"! pensei. Seriam estudantes ou turistas? Acredito que fossem estudantes. Ficaram ali um bom bocado, até que uma delas disse que tinha de caminhar para não congelar. 

E realmente já andava tudo encasacado. Eu fui de camisola de manga curta, à macho das cavernas claro! Mas na verdade tenho andado com os calores. Mas algum tempo depois, aquele nevoeiro gélido começou realmente a incomodar-me. Decidi então ir à mala do cavalo para trazer um casaco que lá tinha deixado, e acabei mesmo por ficar por lá algum tempo sentado.


Rita Redshoes
Quando regressei já ouvia a Rita a cantar. Lá fui, flutuando novamente, pelo meio do maralhal, que nem era assim muito compacto, procurando o sítio certo para observar o concerto. E ali fiquei, na minha redoma, a apreciar o espetáculo, trocando sempre algumas impressões contigo, em forma de pensamento. A Rita é uma mulher bonita - gosto especialmente das sobrancelhas dela - dão-lhe personalidade, e é verdade que uma mulher bonita até de cabelo rapado fica bem, mas sim, gostava muito mais de a ver de cabelos compridos. E cantar, saltar e dançar de saltos altos é que não deve ser lá muito confortável digo eu. Mas soou-me muito bem ao vivo. E muito simpática com o público  e com sentido de humor também. 

Até que, antes de anunciar uma próxima música, disse que tinha prometido contaminar-nos com o amor, "espero que estejam a sentir", disse, enquanto colocava as mãos sobre o peito, simulando um enorme coração a palpitar. 

E eu senti, principalmente quando ela começou a cantar "Choose Love". 

E aí eu tive de me lembrar que estava no "público", e no público, não podemos fazer dessas coisas. Tive de respirar fundo, porque que um homem-das-cavernas não chora. Pelo menos quando alguém o possa testemunhar. 




Don't wanna hear, I wanna fight
'Cause this time I won't be wrong
And I can waste this precious time
Asking where do I belong
So let me know your love is real
'Cause this time you won't control
Tell me please, what do you feel
Do I have to save your soul

Choose love, choose love, love
Choose love, choose love
Choose love, choose love, love
Choose love, choose love
Choose love, choose love, love
Choose love, choose love
Choose love, choose love, love
Choose love, choose love
Choose love, choose love, love
Choose love, choose love
Choose love, choose love, love
Choose love, choose love

Por que governar um país não é gerir um orçamento familiar

Vamos fazer o seguinte exercício. Um português ganha mil euros, e não consegue amealhar um cêntimo que seja no final do mês. Então, decide experimentar começar a poupar. 

Corta a televisão por cabo. Corta a assinatura de internet. Deixa de ir jantar fora todas as semanas. Deixa de comprar o jornal todos os dias. Deixa de almoçar todos os dias no restaurante e adere à moda de levar a marmita para o trabalho. Deixa o carro em casa e passa a andar de transportes públicos. Deixa de fazer compras supérfluas e compra só o estritamente necessário.
Passado meio ano, esta pessoa chega à conclusão que afinal sim, poupar, consegue amealhar algum dinheiro todos os meses, ainda que à custa de alguns sacrifícios. 

Façamos agora o paralelo com o que o que a canalha do governo português decidiu fazer nestes quatro anos e meio, desde que tomou de assalto o poder com um monte de mentiras, como afirmar que chegava de austeridade, que bastaria unicamente cortar nas "gorduras", que os problemas do país eram dos preguiçosos que não queriam trabalhar, e daquela malta que só quer subsídios.

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Roubaram salários. Roubaram subsídios de férias de Natal e subsídios de desemprego. Roubaram nas reformas. Privatizaram a saúde sendo agora a saúde pública mais cara do que ir ao privado. Fecharam maternidades. Fecharam hospitais. Fecharam tribunais. Cortaram nas creches, aumentaram o número de alunos por turma. Fecharam escolas. Cortaram nos professores e aconselharam-nos a emigrar. Aconselharam toda a gente a emigrar. Pararam todas as obras públicas previstas como o túnel do Marão e o TGV. Aumentaram brutalmente os impostos. Cortaram freguesias. Privatizaram empresas públicas. No fundo o que o governo fez foi, deixar de ter tantas despesas cortando no investimento e passar a tentar arrecadar muitos mais impostos. Então, supostamente, deveríamos estar a juntar muito dinheiro, tal como o português que decidiu cortar no seu orçamento mensal para poupar - certo? 

