terça-feira, 30 de junho de 2015

Aceitar

Metade de 2015 chega agora mesmo ao fim. 

Na verdade eu nunca espero nada sempre que um novo ano se inicia. Nunca faço votos, nunca espero nada de bom ou de mau, vivo um só dia de cada vez, sem grandes projetos futuros. Danço unicamente a música que o destino toca. Mas neste meio ano já muita coisa me aconteceu de uma só vez, se calhar demasiado para uma pessoa só. Mas se calhar teria de ser assim, teria de passar por tudo isto por algum motivo.

A ilusão, a angústia, o medo, o sofrer por antecipação, o encantamento, a culpa, a extrema tristeza, a extrema felicidade, a culpa, a revolta, o choque. Estes meses de 2015 têm sido um Adamastor de violentas emoções, tudo ao mesmo tempo.

Dizem-me que preciso aceitar, que é aqui que estou a ganhar a minha próxima vida. Não duvido que assim seja, tenho a humildade de aceitar as palavras de quem é muito mais sábio que eu. Mas eu nunca fui bom a aceitar o que de menos bom me acontece. Luto e resisto, mas sofro horrores, revolto-me, pergunto-me "porquê eu? que grande mal fiz para merecer isto"? Prendo-me, sou obsessivo, fico a reviver as coisas até ao último detalhe, pergunto-me se poderia ter feito diferente, se poderia ter feito melhor, para que as coisas tivessem acontecido de outra forma. Não esqueço, não me consigo libertar, não liberto os outros da minha mágoa. 

Talvez nunca tenha sido bom a aceitar porque não sou de me resignar, e aceitar é como desistir de lutar. Não sou de dar a outra face e entre a espada e a parede, certamente que não vou aceitar de bom grado a parede, e vou a escolher a espada. 

Mas talvez quando já nada dependa de nós, talvez aceitar seja o único remédio. Talvez aceitar a nossa condição seja o princípio da nossa redenção. 

Não foi uma metade de ano de sonho, mas também teve momentos únicos, irrepetíveis, mas talvez tudo isto tenha sido parte de uma grande aprendizagem. Talvez eu deva estar grato a tudo o quanto me aconteceu, quer o muito bom, assim como o muito mau, e serão sempre tempos para recordar para sempre. E quem sabe, talvez um dia eu aceite, nem que seja numa próxima vida.

domingo, 28 de junho de 2015

Os leitores fantasma

A ideia de criar este blogue, surgiu, depois de ter criado os outros dois, que abordam temas muito específicos, da vontade de escrevinhar as parvoíces que me vão passando pela cabeça. Se há gente a escrever meia dúzia de patacoadas em jornais e ainda por cima a ser paga por isso, por que raio eu, um ilustre desconhecido por não posso escrever as minhas idiotices, ainda por cima num sítio da internet onde ninguém as irá ler? 

"Onde ninguém as irá ler". É mesmo isso. Se não partilhamos porque não estamos nas redes sociais, se ninguém sabe, ninguém vai logicamente ler, a menos que alguém aterre aqui de para-quedas, por mero acaso, devido a uma pesquisa que fez no Google. E existem pessoas, gente que escreve bem melhor que eu, ou que têm coisas bem mais interessantes para dizer, que desiste dos seus blogues porque não têm visualizações, parecendo que sentem necessidade da aprovação alheia para se sentirem incentivados a continuar a escrever. Se assim fosse há muito que eu teria deixado de escrevinhar aqui, porque ninguém lê este blogue desinteressante, e a prova é que não tenho um único seguidor! Mas nós devemos fazer as coisas por nós, simplesmente porque nos dão prazer, nem que seja só porque nos apetece, e não para agradar aos outros ou alimentar o ego. 

Ainda assim, passava agora os olhos pelas míseras visualizações, e achei curioso que o distrito que mais visitou por este blogue, é Setúbal (Almada?) e eu nem sequer conheço ninguém desse distrito, mas segundo a estatística fizeram-no 324 vezes! 

Quem serão estas pessoas que perdem o seu tempo a ler as parvoíces que eu escrevo?! Isto deixa-me um pouco curioso... Têm aí os comentários disponíveis se vos apetecer responder ;)

sábado, 27 de junho de 2015

Simplesmente a ficar mais velhos

Os dias vão passando, os meses vão passando, os anos vão passando. Subitamente olhamos de relance para o espelho e "mas estarei a ver bem"? Assim de relance parece que os cabelos loiros e castanhos, vão tomando uma tonalidade acinzentada. E nesta corrida acelerada de todos os dias, quase nem temos tempo para nos dar conta que estamos a envelhecer.... 

E eu estou em crer que só nos damos mesmo conta do quanto envelhecemos, quando encontramos alguém que já não víamos há muitos anos. "Como ele está velho" penso. E isto provavelmente é o que pensam de nós, apesar de mantermos o mesmo número das calças que tínhamos aos vinte anos, de não estarmos carecas, bem pelo contrário, nem termos uma barriga de quem parece estar grávido de sete meses. Quase ninguém acredita quando dizemos a idade que temos. Na CP perguntam-nos se temos menos de vinte e cinco anos, e até quem nos conhece recentemente e vê fotografias nossas antigas, nos dizem que estamos exatamente igual a quando tínhamos vinte anos. Pois pois! Agradecemos o elogio, mas no fundo sabemos que não é bem assim. 

