domingo, 31 de agosto de 2014

Manda quem menos se interessa...

Há uns meses partilharam comigo um artigo sobre algumas verdades inconvenientes acerca das relações modernas, e logo no primeiro ponto referia que, quem menos se interessa é quem manda. E é verdade. E estou em crer que isso é tão válido não só para as relações de afeto (amor, sexo ou seja lá qual for o interesse), como para tudo o resto no que à socialização entre humanos diz respeito. 

Dificilmente numa relação as coisas estão equilibradas, até porque não há duas pessoas iguais, que demonstrem, gostem ou amem da mesma forma. E começa logo pelo início, e já Eça dizia que "há sempre um que ama e outro que se deixa amar". E quem menos se interessa manda sempre. E manda, porque passa sempre a mensagem, ainda que teoricamente, que não precisa tanto do outro, e que o outro estará mais  preso, mais dependente.

O mesmo se passa até no sexo. Um dos dois pode estar sempre pronto para ir aos treinos e gostar de transpirar bastante, mas se o outro não está para aí virado, tem duas alternativas, ou vai treinar e suar sozinho, ou azar, não treina de todo. Mas quem não se interessa, não manda só na frequência dos treinos, manda até no tipo de exercício. Se alguém se lembra de fazer um exercício diferente, mais exigente ou diferente do habitual, ou convidando por exemplo outras pessoas que gostem do mesmo desporto para se juntarem à prática desportiva, rapidamente os planos podem ir por água abaixo se o outro acha que isso já é inovação desportiva a mais.

Também nas amizades manda quem não se interessa tanto.Também nestas situações há sempre duas opções, ou andar atrás dos outros, comprando vontades, quase como quem mendiga uma amizade que já só funciona num sentido, ou então invertem-se as coisas.

Mas tudo tem um reverso da medalha, quantas vezes a caça vira-se contra o caçador? Quantas vezes, quem não se interessava, depois já torce as orelhas. Ignorar os olhinhos que a gordinha do liceu fazia, e depois, anos mais tarde passar por ela, boa com'o milho... ah pois! Pode-se sempre correr atrás, mas por certo irá-se descobrir que já anda a treinar com outro qualquer!

Também quem não se interessa e corta-se sistematicamente aos treinos, pode ir mandando, mas só até um dia, em que fica com as trouxas à porta, ou então, ir continuando a mandar, mas com um belo enfeite na cabeça! E assim ficam todos felizes, quem pensa que manda pela indiferença, quem se deixa mandar e as faz pela calada, e claro, a terceira pessoa que aproveita o desinteresse dos outros em benefício próprio.

Mas olhando para esta história do (aparente) desinteresse, no fundo, hoje em dia parece que andamos todos a jogar, quer-se uma coisa mas dá-se a entender que não, há que se fazer de difícil. E agora todos querem ser aquele que se interessa menos. Eu devo ser uma espécie em vias de extinção. Quando tenho interesse acho que dou sinais evidentes disso mesmo, tal como quando não o tenho. E ainda faço pior, quando gosto acho que o demonstro. Quanto aos que menos se interessam, esses também só mandam até um dia.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Simpatia política à venda

O partido socialista, na pele do seu (ainda) líder, avançou para uma coisa chamada de primárias (por vezes é preciso mudar algo para que tudo fique na mesma) e então agora, pessoas fora da militância partidária podem votar e escolher o candidato a primeiro-ministro socialista, desde que cumpram alguns requisitos e assinem de uma declaração de compromisso. Logicamente que o PS não está interessado em simpatizantes que depois vão votar noutro partido qualquer!

Mas recentemente soube-se que até já há mortos com as cotas pagas, cumprindo os requisitos para votar, do cemitério para a urna de voto! E isto leva-me a pensar que haverá por aí muito desespero, muita ânsia de fidelizar mais simpatizantes, e eu começo já aí a ver uma janela de oportunidades.

Notícia JN

Pois por mim não precisam de ir aos cemitérios pá! Eu estou aqui, prontinho a ser corrompido pelo espírito democrático! Não sou democrata é verdade, nem acredito minimamente nos partidos, e sobre os dois candidatos do PS nem sei qual deles será o pior. Se por um lado o Tozé (in)Seguro, que percebe tanto de estratégia política como eu de lagares de azeite, se por outro, o morenaço oportunista de voz grossa, que agora deu à Costa, agora que o cheiro a poder já tresanda. 

Não acredito na democracia, muito menos nos partidos, que mais não são que instituições corruptas para benefício dos seus rapazes e representam-se a si próprios e não a quem neles vota, mas não tenho de ter escrúpulos e preconceitos. Estou nesta sociedade capitalista tenho de me adaptar, e depois a vida custa cada vez mais a todos, graças precisamente aos partidos, então por que não tentar obter algum proveito da política?

Se numa sociedade capitalista, onde tudo se compra e venda, se até a própria igreja vendeu (e continua a vender) lugarzinhos no céu a troco de boas quantias de dinheiro - parece-me muito razoável que eu possa vender o meu voto. Se já em tempos, um orçamento de estado passou por troca com um queijo Limiano, no fundo aqui trata-se de uma troca direta, e isto sim é aproximar os políticos dos eleitores!