Mas não. O bando de canalhas que nos governa fez cortes cegos e aumentou de forma absurda os impostos, mas infelizmente o país além de estar cada vez mais pobre, tem ainda mais dívida para pagar aos credores. Se uma família junta uns tostões apertando o cinto, um país que faz cortes cegos, além de empobrecer ainda mais, acaba ironicamente por se endividar ainda mais. Então mas o que é que passa? Passa-se que a canalha que nos governa nunca percebeu que gerir as contas de um país não é como gerir um orçamento familiar. 

Eleições sempre ao Domingo porquê?

Estamos a uma semana das eleições legislativas de 2015 que serão no próximo domingo dia 4 de outubro.

E desde logo a minha estranheza: por que carga de água temos de votar sempre a um domingo e não a um dia de semana? Por que é que as pessoas têm de sacrificar o dia de descanso universal, muitas vezes tendo de fazer dezenas ou mesmo centenas de quilómetros para poder exercer o seu direito votando na sua mesa de voto, e não o fazermos a um dia de semana? Trabalhamos no mínimo cinco dias por semana e descansamos dois. Então por que razão são esses dois míseros dias que têm de ser sacrificados, e não um dos cinco que damos aos patrões?

E por que carga de água é que o Estado - todos nós! - temos de pagar 50€ livres de impostos (que já foram 76,32€) e ainda o dia seguinte a cada uma das 57500 pessoas dos partidos que fica ali nas mesas de voto a fazer figura de corpo presente, quando ainda temos funcionários públicos que ganham o seu salário para fazer o que for preciso mesmo a um domingo? Eram três milhões de euros que se poupavam, assim são três milhões de euros deitados ao lixo, ou melhor, são três milhões de euros para os bolsos das pessoas dos partidos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Da novidade das dores e dos Prazeres




- Ninguém pode recordar a dor - disse ele, em voz alta.
- Eu posso.
- Não, não podes. Podes apenas recordar a ocasião dela, os seus acessórios.
A ocasião fora em casa da parteira na rue de la Tombe-Issoire; os acessórios, a sujidade e a humilhação. O rosto dela carregou-se ao ouvir-lhe as palavras.
- Nunca poderás recordar a sua qualidade efetiva - continuou ele. - Como não poderás recordar-te da qualidade de um prazer físico. Por exemplo, hoje, há meia hora... não podes lembrar-te. Não há uma recriação do acontecimento. E ainda bem. - E sorria agora. - Imagina se pudéssemos recordar exatamente os perfumes e os beijos! Como seria fatigante a realidade deles! E que mulher dotada de memória teria alguma vez mais do que um filho?
Helen mexeu-se, inquieta.
- Não posso imaginar como alguma mulher os possa ter - disse, numa voz débil.
- Assim, prosseguiu ele - as dores e os prazeres são novos de cada vez que os experimentamos. Inteiramente novos. Cada gardénia que alguma vez cheiramos. E cada parto...
- Lá estás tu outra vez a falar como um tolo - interrompeu ela, irritada. - A confundir as coisas.
- Pensei que as estava esclarecendo - protestou ele. - Mas, afinal, de que se trata?
- Trata-se de mim, de ti da vida real, da felicidade. E tu a tagarelar para aí tolices, como um parvo!
- E tu? - perguntou ele. - Serás porventura muito experiente da vida real? Um perito de felicidade?

Sem olhos em Gaza / Aldous Huxley /1936

domingo, 20 de setembro de 2015

Abriu oficialmente a caça eleitoral

Abriu oficialmente a campanha eleitoral para as legislativas de 2015. E campanha eleitoral faz-me sempre lembrar a música "Demagogia" da Lena d'Água.