Mas as coisas vão mudando aos poucos, e não é só no número de cabelos brancos. De repente parece que entramos numa segunda puberdade. Se depois dos dez anos nos começam a aparecer os pêlos nos genitais, axilas e uma penugem na cara, depois dos trinta começamos a reparar em pêlos em sítios onde antes lá não estavam, ou então os pêlos do nariz que teimam em crescer para fora do seu lugar!

Também com o tempo a nossa perceção das coisas vai-se modificando. Quando corríamos e jogávamos à bola no recreio da escola primária, aquilo parecia-nos um imenso espaço que nunca mais acabava. Muitos anos depois, vamos lá à mesma escola votar, e descobrimos que aquele imenso espaço encolheu, pois parece muitíssimo mais pequeno. Mas não, o espaço é o mesmo, nós é que ficamos maiores. 



E começamos a olhar em volta e ver o mundo com outros olhos. De repente aquela gente das universidades, que quando éramos miúdos achávamos muito adultos e misteriosos debaixo daquelas vestes negras, passamos a olhar para eles, como uma uma espécie de criancinhas do infantário, simplesmente a fazer das ruas recreio, gente já de maior idade mas que insistem em passar por criancinhas em corpos de adultos.

De repente passamos a saber coisas que o pessoal de vinte anos não sabe, não passou por essas vivências, não faz a mais pequena ideia do que estamos a falar. 

Outra vezes ficamos muito surpreendidos, como é possível que agora as crianças também conduzam? Será que a lei mudou e não sabemos? Uma e outra pessoa que não parecem ter mais de quinze anos passam por nós a conduzir carros, muitas vezes grandes máquinas até!

De repente dou conta que começo também a reparar em mulheres com idades que não reparava antes. Se antes até reparava em adolescentes já com corpinho jeitoso para apanharem umas boas palmadas, subitamente as mulheres da minha faixa etária, mesmo que por vezes acompanhadas de filhos crescidos pela mão, passam a entrar no nosso radar. E a modelo da moda, que aparece todos os dias na capa do jornal-escarro-mais-lido-do-país, parece-nos uma criança, mal acabada de desmamar a brincar às poses provocantes.  

Nós não estamos a mudar, estamos simplesmente a ficar mais velhos.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

A dor não vai parar

Uma semana para ver o filme Magnolia. Vi-o assim aos bocadinhos, antes de dormir, ou ao levantar, mais ou menos como quem come um pedacinho de chocolate todos os dias, até finalmente acabar a tablete. O filme mostra-nos um dia importante na vida das várias personagens, que se vão conhecer fruto de meros acasos, e como porão fim às suas frustrações e aos seus conflitos interiores, simplesmente falando a verdade e mostrando como se sentem acerca disso. 



Um diálogo:

Alguma vez saiu com alguém e em conversa mentiu, pergunta atrás de pergunta? Para dar ares de quem tem muito estilo, ou para se fazer passar por melhor do que é, ou mais esperto, mais fixe. E acabou por... Não é realmente mentir, mas não contou a história toda. 

Isso é natural. Quando duas pessoas saem juntas, ou assim, querem impressionar-se uma à outra. Ou têm medo de dizer alguma coisa que as faça cair em desgraça junto da outra. 

Então já fez isso? 
Eu não saio muito. 
Porquê?
Nunca tinha encontrado ninguém com quem me apetecesse sair. 
Aposto que diz isso a todas as mulheres!
Não.... não.
Quer fazer um acordo comigo?
O que eu disse à pouco, sobre as pessoas terem medo de dizer certas coisas, de não terem coragem de dizer aquilo que é verdade...Não fazer...Não fazer aquilo que talvez já tenhamos feito antes. 
Façamos esse acordo. 
Eu conto-lhe tudo e você conta-me tudo e talvez possamos superar as porras merdas e tretas que lixam os outros.

Uma citação:

"Podemos cortar com o passado, mas o passado não vai cortar connosco"

E uma cena especial, quando todas as personagens, separadamente, vão cantando a música Wise Up de Aimee Mann:



O amor é o que pensaste
Quando nele mergulhaste
Tiveste o que pediste
Embora mal o possas tolerar
Embora já tenhas percebido
Que a dor não vai parar
A dor não vai parar
A dor não vai parar

Estás muito certo
Que existe um tratamento
E que finalmente o encontraste
Pensas com os teus botões
Que basta uma dessas poções
Que fazem um tipo encolher
Até quase às ocultas viver
Mas a dor não vai parar
A dor não vai parar
A dor não vai parar
Até que consigas espertar

Faz uma lista do que há a fazer
Antes de poderes partir
Porque a dor não vai parar
A dor não vai parar
A dor não vai parar
Até que consigas espertar
Não, a dor não vai parar
Até que consigas espertar
Não, a dor não vai parar
Bem te podes resignar

Filme Magnolia - Artista Aimee Mann - Música Wise up - 1999

(A tradução apresentada é a que aparece na legendagem do filme)