Não sou esquisito, estou aberto a propostas, da esquerda à direita, passando pelos radicais e extremistas do extremo-centro, considerarei qualquer boa proposta. Mostrem-me as vossas verdadeiras convicçõe$ política$ que eu em troca dar-vos-ei o meu voto!  

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Música no trânsito - Mas quando você vem eu fico melhor

Quarta semana de trabalho. Depois de algumas mudanças no percurso, escrupulosamente estudado por forma a fazer o mínimo de quilómetros possíveis e limitar o consumo de combustível, já faço o percurso de 25Km em piloto automático, ainda assim, descobrindo novas coisas na paisagem.

Mas começa a ser rotineiro. Cruzo-me todos os dias pelas mesmas pessoas, a mesma miúda de cabelos encaracolados e óculos de massa na paragem do autocarro das 8h15; a mesma estrada em empedrado; as mesmas gincanas por entre as tampas de saneamento; os mesmos sinais vermelhos, os mesmos limites de velocidade; e os mesmos velhotes à porta do café, do mesmo cruzamento, às 8h46 em ponto.  

Saltando entre o CD e a rádio, em dois dias seguidos, mais ou menos pela mesma hora, repetiu a mesma música, palavras ditas num português com sotaque, que me ficaram no ouvido. 


 

 Banda do Mar - Mais ninguém - 2014

domingo, 10 de agosto de 2014

Feira cada vez mais capitalista e menos medieval

Há muito tempo, que todos os anos que me desloco à romaria que é feira medieval de Santa Maria da Feira. Fruto da proximidade geográfica (30Km), sempre lá fui, quase religiosamente, acompanhado ou até sozinho, muitas vezes vários dias até, dos dez dias que fazem parte do evento e que se realiza sempre no início de agosto.

Mas cada vez mais sinto o encanto a desvanecer-se. Muito tem mudado desde que a feira se voltou a realizar, e arrastou atrás de si, um verdadeiro roteiro de feiras medievais espalhadas por todos os cantos do país. No início, a coisa era mais rigorosa, começando a "viagem medieval" logo na questão do dinheiro. As transações dentro do recinto da feira eram feitas com o recurso a dinheiro da época, ou seja, tínhamos de trocar os Escudos e depois os Euros, por este dinheiro "oficial" da feira. O próprio rigor era maior, a forma como os vendedores estavam, e a ausência de bugiganças eletrónicas à vista. Hoje em dia parece-me que o rigor se virou para a exploração do visitante.


Aproveitando a onda da desculpa da crise, que é desculpa para tudo e mais alguma coisa, principalmente no toca a explorar as pessoas, a organização camarária, dez anos depois de entradas gratuitas, decidiu passar a cobrar entradas, através e bilhetes diários ou pulseiras que dão direito a estar lá todos os dias do evento. Se no primeiro ano, se falou num valor simbólico, a verdade é que, lentamente esse valor tem aumentado todos os anos. Mas o que me parece é que, ironicamente, apesar do visitante pagar cada vez mais, o que a feira tem para oferecer em troca, é cada vez menos.

Certa vez em conversa com alguém lá da câmara, disseram-me que era impressão minha, que houvessem agora menos barracas de vendedores. "Temos uma lista de espera muito extensa". Pois é, mas não pude deixar de reparar, que uma conhecida minha, que todos os anos por lá estava com a sua loja, este ano, como já me tinha dito há uns meses, este ano não iria lá estar, e naquele mesmo espaço, este ano não estava lá ninguém. Onde é que está então a "extensa lista de espera" de pessoas a aproveitar uma vaga?

E não é só impressão minha, de facto, há menos gente a vender que há uns quantos anos, em que estava tudo muito aproveitado, não havendo quase espaços livres. Acho que até para as bruxas o negócio não vai bem, pois são cada vez menos as tendas de adivinhação que por lá se vêem!


O que eu acho é que, se é para se cobrar uma entrada - além de cobrarem os parques de estacionamento, as entradas em vários eventos dentro do recinto e da entrada no castelo - acho que o evento teria de oferecer mais e melhor, e não o oposto. E é lógico que, se uma família tem de pagar para deixar o carro, tem de pagar os vários bilhetes de entrada no recinto, tem de pagar para visitar o castelo ou para ver um ou outro espetáculo, e têm ainda de comer, parece-me lógico que a carteira comece a ficar curta para fazer compras. É verdade que por lá encontramos coisas que não encontramos em mais lado nenhum, mas infelizmente para quem vende, as pessoas consolam mais os olhos; do que desembolsam os patacos da carteira.

E uma feira não é nada mais nada menos que trocas comerciais, hoje como outrora, mercadores, que vinham de todos os lados para vender ou trocar os seus produtos. E parece-me parvo, colocar portagens para o livre acesso das pessoas, limitando assim os tostões que poderiam gastar.