Dão nas vistas em qualquer lugar
Jogando com as palavras como ninguém
Sabem como hão-de contornar
As mais directas perguntas

Aproveitam todo o espaço
Que lhes oferecem na rádio e nos jornais
E falam com desembaraço
Como se fossem formados em falar demais

Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira

P’ra levar a água ao seu moinho
Têm nas mãos uma lata descomunal
Prometem muito pão e vinho
Quando abre a caça eleitoral

Desde que se vêem no poleiro
São atacados de amnésia total
Desde o último até ao primeiro
Vão-se curar em banquetes, numa social

Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira


Demagogia /Perto de Ti / Lena d'Água / 1982

Entre o Cyborg e o Anjo

Estranha esta semana que ontem acabou. Não foi propriamente fácil. Uma semana cheia de pequenos acontecimentos, de efemérides e de constantes reflexões e de tantas pequenas coisas, e de coisas novas que nem sempre sabemos como lidar. Mas foi uma semana cheia também das mesmas tantas outras coisas que vêm assolando os meus pensamentos nos últimos meses. 

Pintura de Luis Royo
Mas existem depois pequenos momentos que, mesmo no meio da tempestade nos fazem sorrir. A meio da semana, uma amiga, envia-me uma mensagem por telemóvel dizendo:

"Tu não és humano.
És um Cyborg". 
Só pode.
Ninguém se lembra dessas coisas.
Muito menos das horas."

Já ontem, estava eu, anti-socialmente sozinho, sentado num banco de jardim, quando uma senhora que não me conhecia, mas que era uma das pessoas da organização de um evento a que fui, chama-me para o grupo dela, oferece-me simpaticamente da imensa comida que estava em cima da mesa, e pouco depois diz:

"Tu és um anjo, só te faltam mesmo as asas".

Bom, entre o Cyborg e o anjo acho que prefiro o cyborg. Anjo não é uma coisa lá muito máscula não é?

sábado, 19 de setembro de 2015

"Queres um conselho? Não te cases."

Se eu gostasse de conselhos pedia-os, e na verdade, e ao contrário de muitas pessoas, não sou muito de pedir conselhos aos amigos, aos pais, ou seja lá a quem for. Conselhos, como é lógico, naquilo que é verdadeiramente importante na minha vida pessoal, e não sobre coisas triviais, pois não me tenho por nenhum supra-sumo do conhecimento de todas as áreas, e sempre que existe algo que não domino quero-me informar, gosto de auscultar quem tem mais experiência ou sabe mais do que eu em determinado assunto para depois então depois decidir pela minha cabeça.

Mas esta semana deram-me um conselho sem eu o pedir.

Depois de já antever as palavras que teria de ouvir quando chegasse a casa e tivesse de explicar à mulher uma coisa tão simples, como o horário do voo que teria de apanhar, um colega no trabalho diz-me:

"- Queres um conselho? Nunca te cases. Nós pensamos que connosco vai ser diferente dos outros. Que elas serão diferentes. Que serão diferentes das mulheres dos outros. Mas não. É tudo igual".

E vira-se para o outro colega que estava connosco, também ele casado e interpela-o:
"- Não é ó... "? Ao que ele de imediato concordou totalmente!

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Pois é, mas eu se quisesse conselhos pedia-os. E se eles fossem mesmo muito bons, então talvez as pessoas os devessem vender, pois talvez um bom conselho valha bom dinheiro.

Mas o que eu questiono é - será que as pessoas dizem isto que pensam ao respetivo(a)? Será que as pessoas casadas dizem ao respetivo(a) que dão conselhos aos outros para não se casarem? Será que ao menos conversam sobre isso?

"Olha amor, sabes, nós estamos casados há alguns anos, eu estava cheio de expectativas, achei mesmo que iríamos ser felizes, que iríamos ser diferentes dos outros, que tu irias ser diferente dos outros, mas isto afinal é um casamento exatamente igual ao dos outros.
Sabes amor, estou farto de aturar as tuas merdas e já nem me lembro qual foi a última vez que fodemos, mas a sério e não aquela fodinha da misericórdia em que abres as pernas enquanto pensas na cena do episódio da novela de amanhã, e eu, com sorte, venho-me três minutos depois. Olha amor, se eu soubesse não me tinha casado contigo".

Será que as pessoas realmente dizem o que sentem, ou armam-se simplesmente em muito sabedoras, mas só para com os outros, quando na verdade não fazem nada para mudar o estado de coisas das suas próprias relações e dos seus próprios casamentos?

