terça-feira, 16 de setembro de 2014

Eu sou mais info-excluído que tu

Fim-de-semana passado, mais um encontro com alguém desconhecido, fruto de uma troca comercial de um conhecido sai-te da especialidade. Ao longo dos anos são já centenas os encontros deste tipo que tive, e nunca sabemos quem nos sai da rifa do outro lado. Desta vez saiu-me um casal muito simpático, um pouco mais velho que eu, com quem, como quase sempre, acabei por ficar um pouco (demais) à conversa.

Conversa vai conversa vem, e eu digo que devo ser o último português sem Facebook/Twitter, ao que o senhor contrapõe:

- Mas você não me ganha. Eu não tenho telemóvel!

Mas pensando bem, também eu hoje poderia não ter telemóvel. Não deixa de ser curioso que eu em tempos afirmava convictamente, que também nunca havia de ter tal coisa, até que, e nunca devemos dizer nunca, fui aterrar no maior fabricante mundial da coisa. E se ainda resisti durante mais de um ano, depois começou a tornar-se complicado resistir por dois motivos. Por um lado era o chefe que me impelia a ter uma coisa dessas, pois às vezes poderia ter de me ligar (podia sempre escrever-me uma carta ou então fazer sinais de fumo!) por outro, era viver e respirar radio-frequência oito horas por dia (quando não eram dez ou onze e sábados também). 

"Litle children" (Pecados íntimos 2006)


Por estes dias, na cantina, dois colegas de trabalho, um explicava ao outro, o funcionamento básico do novo telemóvel-bugiganga-nova-maravilha-que-só-falta-tirar-cafés-e-dar-orgasmos, e afirmava o entendido "também ainda há uns meses dizia que não precisava nada de uma coisa dessas, mas depois quando temos é que vemos o jeito que isso dá". 

Caro colega, tenho para mim que é mais ao contrário, é quando deixamos de ter as coisas que nos apercebemos que afinal elas são completamente supérfluas, dispensáveis e não nos fazem falta nenhuma. É precisamente quando deixámos o telemóvel em casa, que nos apercebemos que o nosso mundo não deixou de existir, continua tudo no mesmo sítio, e afinal nem nos fez falta nenhuma, porque se calhar ninguém nos telefonou ou mandou mensagem-super-urgente-a-precisar-de-resposta, até porque as urgências são no hospital.

E isto leva-me à questão da televisão. Desde janeiro que deixei de ter e não sinto falta absolutamente nenhuma. E a propósito meu caro senhor, você não tem telemóvel mas eu não tenho televisão, ainda assim quer-me parecer que sou eu a ganhar em info-exclusão!

Sem comentários:

Enviar um comentário