Acho que ninguém tem dúvidas que esta é a verdadeira feira medieval do país, quer pela dimensão, como até pela duração mas acho que a organização não vai pelo caminho certo. Às vezes as pessoas não se contentam em colher um ovo de ouro que a galinha põe todos os dias, e levados pela ganância, decidem então matar a galinha na esperança de enriquecer ainda mais, e isso sinceramente pode não ser muito inteligente.

Conversas de escritório

A porta da cantina estava entreaberta, e enquanto almoçava sozinho, ouvia as conversas que ecoavam vindas lá do escritório... Conversas mais ou menos banais, de gente inteligente e culturalmente acima da média. Mas o que me chamou mais a atenção, foi quando alguém (um homem) se sai com a ideia ou estudo, ou que leu não sei onde, que um homem a chegar aos quarenta ("alto isto interessa-me!") está no momento certo em que pode captar a atenção de mais mulheres.


A teoria é a de que, nunca como agora, um homem perto dos quarenta anos, é um alvo apetecível para mulheres mais novas, na casa dos vinte, que gostam ou se sentem mais atraídas por faturarem homens mais velhos; e por outro lado, têm já uma certa maturidade para mulheres um pouco mais velhas e que não se importarão nada de serem cortejadas por homens mais jovens que elas (que não crianças); e claro, um homem de quarenta anos, tem sempre o mercado politicamente correto, do mulherio da sua idade.

Olha que não está mal visto não senhor. Talvez os cabelos brancos me consigam trazer algumas vantagens....ou então não!

terça-feira, 5 de agosto de 2014

É que um carinho às vezes cai bem

A caminho do trabalho, entre a música "satânica" do CD e o noticiário da TSF, em que ainda se continua a falar do banco bom e do banco mau, (só falta mesmo saber onde está o BES, o Vilão!) - uma música daquelas bem deprimentes - e as grandes músicas saem sempre de uma grande dor de corno não é?! música que me ficou na cabeça até agora que o dia está a acabar. 

E de facto às vezes cai e sabe tão bem um carinho, porque quem gosta, preocupa-se e cuida de nós. 


Sozinho - Caetano Veloso - 1998 

domingo, 3 de agosto de 2014

Desemprego: o fim do calvário e o princípio de outra coisa qualquer

Passaram mais de três anos, e muito poucas entrevistas depois (apesar dos muitos currículos enviados) e estou de volta ao mercado de trabalho. Estar desempregado não é fácil, e não o é unicamente por um motivo: a falta de dinheiro. Não fosse o problema do dinheiro, e esta sociedade assentou as suas bases na escravatura do dinheiro e do trabalho em prol de outrem, e quem não o tem, ou vai pedir, ou rouba, ou monta uma tenda num qualquer terreno baldio e planta para comer. Não tendo dinheiro, as pessoas não têm direito a nenhuma dignidade, principalmente se tiverem carro e casa, se não tiverem ainda podem receber um qualquer apoio da segurança social. Como eu tinha um carro e uma casa, em caso de fome, a segurança social manda-me comer os faróis do carro, ou as grades da varanda; deve ser por isso que quem tem uma casa e/ou um carro não tem apoios neste país depois de ter sido roubado na duração e valor do subsídio de desemprego para o qual descontou durante mais de uma década.

Mas sejamos honestos, não fosse esse pequeno "pormaior" e estar desempregado seria melhor coisa do mundo! Temos tempo, e é sempre importante termos tempo, apercebe-mo-nos até da mudança das estações; é tão desagradável quando em pleno inverno, saímos de casa de noite, e é à noite que regressamos e nem sequer vemos o sol. E é assim que se desperdiça toda um vida inutilmente. Sim claro, a trabalhar em prol de outrem, para ter o tal dinheiro para termos direito a poder existir. 
E temos todo o tempo do mundo. Em três anos relvei as extensas áreas em volta da minha casa, plantei, trabalhei e tenho agora um espaço aprazível. Se estivesse a trabalhar nunca que o conseguiria ter feito ao fim-de-semana, e se fosse a pagar, pagaria rios de dinheiro pelo trabalho que eu mesmo fiz.

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Mas é a falta do dinheiro que nos complica a vida. É pela falta de emprego e consequente falta de dinheiro que nos obriga, por um lado a conter e diminuir as despesas - cancelam-se serviços supérfluos por exemplo, pois "quem não tem dinheiro não tem vícios" - e por outro a perceber o que podemos fazer para o arranjar. E é então que se vende um monte de coisas que já não precisamos, fazem-se biscates, e faz-se, eu pelo menos fiz, o que fosse preciso para ganhar uns tostões; sim claro, nada ilegal, até porque roubar é ilegal! Isto apesar de ironicamente "toda a propriedade privada vir de um roubo".

Até que três ou quatro entrevistas depois, e tendo resistido ao alerta deste governo de canalhas que nos incentivava a emigrar para baixar o desemprego, lá conseguimos quase o milagre de conseguir um emprego. Um dia antes de começar, a minha ansiedade é tal, que acho que tenho a mesma motivação de um condenado à morte no dia anterior à execução. Sempre fui ansioso e masoquista a sofrer por antecipação, não é agora com esta idade que as coisas irão mudar. Inicia-se uma nova fase, novas coisas virão.