Pois é. Querem um conselho? Não estão bem? Ponham-se. Os divórcios são livres. E já agora guardem os conselhos para vós mesmos. Talvez vos façam mais falta que a mim que ainda sou solteiro. 

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

How I Met Your Mother

Há coisa de uma semana que finalmente acabei de rever toda a série e ver pela primeira vez a última temporada de How I Met Your Mother - no português "Foi Assim que Aconteceu" e na tradução brasileira, bem mais fiel "Como Eu Conheci Sua mãe". 



Já aqui contei o porquê de ter começado a ver esta série. Uma amiga havia-me dito que andava a ver uma série em que a personagem principal era eu. Mmm... claro que isso me deixou um pouco intrigado e curioso. E até que, por mero acaso, e nos tempos em que ainda tinha televisão, apanhei essa série que andava a repetir no canal FOX, e resolvi cuscar um pouco e até comecei a gostar e acabei mesmo por ir acompanhando até à penúltima temporada, altura em que deixei de ter televisão. 

Na verdade gostei bastante da série. E claro que não foi nada por o personagem principal ser eu! A série aborda os temas da amizade, de como as coisas vão mudando ao longo da vida, enquanto ainda se estuda e depois quando se começa a trabalhar, e de tudo que envolve os relacionamentos. E fala-se muitas vezes de coisas sérias, e de verdadeiros dramas, mas num tom ligeiro, muitas vezes num tom de comédia em que a cereja no topo do bolo, é Barney, a personagem interpretada por Patrick Harris. 

Mas várias pessoas me prepararam para o pior e pintaram-me o pior cenário possível para o fim da série. Desde logo a minha amiga, que me dizia que com aquele final destruíram toda a série. Mas várias outras pessoas, mal comentei que andava a ver, disseram-me que detestaram o final. E parecendo que não, e mesmo não sabendo nada sobre como a coisa iria acabar, isso condicionou-me, pois eu imaginei o pior cenário possível! 

Mas afinal fui totalmente surpreendido sim, mas porque, ao contrário do que todo o mundo achou, este final foi sempre como eu previ que fosse! Sempre disse à minha amiga como é que eu achava que aquilo deveria acabar! Mas eu devo ser mesmo muito estranho - ou então citando um sujeito qualquer que saiu de Portugal para ir trabalhar na Inglaterra: "Eu acho que sou um bocadinho especial"! - para gostar de algo, que todo o mundo odiou! (e já tinha acontecido o mesmo com Lost (Perdidos).

Bem, não vou desenvolver mais, não vá algum leitor-fantasma aterrar por aqui e ficar a saber o final de uma série que até já acabou há três anos! Mas pronto, vou ao menos relembrar alguns momentos do primeiro episódio...




















... em que ficámos a saber como Ted conhece a Robin, a tia dos seus futuros filhos. Para sabermos como ele acaba por conhecer a mãe dos futuros filhos, terão de ver a série toda até ao fim. E por mim valeu bem a pena.

P.S. Já agora eu não mesmo sou nada o protagonista desta série. Eu não acabo de conhecer uma mulher e  não lhe vou logo pedir para jantar comigo no dia seguinte! Muito menos vou ficar a pensar que estou na presença da tal e que estou completamente apaixonado por ela! Pfffff!!
... (reflexão) ou então realmente esta minha amiga conhece-me mesmo muito bem... 

P.S 2: Quão parvo é comprarmos um DVD original, e nesse mesmo DVD vir uma cena a dizer que eu "não roubaria um filme e que a pirataria é crime"? Eu comprei o ORIGINAL e ainda assim tenho de levar com estas merdas em cima! Um gaijo descarrega a série na net e não tem de levar com estas cenas! Acho que só pode mesmo ser para incentivar à pirataria!

domingo, 13 de setembro de 2015

Agricultores: E quando corre bem? Dão alguma coisa a alguém?

Passava agora os olhos pelas notícias e lia o seguinte no saite (sai-te?) do Público:

"Nas regiões do Douro e do Alentejo, onde a vindima vai adiantada, já se celebra mais uma colheita memorável. Nos Vinhos Verdes há quem fale em "vindima do século". Se o tempo continuar assim, 2015 promete ser um ano histórico para os vinhos portugueses."




Eu tenho imenso respeito pelos agricultores, principalmente por quem tem pequenas explorações, pessoas que produzem e criam algo para alimentar as pessoas. Já por quem tem grandes explorações, muitas vezes dedicando-se só ao lucro, e aplicando métodos pouco sustentáveis, muitas vezes verdadeiramente perigosos para a natureza como no caso dos transgénicos, desses já não tenho grande solidariedade. E muito menos tenho porque vende os seus produtos, inflacionando não sei quantas vezes mais um produto e sem terem qualquer trabalho na intermediação. É por isso que as pessoas mais ricas deste país são merceeiros e não agricultores.

Mas ainda assim há coisas que me fazem alguma confusão e dúvidas que me assolam. Todos os anos ouvimos os agricultores a chorar misérias. Se chove demasiado têm a produção estragada e querem subsídios. Se não chove tudo se estraga e querem subsídios. Se cai granizo destrói a produção e querem subsídios. Se vem um temporal lá vão as estufas todas pelo ar e querem subsídios. 

Ora bem. E quando acontece o contrário? Quando tudo corre bem e falam na "colheita do século"? Se quando as condições climatéricas correm mal todos nós temos de comparticipar com apoios do Estado e então e quando se fartam de ganhar dinheiro à grande? Não deveriam também distribuir parte dos seus lucros? Pois é.

A época da pele amostra acabou!

Foi na passada quarta-feira, dia 9 de setembro. Preparava-me para sair de casa, e tal como há muitos meses, preparava-me para sair com uma camisola de manga curta. Até que, o pior aconteceu! O drama, o horror a tragédia! Ao pôr um pé fora da porta, senti um friozinho e o meu corpo queixou-se. Voltei para trás e decidi vestir uma outra peça de roupa por cima. E estava assim terminado o verão de 2015!

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De imediato lembrei-me das palavras sempre "sensatas" do  Barney (personagem da série How I Met Your Mother): Foi um dia triste!

"Ted, sabes o que eu vi quando vinha para aqui? Uma gaija com uma camisola! E sabes o que isso significa? A época da pele amostra acabou"!


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Não posso estar contigo...



Deitado na minha cama de novo

Choro por ti porque não estás aqui
A chorar na minha cabeça de novo
E eu sei que não está claro

Põe as tuas mãos, põe as tuas mãos
Sobre o meu rosto e vê que és só tu
Mas é fodido
E está-me a deixar triste
Porque eu não posso ficar contigo
Ficar contigo
Ficar contigo
Menina, eu não posso ficar contigo

Relembrando como as coisas eram
E como nós nos amávamos tanto
Querias ser a mãe dos meus filhos

E agora é só adeus
Põe as tuas mãos nas minhas mãos
E anda comigo
Nós encontraremos outro final
E minha cabeça
Estará no ombro de qualquer pessoa
Porque eu não posso ficar contigo
Ficar contigo

Ficar contigo
Menina, eu não posso ficar contigo
Porque tu não estás aqui, tu não estás aqui

Menina, eu não posso ficar contigo
Porque tu não estás aqui, tu não estás aqui

Ainda apaixonado por ti

Can't be with you / No need to argue / Cranberries / 1994

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Estarão todas as relações condenadas?

Depois de reencontrar um casal que já não via há bastante tempo, dei por mim a refletir se passados uns quantos anos, todas as relações se transformam naquilo que eu observei. É verdade que também podemos sempre ver a evolução das coisas que se passaram connosco, nas nossas próprias relações, e devemos sempre retirar daí ensinamentos para o futuro, mas quando somos parte interessada é sempre diferente porque nunca temos a mesma distância e a mesma imparcialidade de quem vê as coisas de fora. Enquanto que, quando olhamos de fora, para as outras pessoas, conseguimos sempre ver o quanto as coisas mudaram - ainda mais se não estivermos com elas durante bastante tempo como foi o caso - e ver como há pequenas coisas que mudaram. De repente, uns anos sem estar com estas pessoas, e quando as reencontramos, essas pequenas coisas saltam logo coisas à vista porque são demasiado evidentes.

As constantes implicações, algum desdém, o deitar o outro abaixo, a constante competição, como querendo mostrar que eu-é-que-tenho-razão, e as coisas acontecem por-tua-culpa. E nada disto  era visível no passado. A própria linguagem não verbal muda. A forma como se comunica com o corpo. As mãos dadas, o caminhar abraçado, ou por outro lado o caminhar cada um para seu lado, desligados. Até nos afetos, um beijo de quando em vez, os pequenos carinhos, o olhar cúmplice e as conversas telepáticas em que parece bastar olhar nos olhos do outro para se saber o que ele está a pensar. De repente ainda é evidente a cumplicidade, mas as coisas são já substancialmente diferentes do que eram antes. 

E o que é que afinal acontece para que as coisas mudem e as pessoas chegarem a este estado de coisas? É que sinceramente não me pareceu  uma coisa muito saudável. Parece-me cansativo e desgastante. E até frustrante. 

E isto deixou-me um pouco triste.
Há quem diga que eu sou um romântico. "Tu não és deste mundo" diziam-me recentemente. Talvez não seja mesmo deste mundo, pois eu ainda sou da opinião, que quando nos entregamos a alguém, e sentimos "aquilo", isso é para toda a vida.


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E são estas relações que conhecemos há mais tempo, em que as pessoas estão juntas há mais anos, são esses exemplos que nos levam a acreditar que sim, que é possível as coisas darem certo "para sempre". Em tempos também eu fui esse exemplo para os outros. Depois as coisas acabam e toda a gente fica como que em choque, pois mais um casal "perfeito" deixou de o ser. 

E foi por isso que não gostei de ver o que vi, porque nós queremos que esses exemplos sobrevivam. 
Eu não sou nenhum especialista em relações, se o fosse certamente não seria o único solteiro da minha rua. Ou talvez seja mesmo especialista - olhando por outra perspetiva - por nunca me ter casado! Ou na verdade, talvez uma coisa não tenha nada a ver com a outra, até porque numa relação, nós só temos o poder de decisão de 50%, e isso é muito pouco, para que, mesmo um especialista consiga levar as coisas a bom porto. 

Mas eu gostaria de acreditar que se hoje iniciasse uma relação, e daqui por dez anos ainda estivéssemos juntos, quero acreditar que as coisas não estariam assim. Nós achamos que connosco é sempre diferente não é?
Mas eu gostaria de acreditar que continuaria a passear de mão dada tranquilamente, sempre juntos, e não como um casal Taliban, em que andam separados por dez metros de distância. Quero acreditar que nunca deixaria de ser carinhoso, e que nem deixaria de surpreender a outra pessoa, com um abraço apertado, vindo sabe-se lá de onde. E essencialmente gostaria de acreditar que o brilho dos meus olhos nunca se desvaneceria sempre que olhasse profundamente nos olhos da tal pessoa.

Talvez seja por eu querer ainda acreditar nestas coisas que eu não seja mesmo deste mundo. Talvez seja por isso, por ser de outro mundo que continuo sozinho. Ou talvez seja só porque hoje em dia todas as relações estão condenadas. 

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Espero que alguém receba a minha...




Só um náufrago, uma ilha perdida no mar
Mais um dia solitário, ninguém aqui além de mim
Mais solidão que qualquer homem poderia suportar
Resgata-me antes que eu entre em desespero
Vou enviar um SOS ao mundo
Espero que alguém receba a minha
Mensagem na garrafa, yeah
Um ano se passou desde que eu enviei minha nota
Mas eu devia ter suspeitado desde o início
Só a esperança me pode manter inteiro
O amor pode consertar a tua vida, mas
O amor pode partir-te o coração
Vou enviar um SOS ao mundo
Mensagem na garrafa, yeah
Saí pra andar esta manhã, não acreditei no que vi
Cem biliões de garrafas chegaram ao litoral
Parece que não estou só em estar sozinho
Cem biliões de náufragos à procura de um lar
Vou enviar um SOS ao mundo
Mensagem na garrafa, yeah
Enviando um pedido de socorro

Message in a botle / The Police (versão de Machine Head) 1979